Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Pessoas de bom senso continuam à espera de fatos relevantes capazes de colocar sob suspeita a atuação de Luiz Inácio Lula da Silva no favorecimento de grandes empresas brasileiras com investimentos no exterior.
O caso mais recente, que faz parte do esforço notório para cercar o ex-presidente com acusações criminais que possam justificar a abertura de uma investigação, envolve uma troca de emails em torno da construção de uma hidrelétrica na Namíbia.
Li o material por escrito, no Estado de S. Paulo. Em seguida, vi a cobertura da TV Globo. Em termos concretos, o caso é uma Batalha de Itararé, aquela que não houve - pois o negócio nem se concretizou.
Além de caretas rápidas e insinuações de apresentadores de TV, nada se mostrou que não seja um esforço típico de um líder político interessado em ampliar os negócios de uma empresa de seu país no mercado internacional. A empresa mencionada é a Odebrecht - o maior grupo privado do país, que tem uma presença internacional tão ampla que, muitas vezes, seu faturamento externo é maior do que o realizado no Brasil. Basta lembrar que seu presidente, Marcelo Odebrecht, cumpre uma já longa prisão preventiva na Lava Jato, para entender o esforço para se chegar perto de Lula, sem apoio num fiapo de prova.
A atuação de Lula no mercado sempre foi motivo de orgulho do ex-presidente. Logo depois da posse ele chegou a ser aplaudido pelo grande empresariado quando se comprometeu a atuar como um "caixeiro viajante" dos produtos brasileiros no exterior.
Os documentos apresentados em tom de escândalo apenas mostram que Lula, durante e depois do mandato, não se limitava a fazer proclamações no plano da teoria, mas agia na prática. O esforço para abrir um investimento na Namíbia ocorria num ambiente geral no qual o eixo da diplomacia brasileira, a partir de 2003, passava a priorizar a África. Está errado?
Só não compreende o valor dessas iniciativas quem desconhece a luta encarniçada por cada centímetro quadrado do mercado mundial. Numa economia global onde o setor privado tem um papel importante, seus interesses confundem-se, muitas vezes, aquilo que se identifica como interesse nacional. Aceita-se, como parte inevitável do crescimento econômico, que empresas mobilizem governos de seus países para garantir a defesa de seus interesses. O Brasil já viu isso de perto, seja quando procura espaço em mercados alheios, seja quando seu próprio mercado é alvo da cobiça externa.
Um caso exemplar, dentro do país, envolveu o Projeto Sivam, o Sistema de Vigilância da Amazônia. Empresas norte-americanas e francesas travaram uma luta selvagem por um investimento de US$ 1,4 bilhão, inteiramente financiado pelo governo brasileiro durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso. Apesar do volume do negócio, Brasília decidiu não realizar licitação para escolher do vencedor, abrindo uma guerra selvagem entre serviços secretos dos Estados Unidos e da França, que passaram a monitorar conversas entre concorrentes com autoridades que poderiam influenciar no resultado.
Como lembra Laurez Siqueira em artigo publicado em 2012 no site Carta Maior, prestando depoimento no Senado norte-americano, em 1994, quando a disputa sequer estava resolvida, o diretor da CIA James Woosley reconheceu: "Informamos a Casa Branca sobre tentativas de suborno no caso Sivam. Já beneficiamos várias empresas dos EUA em bilhões de dólares. Muitas nem sabem que tiveram nossa assistência."
Em maio de 1995, um ano depois dessa surpreendente confissão de quem estava diretamente envolvido no caso, o governo brasileiro anunciou o resultado. Ganhou a norte-americana Raytheon. Seis meses depois, ocorreu um novo lance na guerra de espiões. Divulgou-se uma gravação que lançava suspeitas sobre o embaixador Julio Cesar Gomes dos Santos, assessor da Presidência da República, em conversa com um empresário que representava os interesses da Raytheon no Brasil e teve um papel importante no fornecimento de jatinhos para o comitê eleitoral de Fernando Henrique Cardoso.
As denúncias nunca foram esclarecidas nem investigadas a fundo, na época. Não são elas que interessam aqui.
O envolvimento direto da CIA ajuda a mostrar que o presidente Bill Clinton fez uso integral da potência norte-americana para fazer avançar os interesses de uma empresa de seu país. Não poupou nada.
Os laços econômicos criaram laços políticos e vice-versa. Três anos mais tarde, quando o Real quebrou, criando uma crise que ameaçava a reeleição de Fernando Henrique, Clinton abriu os cofres do Tesouro dos EUA para garantir um especialíssimo empréstimo ponte de US$ 40 bilhões que permitiu a FHC segurar o câmbio favorável até a contagem dos votos.
É neste ambiente que se tenta criar um escândalo em torno de uma hidrelétrica que não houve, na Namíbia. Deu para entender, certo?
