quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Globo lança Eduardo Cunha ao mar

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Ontem à noite escrevi aqui que Cunha tinha se tornado quase um panfleto contra a oposição “impixista”.

Estava evidente e hoje o império Globo – que segue sendo nossa Roma, mesmo sob césares medíocres – exibe seu polegar voltado para baixo, ordenando sua execução política.

Eduardo Cunha não pode mais presidir a Câmara, proclama em editorial.

O texto, claro, começa com uma chicana: “Independentemente de pedidos de impeachment da presidente, se eles fazem ou não sentido, o princípio da ética na vida pública impõe o afastamento do deputado”,

Pulando o fato de que já escreveram melhor os editorialistas, fica claro que não há independência alguma entre Eduardo Cunha e os pedidos de impeachment.

Antes o todo poderoso carrasco da presidente eleita legitimamente, agora Cunha é o retrato moral do golpismo.

Porque Cunha é a moralidade falsa, a a hipocrisia dos desonestos de sempre, a aura cínica dos selvagens, a afetação dos imundos.

O que mais emblemático que “o Porsche de Jesus (ponto com)”?

Será que tinha um daqueles estúpidos adesivos afirmando que “foi Deus quem me deu”, como se o Senhor andasse preocupado em premiar com carrões os que o louvam da boca para fora? Ou um “eu amo a minha família” expresso em abrir-lhes conta da Suíça com fortunas ilícitas?

O Globo faz o que os tucanos não tiveram coragem de fazer não porque tenha “ética na vida pública”.

Há mais de duas décadas seus repórteres levantaram mais de uma dúzia das mais escabrosas histórias e o jornal dispõe de todo o inventário – judicial, inclusive – de desmandos e desvios praticados por ele.

As contas na Suíça são apenas a cereja fétida sobre o bolo imundo.

Mas tudo o que O Globo sabia saiu sempre de forma esparsa, em surtos.

Muito diferente do que faz com os que lhe desagradam, quando, aí sim, a campanha de mídia é fogo cerrado, sem descanso, sem trégua nem quartel.

Não se pejou em servir-se dele para todos os propósitos reacionários, na redução da maioridade penal, na tentativa de abolir o regime do pré-sal e no financiamento empresarial de campanhas.

Nada do que sabia a fez, inclusive, torcer o nariz aos afagos que Cunha fez ao próprio João Roberto Marinho, em sessão solene na Câmara, para saudar os 50 anos da emissora que nasceu siamesa da ditadura.

E segue hipócrita porque iguala Oposição e Situação na sustentação de Cunha, o que sabe ser falso: Cunha é o que é porque filho do desejo de derrubar Dilma, que se pariu antes mesmo dos resultados oficiais das urnas.

Cunha é um estima na testa do impeachment, e a Globo o sabe.

Mas é também uma marca indelével nela própria e em todos os que, como o PSDB, o Dem e os seus rapazes revoltados, a ele se aliaram pelo golpe.

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