A escaramuça pós-eleitoral na Venezuela

Ilustração: http://www.aporrea.org/

Por Max Altman, no site Opera Mundi:

Poucos dias se passaram após a severa derrota de Maduro e da revolução bolivariana e as primeiras escaramuças já se configuram.

A batalha não será fácil para nenhum dos lados. A oposição conquistou importante bastião. Embora em seu conjunto, sob uma única bandeira a da MUD, tenha alcançado maioria qualificada com seus 112 deputados, aí incluídos os três indígenas, de um total de 167 cadeiras, esses deputados estão fragmentados em 14 distintas organizações partidárias que vão da extrema-direita com o Voluntad Popular, passando pela direta como Primera Justicia, pela ‘soi-disant’ social-democracia, a Ação Democrática até siglas outrora consideradas de esquerda como Causa R e a ultra-esquerdista Bandera Roja. Do outro lado, mais de 97% dos votos dados ao Gran Polo Patriotico destinaram-se ao PSUV.

O grande esteio econômico da Venezuela é o petróleo e o país ainda não se desgarrou da chamada “maldição do petróleo”. Como praticamente a única fonte de divisas é o ouro negro e com esses recursos se importa boa parte dos bens, tradicionalmente o país ficou nas mãos dos rentistas que ganham com os ingressos petrolíferos, especulam financeiramente, mas nada investem na economia.

A passagem do controle da empresa PDVA passou sob Hugo Chávez de mãos privadas para o Estado. O ingresso do petróleo a mais de 100 dólares o barril irrigou todos os programas sociais ao longo do tempo. A dramática queda do preço do óleo provocou drástico desarranjo na economia e é um dos fatores centrais da séria crise vivida pela Venezuela, cuja complexidade irá exigir ciência e ação para conseguir suplantá-la.

Se o petróleo é um dos nós da crise e o esteio para a continuidade dos programas sociais do governo Maduro, como está a se comportar a corporação petroleira?

Os mais de 120 mil trabalhadores da Petróleos de Venezuela (Pdvsa) de todo o país ratificaram nesta sexta-feira, 11, o compromisso de defender a Revolução Bolivariana e a soberania da principal indústria do país, ante as pretensões de grande parte da oposição de acabar com as conquistas do povo venezuelano desta década e meia.

Os petroleiros recordaram que a maioria dos parlamentares de oposição eleitos respondem aos interesses dos mesmos setores que em 2002 paralisaram completamente a produção petroleira, na tentativa de derrocar Hugo Chávez.

Na sede da refinaria Oriente em Puerto La Cruz, estado Anzoátegui, Leo Carrasco expressou que estes mesmos atores são os que em tempos passados morderam o pó da derrota quando o povo trabalhador venezuelano defendeu a Pdvsa durante o locaute petroleiro perpetrado entre dezembro de 2002 a fevereiro de 2003, em que a direita apostou na destruição dessa indústria e na quebra do país para dar cabo do processo revolucionário.

O plano conspirativo que teve início em 2 de dezembro de 2002, sustentou-se por 63 dias e foi derrotado em 3 de fevereiro de 2003, provocou perdas de mais de 14 bilhões de dólares em vendas perdidas e cerca de 10 bilhões de receita fiscal.

“Mandamos desde já uma mensagem firme à oposição: este povo não está disposto a perder a esperança nem a perder as conquistas alcançadas pelo processo revolucionário”, sublinhou Carrasco.

Na sede do Instituto de Tecnologia para o Petróleo, localizado no estado Miranda, os trabalhadores se declararam “ativos, organizados, combativos e em pé de luta em defesa da Pdvsa. Os que trabalham na empresa temos consciência que controlamos 18% da reserva energética de todo o planeta, que agora está a serviço do povo venezuelano.” Este é um trecho do manifesto em apoio ao presidente Maduro “no cumprimento dos altos objetivos do Plano da Pátria e da Constituição”.

Outrossim, ratificaram sua “firme e irrevogável” posição de impedir qualquer alteração da ordem interna da Pdvsa. Sabem que a empresa estatal constitui um dos principais objetivos do capitalismo “e que a única barreira aos seus obscuros propósitos é que atualmente se encontra nas mãos dos venezuelanos.

A este clamor se uniram os trabalhadores da Pdvsa Ocidente, que se concentraram nas oficinas de Las Salinas, estado Zulia.”Não vamos permitir que os traidores, que trairam o legado de Hugo Chávez, venham tomar posições na indústria petroleira. Vamos continuar aqui e vamos defender as leis, vamos defender todos os benefícios sociais que a Revolução ofereceu ao povo”, ressaltou Osvaldo Quintero, que trabalha na Pdvsa há 20 anos. “Abandonaram a empresa uma vez e agora pretendem regressar. Não permitiremos. A Revolução chegou para ficar”.