Pessoas de bom senso continuam à espera de fatos relevantes capazes de colocar sob suspeita a atuação de Luiz Inácio Lula da Silva no favorecimento de grandes empresas brasileiras com investimentos no exterior.
O caso mais recente, que faz parte do esforço notório para cercar o ex-presidente com acusações criminais que possam justificar a abertura de uma investigação, envolve uma troca de emails em torno da construção de uma hidrelétrica na Namíbia.
Li o material por escrito, no Estado de S. Paulo. Em seguida, vi a cobertura da TV Globo. Em termos concretos, o caso é uma Batalha de Itararé, aquela que não houve - pois o negócio nem se concretizou.
Além de caretas rápidas e insinuações de apresentadores de TV, nada se mostrou que não seja um esforço típico de um líder político interessado em ampliar os negócios de uma empresa de seu país no mercado internacional. A empresa mencionada é a Odebrecht - o maior grupo privado do país, que tem uma presença internacional tão ampla que, muitas vezes, seu faturamento externo é maior do que o realizado no Brasil. Basta lembrar que seu presidente, Marcelo Odebrecht, cumpre uma já longa prisão preventiva na Lava Jato, para entender o esforço para se chegar perto de Lula, sem apoio num fiapo de prova.
A atuação de Lula no mercado sempre foi motivo de orgulho do ex-presidente. Logo depois da posse ele chegou a ser aplaudido pelo grande empresariado quando se comprometeu a atuar como um "caixeiro viajante" dos produtos brasileiros no exterior.
Os documentos apresentados em tom de escândalo apenas mostram que Lula, durante e depois do mandato, não se limitava a fazer proclamações no plano da teoria, mas agia na prática. O esforço para abrir um investimento na Namíbia ocorria num ambiente geral no qual o eixo da diplomacia brasileira, a partir de 2003, passava a priorizar a África. Está errado?
Só não compreende o valor dessas iniciativas quem desconhece a luta encarniçada por cada centímetro quadrado do mercado mundial. Numa economia global onde o setor privado tem um papel importante, seus interesses confundem-se, muitas vezes, aquilo que se identifica como interesse nacional. Aceita-se, como parte inevitável do crescimento econômico, que empresas mobilizem governos de seus países para garantir a defesa de seus interesses. O Brasil já viu isso de perto, seja quando procura espaço em mercados alheios, seja quando seu próprio mercado é alvo da cobiça externa.
Um caso exemplar, dentro do país, envolveu o Projeto Sivam, o Sistema de Vigilância da Amazônia. Empresas norte-americanas e francesas travaram uma luta selvagem por um investimento de US$ 1,4 bilhão, inteiramente financiado pelo governo brasileiro durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso. Apesar do volume do negócio, Brasília decidiu não realizar licitação para escolher do vencedor, abrindo uma guerra selvagem entre serviços secretos dos Estados Unidos e da França, que passaram a monitorar conversas entre concorrentes com autoridades que poderiam influenciar no resultado.
Como lembra Laurez Siqueira em artigo publicado em 2012 no site Carta Maior, prestando depoimento no Senado norte-americano, em 1994, quando a disputa sequer estava resolvida, o diretor da CIA James Woosley reconheceu: "Informamos a Casa Branca sobre tentativas de suborno no caso Sivam. Já beneficiamos várias empresas dos EUA em bilhões de dólares. Muitas nem sabem que tiveram nossa assistência."
Em maio de 1995, um ano depois dessa surpreendente confissão de quem estava diretamente envolvido no caso, o governo brasileiro anunciou o resultado. Ganhou a norte-americana Raytheon. Seis meses depois, ocorreu um novo lance na guerra de espiões. Divulgou-se uma gravação que lançava suspeitas sobre o embaixador Julio Cesar Gomes dos Santos, assessor da Presidência da República, em conversa com um empresário que representava os interesses da Raytheon no Brasil e teve um papel importante no fornecimento de jatinhos para o comitê eleitoral de Fernando Henrique Cardoso.
As denúncias nunca foram esclarecidas nem investigadas a fundo, na época. Não são elas que interessam aqui.
O envolvimento direto da CIA ajuda a mostrar que o presidente Bill Clinton fez uso integral da potência norte-americana para fazer avançar os interesses de uma empresa de seu país. Não poupou nada.
Os laços econômicos criaram laços políticos e vice-versa. Três anos mais tarde, quando o Real quebrou, criando uma crise que ameaçava a reeleição de Fernando Henrique, Clinton abriu os cofres do Tesouro dos EUA para garantir um especialíssimo empréstimo ponte de US$ 40 bilhões que permitiu a FHC segurar o câmbio favorável até a contagem dos votos.
É neste ambiente que se tenta criar um escândalo em torno de uma hidrelétrica que não houve, na Namíbia. Deu para entender, certo?
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