Por Raphael Coraccini, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:
Paulo Henrique Amorim esteve no Barão de Itararé nesta quarta-feira (14) para encabeçar o debate “A Mídia e o Quarto Poder no Brasil”, que teve as presenças de Mino Carta, diretor de redação da CartaCapital, e Laura Capriglione, jornalista e uma das fundadoras do movimento Jornalistas Livres. No centro da discussão esteve o livro lançado recentemente por Amorim, O Quarto Poder – Uma Outra História.
Em 72 anos de vida e 50 de jornalismo, Paulo Henrique Amorim “só não trabalhou no SBT”, brinca, entre todos os grandes canais abertos de televisão. Sua estadia na Globo foi a que rendeu mais histórias, boa parte delas presente no livro e que deram a Amorim um conhecimento esmiuçado sobre o jogo político praticado nas redações.
A palestra discutiu o monopólio midiático e contou com histórias bem ilustrativas oferecidas por Amorim e Carta aos cerca de 80 presentes e mais de 1900 espectadores on-line sobre a participação da mídia na política brasileira como uma das mais poderosas forças conservadoras do país.
A experiência de meio século de jornalismo dão a blogueiro, autor do Conversa Afiada, o estofo para preencher a narrativa sobre a mídia nacional com histórias ricas em detalhes e que abrangem o período desde pouco antes da ditadura militar até as atuais campanhas pró-impeachment, que alvoroçam a imprensa e parte da oposição.
Apesar dos movimentos nos bastidores da política e nas superfícies da comunicação, o autor não acredita que haja engajamento necessário para a concretização do golpe. “O que temos hoje é uma espécie de rolezinho golpista” - ironiza o jornalista - “que conta com Gilmar Mendes, Aécio, Nardes entre outros caminhando pelas esferas do poder para barganhar apoio para o golpe”, completa Amorim.
Mino Carta aponta o livro como leitura obrigatória, principalmente para profissionais de mídia que ainda têm como foco a importância social das comunicações. “Um livro muito educativo, que deveria ser exigido em todas as faculdades de jornalismo. Fundamental para quem ainda quer praticar um jornalismo honesto”, instiga o diretor da CartaCapital.
Histórias do campo de batalha
Ao longo de mais de duas horas de conversa com os membros da mesa e com o público, Amorim contou trechos de algumas histórias presentes no livro e que dão o relevo do poderio da mídia no país, desde outros tempos. “Numa entrevista com Juscelino (Kubitschek), o então presidente me disse que morria de medo ao ouvir Lacerda pregando o golpe no rádio”, conta Amorim, ao detalhar o papel de desestabilização do poder institucional que a imprensa assumia desde antes do golpe militar. “No governo Sarney, Roberto Marinho co-governava. Foi ele quem colocou Antônio Carlos Magalhães como Ministro das Comunicações”, acrescenta.
Segundo o jornalista e escritor, o tamanho da participação da mídia nas decisões do governo não são unicamente fruto de suas iniciativas para abocanhar nacos cada vez maiores do poder, mas também fruto da passividade e subserviência que a classe política tem em relação a alguns meios de comunicação.
Para elucidar, Amorim cita um trecho do livro que retrata o período da reeleição de Lula, em 2006, quando o jornalista afirma que a Globo foi responsável por haver segundo turno nas eleições. “Naquele dia 31 de outubro, Lula me ligou e disse: parabéns, você desvendou a maracutaia. Por telefone não posso te falar, mas o João Santana vai ligar para você e conversar sobre a democratização da mídia”. O jornalista concluiu em tom de brincadeira, “estou esperando a ligação até agora”.
Amorim crê que, aqueles que chegam ao poder, contam com a Globo para exercê-lo e se deslumbram com o poder da emissora. “Todos gostam de dar entrevistas à Globo. A primeira cadeira onde Lula sentou em 2002, assim que eleito, foi a do Jornal Nacional. Dilma foi fazer omelete com Ana Maria Braga” - relembra o jornalista, que completa - “Roberto Marinho dizia que o Globo era o que era mais pelo que não deu do que pelo que deu. Isso dá a ideia do tamanho desse poder, que aqueles que estiveram lá (em Brasília) não ousaram enfrentar.
Entre outras passagens do livro, Amorim retrata os momentos de tensão na redação da Globo com a ascensão de Collor ao poder e a queda de Armando Nogueira a pedido do presidente recém-eleito, além das conversas do autor com Mino Carta, que compõem parte importante da obra no tema 'repressão na ditadura'.
Durante a palestra, Carta questionou a imagem estabelecida no imaginário popular de que os grandes veículos de comunicação tenham sido censurados durante os anos de chumbo. Segundo o jornalista, todos os veículos que mantinham oposição ao regime, como o Última Hora, foram fechados. Os demais se censuravam e agradavam ao regime por decisão própria.
