Foto: Agnen Teofilovski/Reuters |
"Eu vi a notícia na sexta e corri para cá, imaginei a situação, tinha que ajudar" (Eva Kvanda, moradora da cidade austríaca de Klotsterneuburg).
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Nunca foi tão verdadeira a máxima de que "uma foto vale mais do que mil palavras", embora precisemos continuar escrevendo para contar o que aconteceu esta semana.
Apenas quatro dias separam uma imagem da outra - a solidariedade da indiferença, a vida da morte. Entre quarta-feira e sábado, a tragédia que abalou o mundo transformou-se em renovada esperança. Nem tudo está perdido.
Do retrato pungente do menino sírio morto na praia da Turquia, à emocionante foto dos voluntários austríacos da pequena Nickelsdorf, batendo palmas, fazendo festa e oferecendo comida, ao recepcionar milhares de refugiados escorraçados da Hungria, balançaram nossos corações e mentes.
É por isso que vivo dizendo: nada como um dia após o outro, com uma noite no meio. Vejam o que aconteceu, no relato do repórter Leandro Colon, enviado especial da Folha à Áustria:
"O sábado já escurecia num campo de chão batido na minúscula cidade austríaca de Nickelsdorf quando refugiados e voluntários cumpriam o rito criado na noite anterior: interromperam as atividades para dar uma salva de palmas a mais um ônibus que chegava de Budapeste, na Hungria.
Em 24 horas, Nickelsdorf, que faz fronteira com a Hungria, recebeu pelo menos 5.600 pessoas (a maioria de sírios), mais de duas vezes os seus 1.700 habitantes.
A cidade entrou no mapa da crise de refugiados e migrantes por ser a primeira parada dos que entram na Áustria. Na noite de sexta, o governo austríaco abriu a fronteira para a multidão que fazia a travessia de 170 km a pé desde a capital húngara".
A cena lembrava as diásporas dos refugiados da Segunda Guerra Mundial, encerrada 70 anos atrás. Desta vez, os perseguidos não fugiam da Europa, mas para lá estão indo em busca da sobrevivência das suas famílias. Por ironia do destino, procuram principalmente a Alemanha, que este ano espera receber 800 mil pedidos de asilo de refugiados.
Em 2015, 340 mil pessoas fugindo de conflitos, muitos deles causados pelo fanatismo religioso e por ditadores assassinos, já atravessaram o Mar Mediterrâneo em busca de abrigos seguros. Muitos, como o pequeno Aylan Kurdi, ficaram pelo caminho.
Vão ter que se inspirar nestas imagens os historiadores do futuro ao retratarem como foram estes dias insanos da segunda metade da segunda década do terceiro milênio, com tanta gente ainda morrendo em busca de um lugar para viver.
E pensar que até hoje tem gente discutindo se as fotos do menino afogado deveriam ou não ter sido publicadas nas capas dos jornais da grande imprensa. Como se não vivêssemos num tempo em que bastam alguns segundos para qualquer imagem se multiplicar por milhões na grande rede, não dando a ninguém o direito de ficar indiferente.
Melhor assim. Os voluntários de Nickelsdorf, na Áustria, certamente foram mobilizados pela foto de Aylan inerte na praia de Bodrum, na Turquia.
Discordo do trecho "conflitos... causados pelo fanatismo religioso e por ditadores assassinos". Esses refugiados estão fugindo das guerras do imperialismo e do sionismo, provocadas pelos EUA e seus vassalos europeus e petromonarcas. Essas guerras pouco ou nada têm a ver com religião.
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