sábado, 26 de setembro de 2015

Haddad e a capital do reacionarismo

Por Bepe Damasco, em seu blog:                            

Em artigo recente, lúcido e preciso como sempre, Paulo Nogueira, do Diário de Centro do Mundo, lamentava o fato de o reconhecimento à qualidade da gestão do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tenha vindo de um jornal do exterior. O conservador Wall Street Journal disse que em cidades mentalmente mais arejadas Haddad seria reconhecido como um "visionário urbano."

Mas na capital brasileira do reacionarismo e da intolerância o prefeito é massacrado pela mídia e xingado dia e noite nas rodas das classes média e alta.

E pior: o bombardeio midiático sem tréguas atingiu a imagem de Haddad também em parcela considerável da população mais pobre da periferia, no rastro da criminalização do PT.

Berço da criação do PT e da CUT, São Paulo ainda conta com uma intelectualidade de esquerda de ponta, influente e comprometida com as boas causas do povo, um sindicalismo combativo de vanguarda e movimentos sociais vibrantes.No entanto, especialmente nos últimos anos, é como se um tsunami obscurantista tivesse varrido a maior cidade da América Latina, arrastando consciências e contaminando o espírito das pessoas.

A São Paulo de hoje festeja um político menor como Serra, reelege no primeiro turno um governador cuja irresponsabilidade levou São Paulo a uma calamitosa crise hídrica e faz vista grossa para a roubalheira no sistema de trens e metrôs. Tudo para poupar o PSDB. Para o paulistano, só existe corrupção petista.

Não é à toa que a capital paulista lidera disparado o ranking do número de participantes nas manifestações de coxinhas e fascistas que exibem cartazes e bonecos pregando a morte de Lula e Dilma. Saudosos da tortura e da eliminação física dos adversários, querem a volta da ditadura.

Para Haddad, sobram ataques virulentos. Faz tempo que grandes cidades do mundo como Paris, Roma, Londres, Madrid, Nova Iorque, Amsterdã, Estocolmo e Copenhague investiram na construção de ciclovias, seja para enfrentar o caos urbano causado por número de carros que cresce exponencialmente, seja para aliviar e proteger a camada de ozônio da emissão de dióxido de carbono. Sem falar nos efeitos benéficos para a saúde da prática de exercícios físicos.

Na sua mediocridade e ignorância atávicas, porém, a elite paulistana destila ódio à ciclovia e denuncia sua cor vermelha como uma provocação comunista.

Haddad desbaratou a máfia de fiscais corruptos. Ninguém deu bola.O prefeito pôs em prática um modelo multidisciplinar de abordagem do grave problema do consumo de crack, com base na atenção psicossocial. Passou batido.

Haddad foi crucificado porque pela primeira vez dotou a cidade de uma lei prevendo um IPTU progressivo, cobrando mais dos abastados e menos dos pobres. Apanhou tanto que o Judiciário anulou os efeitos da lei.

Diante dessa situação absurda de intolerância, penso que o prefeito deve se preparar para cair fora dentro de um ano e poucos. Claro que ele tem de ser candidato à reeleição para defender suas realizações e seu legado. Mas é pouco provável que vença, pois os valores da maioria da população do município são incompatíveis com os seus. A maior parte dos habitantes de São Paulo não merece um homem público da envergadura do professor Fernando Haddad. É isso.

Uma vez li um artigo do cronista esportivo carioca Fernando Calazans, no qual ele ao responder os que desmereciam a geração de Zico, Sócrates, Falcão e Júnior por não ter ganho nenhuma Copa do Mundo, fulminou: “azar da Copa do Mundo”. Pois se São Paulo não gosta de Haddad, azar de São Paulo.

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