Essa destruição da ideologia oposicionista na imprensa durante a ditadura militar se estendeu para todas as plataformas e é causa do pensamento único que permeia as grandes redações até hoje. “Você pode trocar a Folha peloEstado, o Estado pelo Globo e tudo permanece igual”, completa Carta.
Na televisão, Amorim presenciou a ruína da TV Excelsior, que levou com ela a Panair e o dono das duas empresas, o milionário Mário Wallace Simonsen, no cerco que os militares armaram contra os opositores do golpe. “O fim da TV Excelsior foi orquestrado pelos empresários de direita da mídia, o capital estrangeiro e outros atores, porque o dono da televisão se negava a queimar Jango como as outras faziam”, revela o escritor.
Passos em direção à democratização
Laura Capriglione diz que acompanha, animada, os consecutivos índices de queda de audiência da Globo noticiados por Paulo Henrique Amorim em seu blog e destaca o trabalho das iniciativas independentes na batalha para tornar o jornalismo mais honesto. “A grande mídia sumiu com as manifestações pela educação. Mas, no dia 15 de março, eles quiseram reeditar a campanha das Diretas Já, mostrando apenas por cima, do alto de seus drones e helicópteros, as manifestações pró-impeachment. Nós mostramos por dentro, identificamos a presença de torturadores da ditadura e um bando de tarados por intervenção militar. A cobertura desse dia rendeu mais de 3 milhões de acessos à nossa página, que havia acabado de ser criada”, comemora.
Cético em relação aos rumos da democratização da mídia, Mino Carta aponta para o fato de que a batalha pela regulação dos meios inclui mudança drástica em toda a sociedade, não só na comunicação. “Nós só teremos uma mídia democrática quando vivermos realmente numa democracia. Hoje não vivemos. Acredito que isso só vai acontecer com sangue na calçada”, alertou.
Capriglione reconhece as asperezas do cenário e os caminhos tortuosos que a democratização dos meios tem pela frente, mas vê um cenário de avanço. “A TV Globo derrubou Lula em 89 com apenas um dia de manipulações. Hoje, em 12 anos de ataques seguidos, eles não conseguiram. Isso prova que eles já possuem o pé de barro”, aponta.
Para Capriglione, é fundamental que os meios de comunicação alternativos se aproximem e corroam o poder do monopólio. “Em palestras que frequento, o cenário se repete: mesmos grupos de palestrantes e espectadores. Hoje temos 90 mil coletivos de mídia alternativa no Brasil, não podemos mais ficar falando apenas para os convertidos. É preciso haver um cruzamento entre todas essas redes e o estreitamento das relações”, conclui a jornalista.
Paulo Henrique Amorim esteve no Barão de Itararé nesta quarta-feira (14) para encabeçar o debate “A Mídia e o Quarto Poder no Brasil”, que teve as presenças de Mino Carta, diretor de redação da CartaCapital, e Laura Capriglione, jornalista e uma das fundadoras do movimento Jornalistas Livres. No centro da discussão esteve o livro lançado recentemente por Amorim, O Quarto Poder – Uma Outra História.
Em 72 anos de vida e 50 de jornalismo, Paulo Henrique Amorim “só não trabalhou no SBT”, brinca, entre todos os grandes canais abertos de televisão. Sua estadia na Globo foi a que rendeu mais histórias, boa parte delas presente no livro e que deram a Amorim um conhecimento esmiuçado sobre o jogo político praticado nas redações.
A palestra discutiu o monopólio midiático e contou com histórias bem ilustrativas oferecidas por Amorim e Carta aos cerca de 80 presentes e mais de 1900 espectadores on-line sobre a participação da mídia na política brasileira como uma das mais poderosas forças conservadoras do país.
A experiência de meio século de jornalismo dão a blogueiro, autor do Conversa Afiada, o estofo para preencher a narrativa sobre a mídia nacional com histórias ricas em detalhes e que abrangem o período desde pouco antes da ditadura militar até as atuais campanhas pró-impeachment, que alvoroçam a imprensa e parte da oposição.
Apesar dos movimentos nos bastidores da política e nas superfícies da comunicação, o autor não acredita que haja engajamento necessário para a concretização do golpe. “O que temos hoje é uma espécie de rolezinho golpista” - ironiza o jornalista - “que conta com Gilmar Mendes, Aécio, Nardes entre outros caminhando pelas esferas do poder para barganhar apoio para o golpe”, completa Amorim.
Mino Carta aponta o livro como leitura obrigatória, principalmente para profissionais de mídia que ainda têm como foco a importância social das comunicações. “Um livro muito educativo, que deveria ser exigido em todas as faculdades de jornalismo. Fundamental para quem ainda quer praticar um jornalismo honesto”, instiga o diretor da CartaCapital.
