Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O aspecto mais interessante na revelação do contrato de R$ 975.000 entre a Odebrecht e o Instituto Fernando Henrique Cardoso reside no próprio vazamento.
Pudemos saber que entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012, o Instituto de Fernando Henrique recebeu R$ 75.000 durante dez meses e uma contribuição de R$ 150.000 da empresa de Marcelo Odebrecht.
Também pudemos tomar conhecimento de uma instrutiva troca de e-mails entre uma funcionária da Brasken – uma das empresas do grupo – e o IFHC. Negociando o pagamento de uma palestra de Fernando Henrique, que acabou cancelada, uma funcionária esclareceu que “há duas maneiras de se fazer "a doação": uma "doação direta", que geraria um recibo, ou "a elaboração de um contrato, porém não podemos citar que a prestação de serviço será uma palestra do presidente".
Logo depois que uma das empresas de Luis Claudio Lula da Silva ter sido alvo de uma operação de busca e apreensão, FHC disse que Lula precisa “esclarecer” acusações que têm sido veiculadas contra ele.
O contrato de R$ 975 000 e o e mail com a historinha sobre o pagamento de uma palestra ajuda a colocar algum realismo na discussão que o país tem feito na última década.
Mostram que ambos viveram e frequentaram um mesmo universo, um mundo “opaco”, como gosta de dizer o filósofo José Arthur Gianotti, amigo de FHC desde os anos 1960.
Estamos falando do não-transparente, do obscuro, sustentado por uma hipocrisia de conveniência, que tenta convencer o país inteiro que não é preciso discutir política, nem diferenças entre pobres e ricos, nem necessidades diversas e até opostas – mas uma caricatura de mocinhos e bandidos, ou intelectuais sofisticados e sindicalistas aproveitadores ou, porque é aí que eles querem chegar, entre ricos educados e pobres sem instrução.
Na realidade, os R$ 975 000 são uma agulha num imenso palheiro que as autoridades não investigam, não apuram. A Polícia Federal só chegou a esses dados porque foi investigar a Odebrecht durante o governo Lula e, tchan, tchan, tchan... apareceram as contribuições para o Instituto de Fernando Henrique. Assim, por acaso. Quem sabe por azar. Certamente por azar.
Imagino -- isso é pura ficção meus amigos, um minuto de comédia no sábado a tarde -- a reação de policiais que em 2014 fizeram campanha feroz contra Dilma e Lula pela internet no momento em que apareceram essas revelações. " Putz!," disse um. "Meu Deus, o que será de nós," disse outro. Um terceiro olha para os céus, mãos na cabeça.
Em 2002, quando Fernando Henrique montou o IFHC, a bolada inicial foi oferecida por um grupo de empresários amigos, reunidos no Alvorada para um jantar. Detalhe: naquele momento, FHC ainda não deixara o Planalto. A caneta presidencial ainda estava em seu poder. Mesmo assim, o baronato entregou, com alguma chiadeira pelo volume necessário para cada doação individual, um total de R$ 7 milhões.
O aspecto mais interessante na revelação do contrato de R$ 975.000 entre a Odebrecht e o Instituto Fernando Henrique Cardoso reside no próprio vazamento.
Pudemos saber que entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012, o Instituto de Fernando Henrique recebeu R$ 75.000 durante dez meses e uma contribuição de R$ 150.000 da empresa de Marcelo Odebrecht.
Também pudemos tomar conhecimento de uma instrutiva troca de e-mails entre uma funcionária da Brasken – uma das empresas do grupo – e o IFHC. Negociando o pagamento de uma palestra de Fernando Henrique, que acabou cancelada, uma funcionária esclareceu que “há duas maneiras de se fazer "a doação": uma "doação direta", que geraria um recibo, ou "a elaboração de um contrato, porém não podemos citar que a prestação de serviço será uma palestra do presidente".
Logo depois que uma das empresas de Luis Claudio Lula da Silva ter sido alvo de uma operação de busca e apreensão, FHC disse que Lula precisa “esclarecer” acusações que têm sido veiculadas contra ele.
O contrato de R$ 975 000 e o e mail com a historinha sobre o pagamento de uma palestra ajuda a colocar algum realismo na discussão que o país tem feito na última década.
