terça-feira, 24 de novembro de 2015

Quem 'pariu' Cunha que o embale

Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:


Depois de uma intensa e prolongada lua de mel com o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a atual oposição federal quer jogar no colo do PT a culpa por ele estar no cargo mesmo após denunciado pelo Ministério Público Federal e de ter admitido ser o dono do dinheiro não declarado em contas na Suíça.

Mesmo com a mídia oposicionista dando suporte a esta deturpação grotesca da realidade, as lideranças do PT deveriam se comunicar melhor na hora em que fossem questionadas. Afinal, existem os fatos irrefutáveis.

O primeiro fato é que Eduardo Cunha não teve nenhum voto do PT para a presidência da Câmara, pois os petistas tiveram outro candidato, Arlindo Chinaglia, com 136 votos. A própria mídia registrou em manchetes na época da eleição "Cunha vence PT", "Dilma sofre derrota" etc.

Cunha teve apoio publicamente declarado de seu partido, o PMDB, e de outras 13 legendas, sendo duas de oposição, o DEM e o SD. A soma dessas bancadas daria 218 votos. Cunha teve mais, atingindo 267 votos.

É óbvio que se o PT não teve votos para eleger Chinaglia, sozinho é que não terá votos para tirá-lo, e muito menos terá influência política para convencê-lo a sair por conta própria. Cunha é filiado ao PMDB e seu partido é o primeiro com cacife para influenciar suas decisões políticas. Depois vêm os outros entre os 267 deputados que o elegeram.

Também contribuiu para a eleição de Cunha os grandes veículos de comunicação ao esconder e minimizar escândalos do passado e do presente em que o nome dele apareceu. Um colunista relatou encontro privado de Cunha com um dos donos da TV Globo João Roberto Marinho, em setembro do ano passado, para "fumar o cachimbo da paz". Cunha teve uma cobertura sempre favorável do jornalismo da Globo e de outros veículos para não atrapalhar sua chegada à presidência da Câmara.

O PSDB, oficialmente, declarou apoio a Júlio Delgado (PSB-MG) no primeiro turno – que teve 100 votos. Era dado como certo o apoio a Cunha no segundo turno, caso houvesse, contra Chinaglia.

Mas a certeza de que os tucanos se compuseram para que o resultado final fosse a vitória de Cunha ficou escancarada com a composição dos demais cargos na mesa diretora da Câmara. A 3ª Secretaria ficou com a deputada Mara Grabilli (PSDB-SP), eleita com apoio de Cunha. Uma das principais atribuições da 3ª Secretaria da Câmara é controlar o uso das passagens aéreas dos deputados. O PT ficou de fora da mesa diretora justamente por não compor com Cunha.

As relações dos tucanos com Eduardo Cunha só se estreitaram depois disso. Estiveram juntos na votação da antirreforma política, votaram juntos a favor da PEC da Corrupção – a favor do financiamento empresarial de campanhas, vetada por Dilma e declarada inconstitucional pelo STF. Estiveram juntos na votação da terceirização ilimitada e das pautas-bomba. Conspiraram juntos pelo golpe do impeachment, mesmo depois que vieram ao conhecimento público as contas na Suíça. Combinaram estratégias e rituais visando ao golpe paraguaio.

Quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou a primeira denúncia contra Cunha, em fins de julho, o presidente da Câmara declarou-se oficialmente na oposição à presidenta Dilma e foi recebido de braços abertos pelos oposicionistas, mesmo diante da gravidade da denúncia.

Os tucanos só se manifestaram contra Cunha agora, depois que a canoa furada do impeachment afundou. Os frequentes encontros e reuniões de tucanos com Cunha, alguns públicos outros secretos, passaram a ser um fardo para a imagem dos tucanos. Daí a necessidade de se manifestarem contra o ex-aliado em um processo de descontaminação de imagem perante a opinião pública.

Assim, quando a mídia oposicionista, que apoiou Cunha enquanto ele representou expectativa de golpe, vier cobrar posicionamento de lideranças do PT, os petistas deveriam responder sempre que o PT teve outro candidato à presidência da Câmara e não votou em Cunha. O PT está há dez meses apenas respeitando a institucionalidade imposta pela maioria que elegeu a mesa. Como diz o dito popular, "quem pariu Mateus que o embale".

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