Histórias do campo de batalha
Ao longo de mais de duas horas de conversa com os membros da mesa e com o público, Amorim contou trechos de algumas histórias presentes no livro e que dão o relevo do poderio da mídia no país, desde outros tempos. “Numa entrevista com Juscelino (Kubitschek), o então presidente me disse que morria de medo ao ouvir Lacerda pregando o golpe no rádio”, conta Amorim, ao detalhar o papel de desestabilização do poder institucional que a imprensa assumia desde antes do golpe militar. “No governo Sarney, Roberto Marinho co-governava. Foi ele quem colocou Antônio Carlos Magalhães como Ministro das Comunicações”, acrescenta.
Segundo o jornalista e escritor, o tamanho da participação da mídia nas decisões do governo não são unicamente fruto de suas iniciativas para abocanhar nacos cada vez maiores do poder, mas também fruto da passividade e subserviência que a classe política tem em relação a alguns meios de comunicação.
Para elucidar, Amorim cita um trecho do livro que retrata o período da reeleição de Lula, em 2006, quando o jornalista afirma que a Globo foi responsável por haver segundo turno nas eleições. “Naquele dia 31 de outubro, Lula me ligou e disse: parabéns, você desvendou a maracutaia. Por telefone não posso te falar, mas o João Santana vai ligar para você e conversar sobre a democratização da mídia”. O jornalista concluiu em tom de brincadeira, “estou esperando a ligação até agora”.
Amorim crê que, aqueles que chegam ao poder, contam com a Globo para exercê-lo e se deslumbram com o poder da emissora. “Todos gostam de dar entrevistas à Globo. A primeira cadeira onde Lula sentou em 2002, assim que eleito, foi a do Jornal Nacional. Dilma foi fazer omelete com Ana Maria Braga” - relembra o jornalista, que completa - “Roberto Marinho dizia que o Globo era o que era mais pelo que não deu do que pelo que deu. Isso dá a ideia do tamanho desse poder, que aqueles que estiveram lá (em Brasília) não ousaram enfrentar.
Entre outras passagens do livro, Amorim retrata os momentos de tensão na redação da Globo com a ascensão de Collor ao poder e a queda de Armando Nogueira a pedido do presidente recém-eleito, além das conversas do autor com Mino Carta, que compõem parte importante da obra no tema 'repressão na ditadura'.
Durante a palestra, Carta questionou a imagem estabelecida no imaginário popular de que os grandes veículos de comunicação tenham sido censurados durante os anos de chumbo. Segundo o jornalista, todos os veículos que mantinham oposição ao regime, como o Última Hora, foram fechados. Os demais se censuravam e agradavam ao regime por decisão própria.
Essa destruição da ideologia oposicionista na imprensa durante a ditadura militar se estendeu para todas as plataformas e é causa do pensamento único que permeia as grandes redações até hoje. “Você pode trocar a Folha peloEstado, o Estado pelo Globo e tudo permanece igual”, completa Carta.
Na televisão, Amorim presenciou a ruína da TV Excelsior, que levou com ela a Panair e o dono das duas empresas, o milionário Mário Wallace Simonsen, no cerco que os militares armaram contra os opositores do golpe. “O fim da TV Excelsior foi orquestrado pelos empresários de direita da mídia, o capital estrangeiro e outros atores, porque o dono da televisão se negava a queimar Jango como as outras faziam”, revela o escritor.
Passos em direção à democratização
Laura Capriglione diz que acompanha, animada, os consecutivos índices de queda de audiência da Globo noticiados por Paulo Henrique Amorim em seu blog e destaca o trabalho das iniciativas independentes na batalha para tornar o jornalismo mais honesto. “A grande mídia sumiu com as manifestações pela educação. Mas, no dia 15 de março, eles quiseram reeditar a campanha das Diretas Já, mostrando apenas por cima, do alto de seus drones e helicópteros, as manifestações pró-impeachment. Nós mostramos por dentro, identificamos a presença de torturadores da ditadura e um bando de tarados por intervenção militar. A cobertura desse dia rendeu mais de 3 milhões de acessos à nossa página, que havia acabado de ser criada”, comemora.
Cético em relação aos rumos da democratização da mídia, Mino Carta aponta para o fato de que a batalha pela regulação dos meios inclui mudança drástica em toda a sociedade, não só na comunicação. “Nós só teremos uma mídia democrática quando vivermos realmente numa democracia. Hoje não vivemos. Acredito que isso só vai acontecer com sangue na calçada”, alertou.
Capriglione reconhece as asperezas do cenário e os caminhos tortuosos que a democratização dos meios tem pela frente, mas vê um cenário de avanço. “A TV Globo derrubou Lula em 89 com apenas um dia de manipulações. Hoje, em 12 anos de ataques seguidos, eles não conseguiram. Isso prova que eles já possuem o pé de barro”, aponta.
Para Capriglione, é fundamental que os meios de comunicação alternativos se aproximem e corroam o poder do monopólio. “Em palestras que frequento, o cenário se repete: mesmos grupos de palestrantes e espectadores. Hoje temos 90 mil coletivos de mídia alternativa no Brasil, não podemos mais ficar falando apenas para os convertidos. É preciso haver um cruzamento entre todas essas redes e o estreitamento das relações”, conclui a jornalista.
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