Por Róber Iturriet Avila, no site Brasil Debate:
As presentes crises política e econômica no Brasil são profundas e graves. Elas não podem ser explicadas por fatores isolados. Inúmeras circunstâncias se sobrepuseram para que chegássemos ao momento atual.
Contudo, é possível selecionar um marco analítico de mudança: as jornadas de junho de 2013, pouco mais de dois anos atrás. Naquele período, a avaliação da população brasileira à Dilma Rousseff apresentava 93% entre regular e ótimo.
Após as manifestações, houve uma queda abrupta de 30 pontos percentuais a sua aprovação, mesmo que as manifestações não tivessem relação direta com a presidente, uma vez que o objeto de discordância era, inicialmente, o transporte urbano, de competência municipal. A redução de aprovação da presidência da República foi mais oriunda da “percepção” dos fatos do que dos fatos em si.
Os segmentos liberais e conservadores no Brasil foram sagazes em utilizar tal momento de tensão social para desgastar Dilma. A Copa do Mundo, no ano seguinte, teve também uma crítica constante que objetivava transpassar a percepção de que o caos estava instalado no País.
A oposição de frações da sociedade, articuladas nas redes sociais cibernéticas, e os principais veículos de comunicação foram bem-sucedidos em manter a popularidade da presidente em baixa. De outro lado, o governo federal não teve habilidade para reverter tal situação.
No plano econômico, ao final de 2014, houve uma reversão nas commodities, marcada por uma queda acentuada nos preços dos principais produtos da pauta de exportações do Brasil. Na esfera política, a acirrada disputa eleitoral fez aumentar a incerteza.
Face à pressão constante que o governo sofreu de setores mais conservadores e da perda da base de apoio, o segundo mandato de Dilma Rousseff se inicia com uma nova política econômica: redução dos gastos governamentais e elevação da taxa de juros, ambas medidas recessivas, vinculadas a ideias dos opositores. Os efeitos decorrentes são antigos conhecidos: aumento do desemprego, redução do salário real, queda da arrecadação, aumento do gasto com juros, queda do produto, aumento da relação dívida/PIB.
Não pode passar despercebida que a reviravolta da política econômica não foi fortuita. A retórica de que havia “excesso de intervencionismo” era diuturna nos principais canais de comunicação brasileiros.
No intento de findar o ciclo de distribuição de renda e de políticas sociais, a grande mídia não se furtou de apresentar uma constante perspectiva pessimista da realidade, um enfoque em problemas existentes (e crônicos) e, subjacentemente, uma ação despolitizante que desqualifica os governos e os partidos.
A distorção da realidade pouco baseada em evidências quantitativas é também bastante comum, ao confundir, propositalmente, “variações” com “estoque acumulado”, para logo aparecer a falaciosa manchete de “pior em décadas”.
A intenção era clara: enfraquecer o campo político que defende mais distribuição de renda, de riqueza e aprofundamento de políticas sociais.
Obtiveram sucesso, mais uma vez. O governo cedeu e a política econômica atual vai ao encontro daqueles que desejavam reduzir o nível dos salários que haviam “aumentado acima da produtividade” (sic).
Mesmo que a nova política econômica de 2015 aprofunde a tendência recessiva, a redução do crescimento do investimento privado já era observada desde o terceiro trimestre de 2013, logo após as manifestações de junho. Convém observar que justamente nessa fase a ênfase negativa se agudizou.
O papel das expectativas na decisão do investimento é reconhecido por diversos matizes teóricos. John Maynard Keynes, em particular, destaca a capacidade de tais fatores alterarem o emprego: “mudanças de ponto de vista sobre o futuro são capazes de influenciar o volume de emprego” (KEYNES, 1964, p. 4), já o investimento “depende mais do otimismo espontâneo” (KEYNES, 1964, 161).
As alterações econômicas nacionais e internacionais desde 2013 não podem ser ignoradas. Não obstante, o pessimismo destilado pela grande mídia brasileira é visível e escancarado desde então. A crise atual foi, em considerável medida, construída por grande parte da imprensa brasileira, que possui um papel significativo na formação da opinião e das expectativas dos agentes.
No que tange à crise política, os grupos midiáticos não são meros mensageiros. Ao contrário, incendiaram a opinião pública empurrando o país para uma tensão social perigosa, que reverbera nas instituições e mesmo nas relações sociais e pessoais.
Diante da redução de salário, do aumento do desemprego, do conflito social flagrante, da desastrosa nova orientação de política econômica, do clima de pessimismo e ódio existentes atualmente, cabe a indagação: os grandes veículos midiáticos não assumirão a mea-culpa?
