Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Está na hora de reconhecer: Aécio Neves não sabe perder, mas Dilma Rousseff parece que não está sabendo ganhar. O patético senador tucano tenta, por todos os meios, anular sua derrota eleitoral. Em sua ânsia em perpetuar um processo já concluído, apela para estratégias golpistas, tentativas de jogar a política para os tribunais, aliança com a escória do conservadorismo e uma agressividade obsessiva a tudo que venha do governo.
Mas a derrota seria ainda mais exemplar se a presidente também se libertasse da eleição e passasse a governar de forma mais soberana e menos presa à crítica de quem não merece atenção. Assumir a vitória é uma operação altiva, que não precisa de assentimento dos derrotados. Governar deve ser uma tarefa universal, democrática no acesso e republicana no exercício.
Uma disputa eleitoral, muitas vezes, é uma operação mais psicanalítica que política. Os candidatos não se apresentam ao público por seus programas e ideias, mas pelas possibilidades de prazer que oferecem ao eleitor. O cidadão parece votar mais no projeto de realizar desejos inconscientes do que numa proposta de sociedade. Trata-se de uma corrida em busca do gozo diante da imagem criada para o candidato. Os marqueteiros atilados sempre souberam disso.
Assim, quando um candidato vence uma corrida eleitoral, ele está dando ao cidadão que votou nele não o “melhor produto”, mas a possibilidade de manter-se em estado permanente de satisfação. Como a realidade não rima com as promessas, logo se abre a perspectiva da frustração inevitável. Faça o que fizer, um político eleito é sempre inferior ao candidato. A vitória é uma espécie de convocação do estado de realidade. Como o mercado dos desejos é sempre fadado ao fracasso, o eleitor se decepciona em pouco tempo. A dinâmica das pesquisas de aprovação dos governos comprova essa tese. Quem tem Freud não precisa de Ibope.
Se há uma psicologia do eleitor, o mesmo princípio vale para os políticos. Passado o período eleitoral, a saída mais saudável é deixar de lado o estado de campanha, com suas simplificações inevitáveis, e partir para a realização do projeto aprovado nas urnas. É preciso saber perder e, de forma madura, organizar a oposição responsável e articular forças sociais discordantes: é o lado positivo do conflito que valoriza a democracia. Mas é preciso saber vencer e avançar além de objeto de gozo para o papel de sujeito político. Governar não é uma dádiva, mas uma construção.
Em várias ações, sobretudo na área econômica, o atual governo tem se esforçado mais para atender os adversários que os aliados históricos. Mesmo assim, não consegue agregar novos apoios entre o setor financeiro e seus cães de guarda na imprensa, nem ganhar confiabilidade entre sua turma de sempre.
Com isso vai se isolando politicamente e criando uma cisão preocupante: o apoio se localiza mais no campo institucional que programático. A defesa da democracia parece às vezes descolada da aposta na condução das políticas. Além disso, não se vê um esforço determinado em defender a vertente popular e participativa no âmbito das ações de governo. Há uma denegação na área econômica que é reforçada pela verticalização no campo político.
Neste cenário, a emergência das frentes populares em defesa da democracia é um sinal de fortalecimento da saúde política brasileira. O povo, por meio de seus movimentos organizados, mostra que sabe que ganhou e que o tempo está passando. E por isso não pode mais perder tempo e vai tocar adiante seu projeto de sociedade, com dinâmica própria e os instrumentos de luta que dispõe. É uma lição e tanto.
Está na hora de reconhecer: Aécio Neves não sabe perder, mas Dilma Rousseff parece que não está sabendo ganhar. O patético senador tucano tenta, por todos os meios, anular sua derrota eleitoral. Em sua ânsia em perpetuar um processo já concluído, apela para estratégias golpistas, tentativas de jogar a política para os tribunais, aliança com a escória do conservadorismo e uma agressividade obsessiva a tudo que venha do governo.
Mas a derrota seria ainda mais exemplar se a presidente também se libertasse da eleição e passasse a governar de forma mais soberana e menos presa à crítica de quem não merece atenção. Assumir a vitória é uma operação altiva, que não precisa de assentimento dos derrotados. Governar deve ser uma tarefa universal, democrática no acesso e republicana no exercício.
Uma disputa eleitoral, muitas vezes, é uma operação mais psicanalítica que política. Os candidatos não se apresentam ao público por seus programas e ideias, mas pelas possibilidades de prazer que oferecem ao eleitor. O cidadão parece votar mais no projeto de realizar desejos inconscientes do que numa proposta de sociedade. Trata-se de uma corrida em busca do gozo diante da imagem criada para o candidato. Os marqueteiros atilados sempre souberam disso.
Assim, quando um candidato vence uma corrida eleitoral, ele está dando ao cidadão que votou nele não o “melhor produto”, mas a possibilidade de manter-se em estado permanente de satisfação. Como a realidade não rima com as promessas, logo se abre a perspectiva da frustração inevitável. Faça o que fizer, um político eleito é sempre inferior ao candidato. A vitória é uma espécie de convocação do estado de realidade. Como o mercado dos desejos é sempre fadado ao fracasso, o eleitor se decepciona em pouco tempo. A dinâmica das pesquisas de aprovação dos governos comprova essa tese. Quem tem Freud não precisa de Ibope.
Se há uma psicologia do eleitor, o mesmo princípio vale para os políticos. Passado o período eleitoral, a saída mais saudável é deixar de lado o estado de campanha, com suas simplificações inevitáveis, e partir para a realização do projeto aprovado nas urnas. É preciso saber perder e, de forma madura, organizar a oposição responsável e articular forças sociais discordantes: é o lado positivo do conflito que valoriza a democracia. Mas é preciso saber vencer e avançar além de objeto de gozo para o papel de sujeito político. Governar não é uma dádiva, mas uma construção.
Em várias ações, sobretudo na área econômica, o atual governo tem se esforçado mais para atender os adversários que os aliados históricos. Mesmo assim, não consegue agregar novos apoios entre o setor financeiro e seus cães de guarda na imprensa, nem ganhar confiabilidade entre sua turma de sempre.
Com isso vai se isolando politicamente e criando uma cisão preocupante: o apoio se localiza mais no campo institucional que programático. A defesa da democracia parece às vezes descolada da aposta na condução das políticas. Além disso, não se vê um esforço determinado em defender a vertente popular e participativa no âmbito das ações de governo. Há uma denegação na área econômica que é reforçada pela verticalização no campo político.
Neste cenário, a emergência das frentes populares em defesa da democracia é um sinal de fortalecimento da saúde política brasileira. O povo, por meio de seus movimentos organizados, mostra que sabe que ganhou e que o tempo está passando. E por isso não pode mais perder tempo e vai tocar adiante seu projeto de sociedade, com dinâmica própria e os instrumentos de luta que dispõe. É uma lição e tanto.
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