sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Folha nega "pressão" de Alckmin. Tá bom!

Por Altamiro Borges

Nesta terça-feira (2), a revista Fórum publicou uma grave denúncia contra o jornal Folha de S.Paulo. Segundo a matéria, o site do diário deletou um vídeo que mostrava a violência da PM tucana contra os estudantes nas escolas ocupadas. O mais curioso é que a operação-abafa foi feita logo após a visita do governador do PSDB à redação do jornal. De imediato, o sempre servil Portal Imprensa trouxe a versão da famiglia Frias para o sinistro caso: "Folha nega ter tirado reportagem do ar após visita de Geraldo Alckmin", afirma o site nesta quarta-feira. Vale conferir a resposta do jornal tucano:

"A editora da TV Folha, Camila Marques, negou que vídeo sobre a ocupação de uma das 192 escolas estaduais tenha sido retirado do ar após visita do governador Geraldo Alckmin, que esteve na redação da Folha na terça-feira... 'A reportagem foi retirada do ar a pedido da Secretaria de Redação na manhã desta terça-feira (1), após ser constatado que a peça tinha falhas de apuração, que contrariavam os princípios editoriais do jornal, principalmente o que concerne ao Outro Lado. A equipe foi orientada a refazer o mais rápido possível a apuração para que o vídeo volte ao ar. A relação entre a visita do governador, que ocorreu à tarde daquele dia, e a retirada do vídeo do ar é mentirosa'".

Os militantes tucanos da famiglia Frias

Será que dá para acreditar nesta curiosa versão da Folha, o jornal que garante não ter o rabo preso? É só conferir a cobertura da revolta dos estudantes para desconfiar da honestidade do veículo. Centenas de escolas estão ocupadas, num movimento que cresce a cada dia, e a Folha até hoje evita dar realce à mobilização. Seus "calunistas", como o jagunço Rogério Gentile, preferem demonizar os alunos. 

Em artigo publicado nesta quarta-feira (3), o militante tucano disfarçado de jornalista afirma que a proposta da "reorganização escolar" do governador Geraldo Alckmin é muito boa, mas que as falhas na comunicação "deram margem para a instrumentalização ideológica e corporativa do debate... Movimentos de moradia que dizem ter como objetivo maior lutar contra o capitalismo e o Estado, partidos de esquerda e o sindicato dos professores, resistente a tudo que não signifique menos trabalho e salário maior, acabaram estimulando a ocupação de escolas".

Outro "reporcagem", que suaviza a brutalidade da Polícia Militar, afirma que "os manifestantes que ocupam os colégios estaduais decidiram radicalizar sua estratégia... A nova diretriz de fechar vias ao trânsito de veículos, iniciada nesta semana, deve ser intensificada na capital paulista... Os estudantes ameaçam fazer 'travamentos' - nome dado por eles ao bloqueio de ruas e avenidas... O governador Geraldo Alckmin disse que há motivação política na ação dos estudantes. 'Não é razoável a obstrução de via pública. É nítida que há uma ação política do movimento'". Ou seja: os alunos são vândalos, quase terroristas, e o "picolé de chuchu" está preocupado com a paz e a ordem em São Paulo!

Apoio dos intelectuais e artistas

Apesar da intransigência do governador Geraldo Alckmin, da violência da PM e da cumplicidade da mídia chapa-branca, o movimento da ocupação de escolas segue crescendo e ganha novos apoios. Nesta quarta-feira, segundo matéria do Jornal do Brasil - que não teve qualquer repercussão na Folha tucana -, intelectuais e artistas de renome divulgaram um manifesto contra a chamada "reorganização escolar" e em defesa dos combativos estudantes. Vale conferir:

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Não fechem as nossas escolas! Respeitem os estudantes!

Não bastasse o atual estado crítico do ensino básico – com salas superlotadas, baixíssimos salários para docentes e funcionários e péssimas condições de trabalho –, o governo Geraldo Alckmin impõe uma mudança de grande porte à rede de ensino paulista, fechando mais de 90 escolas, encerrando períodos inteiros, removendo milhares de estudantes de suas escolas, impactando a vida de milhares de famílias e ameaçando o emprego de professores em todo estado.