- KEYNES, J. M. The General Theory of Employment, Interestand Money. New York: HBJ BOOK, 1964.
Contudo, é possível selecionar um marco analítico de mudança: as jornadas de junho de 2013, pouco mais de dois anos atrás. Naquele período, a avaliação da população brasileira à Dilma Rousseff apresentava 93% entre regular e ótimo.
Após as manifestações, houve uma queda abrupta de 30 pontos percentuais a sua aprovação, mesmo que as manifestações não tivessem relação direta com a presidente, uma vez que o objeto de discordância era, inicialmente, o transporte urbano, de competência municipal. A redução de aprovação da presidência da República foi mais oriunda da “percepção” dos fatos do que dos fatos em si.
Os segmentos liberais e conservadores no Brasil foram sagazes em utilizar tal momento de tensão social para desgastar Dilma. A Copa do Mundo, no ano seguinte, teve também uma crítica constante que objetivava transpassar a percepção de que o caos estava instalado no País.
A oposição de frações da sociedade, articuladas nas redes sociais cibernéticas, e os principais veículos de comunicação foram bem-sucedidos em manter a popularidade da presidente em baixa. De outro lado, o governo federal não teve habilidade para reverter tal situação.
No plano econômico, ao final de 2014, houve uma reversão nas commodities, marcada por uma queda acentuada nos preços dos principais produtos da pauta de exportações do Brasil. Na esfera política, a acirrada disputa eleitoral fez aumentar a incerteza.
Face à pressão constante que o governo sofreu de setores mais conservadores e da perda da base de apoio, o segundo mandato de Dilma Rousseff se inicia com uma nova política econômica: redução dos gastos governamentais e elevação da taxa de juros, ambas medidas recessivas, vinculadas a ideias dos opositores. Os efeitos decorrentes são antigos conhecidos: aumento do desemprego, redução do salário real, queda da arrecadação, aumento do gasto com juros, queda do produto, aumento da relação dívida/PIB.
Não pode passar despercebida que a reviravolta da política econômica não foi fortuita. A retórica de que havia “excesso de intervencionismo” era diuturna nos principais canais de comunicação brasileiros.
No intento de findar o ciclo de distribuição de renda e de políticas sociais, a grande mídia não se furtou de apresentar uma constante perspectiva pessimista da realidade, um enfoque em problemas existentes (e crônicos) e, subjacentemente, uma ação despolitizante que desqualifica os governos e os partidos.
A distorção da realidade pouco baseada em evidências quantitativas é também bastante comum, ao confundir, propositalmente, “variações” com “estoque acumulado”, para logo aparecer a falaciosa manchete de “pior em décadas”.
A intenção era clara: enfraquecer o campo político que defende mais distribuição de renda, de riqueza e aprofundamento de políticas sociais.
Obtiveram sucesso, mais uma vez. O governo cedeu e a política econômica atual vai ao encontro daqueles que desejavam reduzir o nível dos salários que haviam “aumentado acima da produtividade” (sic).
Mesmo que a nova política econômica de 2015 aprofunde a tendência recessiva, a redução do crescimento do investimento privado já era observada desde o terceiro trimestre de 2013, logo após as manifestações de junho. Convém observar que justamente nessa fase a ênfase negativa se agudizou.
O papel das expectativas na decisão do investimento é reconhecido por diversos matizes teóricos. John Maynard Keynes, em particular, destaca a capacidade de tais fatores alterarem o emprego: “mudanças de ponto de vista sobre o futuro são capazes de influenciar o volume de emprego” (KEYNES, 1964, p. 4), já o investimento “depende mais do otimismo espontâneo” (KEYNES, 1964, 161).
As alterações econômicas nacionais e internacionais desde 2013 não podem ser ignoradas. Não obstante, o pessimismo destilado pela grande mídia brasileira é visível e escancarado desde então. A crise atual foi, em considerável medida, construída por grande parte da imprensa brasileira, que possui um papel significativo na formação da opinião e das expectativas dos agentes.
No que tange à crise política, os grupos midiáticos não são meros mensageiros. Ao contrário, incendiaram a opinião pública empurrando o país para uma tensão social perigosa, que reverbera nas instituições e mesmo nas relações sociais e pessoais.
Diante da redução de salário, do aumento do desemprego, do conflito social flagrante, da desastrosa nova orientação de política econômica, do clima de pessimismo e ódio existentes atualmente, cabe a indagação: os grandes veículos midiáticos não assumirão a mea-culpa?
- KEYNES, J. M. The General Theory of Employment, Interestand Money. New York: HBJ BOOK, 1964.
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