Mostram que ambos viveram e frequentaram um mesmo universo, um mundo “opaco”, como gosta de dizer o filósofo José Arthur Gianotti, amigo de FHC desde os anos 1960.
Estamos falando do não-transparente, do obscuro, sustentado por uma hipocrisia de conveniência, que tenta convencer o país inteiro que não é preciso discutir política, nem diferenças entre pobres e ricos, nem necessidades diversas e até opostas – mas uma caricatura de mocinhos e bandidos, ou intelectuais sofisticados e sindicalistas aproveitadores ou, porque é aí que eles querem chegar, entre ricos educados e pobres sem instrução.
Na realidade, os R$ 975 000 são uma agulha num imenso palheiro que as autoridades não investigam, não apuram. A Polícia Federal só chegou a esses dados porque foi investigar a Odebrecht durante o governo Lula e, tchan, tchan, tchan... apareceram as contribuições para o Instituto de Fernando Henrique. Assim, por acaso. Quem sabe por azar. Certamente por azar.
Imagino -- isso é pura ficção meus amigos, um minuto de comédia no sábado a tarde -- a reação de policiais que em 2014 fizeram campanha feroz contra Dilma e Lula pela internet no momento em que apareceram essas revelações. " Putz!," disse um. "Meu Deus, o que será de nós," disse outro. Um terceiro olha para os céus, mãos na cabeça.
Em 2002, quando Fernando Henrique montou o IFHC, a bolada inicial foi oferecida por um grupo de empresários amigos, reunidos no Alvorada para um jantar. Detalhe: naquele momento, FHC ainda não deixara o Planalto. A caneta presidencial ainda estava em seu poder. Mesmo assim, o baronato entregou, com alguma chiadeira pelo volume necessário para cada doação individual, um total de R$ 7 milhões.
O caso causou um certo constrangimento naquele momento, levando o repórter Gerson Camarotti, da Época, perguntar ao procurador Rodrigo Janot - que 12 anos depois se tornaria procurador-geral da República - se ele via alguma coisa de errada nos pedidos de doação. Janot respondeu que não. Alegou que, naquele momento, FHC cuidava de seu futuro, fora da presidência. Esclareceu que seus compromissos eram diferentes, pois se tratavam de um cidadão privado. O caso seria diferente se estivesse no exercício da presidência.
No mesmo palheiro se encontram o metroduto de São Paulo, as privatizações, o esquema de compra de votos que permitiu a reeleição de FHC, o mensalão PSDB-MG.
Mesmo o dinheiro das empresas que operam com a Petrobras só é propina quando se dirige a partidos que apoiam o governo Lula-Dilma. É moeda patriótica quando vai para seus adversários.
A investigação sobre o Instituto Lula, como sabemos todos, ajuda a mostrar que alguns brasileiros tem direito a vida privada - e outros não. É mais um ensinamento no palheiro.
Sempre se pode perguntar, numa operação dirigida por delegados reconhecidamente simpáticos ao PSDB se o vazamento de R$ 975.000 é um recado a seus protetores políticos, num momento em que sua atuação é questionada em vários aspectos, a começar pelos grampos ilegais na carceragem de Curitiba. Há uma relação entre uma coisa e outra?
De vez quando desse mundo encantado, do silêncio absoluto, acaba vazando alguma coisa. Foi o que aconteceu.
No mesmo palheiro se encontram o metroduto de São Paulo, as privatizações, o esquema de compra de votos que permitiu a reeleição de FHC, o mensalão PSDB-MG.
Mesmo o dinheiro das empresas que operam com a Petrobras só é propina quando se dirige a partidos que apoiam o governo Lula-Dilma. É moeda patriótica quando vai para seus adversários.
A investigação sobre o Instituto Lula, como sabemos todos, ajuda a mostrar que alguns brasileiros tem direito a vida privada - e outros não. É mais um ensinamento no palheiro.
Sempre se pode perguntar, numa operação dirigida por delegados reconhecidamente simpáticos ao PSDB se o vazamento de R$ 975.000 é um recado a seus protetores políticos, num momento em que sua atuação é questionada em vários aspectos, a começar pelos grampos ilegais na carceragem de Curitiba. Há uma relação entre uma coisa e outra?
De vez quando desse mundo encantado, do silêncio absoluto, acaba vazando alguma coisa. Foi o que aconteceu.
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