O projeto de “reorganização” foi construído a toque de caixa, sem qualquer consulta às comunidades, sem audiências efetivamente públicas, sem tempo hábil de se fazer o real debate sobre as necessidades das escolas e o mérito da iniciativa. Como tem sido demonstrado em muitos estudos que contestam o projeto, suas justificativas são muito frágeis ou questionáveis. Não por acaso, em sua versão oficial que acaba de ser publicada, a reorganização foi baixada por decreto, sequer apresentada aos parlamentares estaduais.

Para agravar a situação, de forma covarde o governo conclama a uma “guerra” contra os estudantes que tiveram que ocupar suas escolas para serem ouvidos. Estão amplamente registrados todos os tipos de agressão, intimidação, coação e diversas ilegalidades por parte da polícia e de agentes públicos na tentativa de “desqualificar” ou “desmoralizar” o movimento enquanto se supostamente se consolida o projeto como um fato consumado.

Ao contrário das tentativas, o que temos visto são estudantes com muita convicção e firmeza, reforçando como nunca sua identidade com as escolas, cuidando dos espaços públicos, sendo protagonistas das programações de aulas públicas, de eventos culturais e esportivos.

Nós, intelectuais, artistas e figuras públicas que de maneira suprapartidária subescrevemos esse manifesto reivindicamos, para o bem da cidadania e da escola pública, a suspensão imediata da “guerra” contra os estudantes adolescentes bem como desse projeto de reorganização para que de uma vez por todas se escutem as vozes das escolas e comunidades que são as mais interessadas e com quais deve se pensar a educação.

Primeiros signatários:

Ariovaldo Umbelino de Oliveira (Geografia – USP)

Cesar Cordado (Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça)

Christian Dunker (Psicologia – USP)

Cibele Lima (Rede Emancipa de Educação Popular)

Cilaine Alves Cunha (Literatura – USP)

Ciro Correia (Geologia – USP)

Cristiane Gonçalves (Políticas Públicas e Saúde Coletiva – Unifesp)

David Harvey (CUNY – Nova York)

Fábio Konder Comparato (Direito – USP)

Franciso Miraglia (Matemática – USP)

Frederico de Almeida (Ciência Política – Unicamp)

Gilberto Cunha Franca (Geografia – Ufscar)

Gilson Schwartz (Cinema, Rádio e TV – USP)

Gregório Duvivier (Ator e escritor – Porta dos Fundos)

Guilherme Boulos (Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST)

Henrique Carneiro (História – USP)

Homero Santiago (Filosofia – USP)

Isabel Maria Loureiro (Filosofia – Unesp)

Luciana Genro (Presidenta da Fundação Lauro Campos e ex-candidata à Presidência pelo PSOL)

Manoela Miklos (Produtora Cultural)

Márcia Tiburi (Filosofia – Mackenzie)

Márcio Seligmann-Silva (Teoria Literária e Literatura – Unicamp)

Marcos Barbosa de Oliveira (Prof. Colaborador, depto. Filosofia, FFLCH-USP)

Maria Cecília Wey (Aliança pela Água)

Maria Rita Kehl (Psicanalista, jornalista, ensaísta, poetisa, cronista e crítica literária)

Mariana Fix (Urbanista – Unicamp)

Mario Schapiro (professor FGV Direito SP)

Marussia Whately (Aliança pela Água)

Mauro Pinto (Advogado OAB-SP)

Marcos N. Magalhães (IME – USP)

Miranda (Coordenador do Movimento Negro Socialista – MNS)

Otaviano Helene (Física – USP)

Paulo Eduardo Arantes (Filosofia – USP)

Paulo Miklos (Vocalista do Titãs)

Plínio de Arruda Sampaio Jr (Economia – Unicamp)

Ricardo Antunes (Unicamp)

Ricardo Musse (Sociologia – USP)

Rosa Maria Marques (PUCSP)

Ruy Braga (Sociologia – USP)

Sara Del Prete Panciera (Saúde, Educação e Sociedade – Unifesp)

Vladimir Safatle (Filosofia – USP)


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