Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
A decisão de Eduardo Cunha, de dar seguimento a um pedido de impeachment formulado pela oposição, gera imensas dificuldades para o país: cria incerteza na economia, atrasa decisões de investimento, aumenta a probabilidade de que a recessão se aprofunde.
Mas, do ponto de vista estritamente político, a decisão não chega a ser um desastre para Dilma. Por alguns motivos, que passo a listar.
Primeiro: o momento de abrir o processo não é o mais adequado, se a ideia é mobilizar as pessoas na rua para derrubar Dilma.
Desde o começo de 2015, este blogueiro tem dito que a hora da verdade para Dilma seria o primeiro semestre de 2016, quando a economia chegaria ao fundo do poço, provocando (além da crise política e econômica) também instabilidade social. Para a oposição, o momento ideal de abrir o impeachment seria maio ou junho de 2016. A base social de Dilma estaria ainda mais frágil, e o desemprego poderia criar uma espécie de consenso pela derrubada.
Cunha, no entanto, não podia esperar. Agiu por vingança. E essa será a disputa agora: uma disputa de narrativas.
Aécio/Serra/Cunha/Temer e a mídia golpista tentarão caracterizar o impeachment como fato consumado, um dado da realidade. Reparem como as manchetes dos portais não trazem o contexto, não dizem: “Acuado e ameaçado de prisão, Cunha se vinga e abre impeachment”.
Os portais da Folha (UOL) e da Globo (G-1) preferem uma saída técnica, tipo: “saiba o passo a passo do impeachment”. A ideia é criar esse clima de “naturalização”.
Pode dar certo? Pode. Mas, neste momento, Dilma tem grandes chances de caracterizar a decisão de Cunha como manobra, e não decisão técnica. Pra isso, é preciso travar a guerra de comunicação.
Governo, PT e forças democráticas em geral devem mostrar a decisão de Cunha como aquilo que é: um movimento de vingança, de uso indevido do cargo. Acusado de esconder dinheiro na Suíca, às portas de perder o mandato e de ir pra cadeia, Cunha usa a presidência da Câmara para se livrar dos problemas. E, pra isso, lança o país num abismo – em parceria com líderes do PSDB.
Reparem que jornalistas com um pingo de responsabilidade, mesmo em organismos comandados pela direita, já se insurgem. Foi o que fez Jorge Bastos Morenos (“O Globo”), em sua conta no twitter: “Sinto-me, como todos os brasileiros, ofendido na minha inteligência com a alegação de Cunha de que tomou uma decisão técnica. Foi vingança.”
Segundo: vai ficando claro para a população que há uma articulação PMDB/PSDB para tomar o poder, sem passar pelas urnas.
Durante dias, ouvimos falar na mídia de uma barganha PT/Cunha. Mas o que vemos agora é que no fim essa barganha não se desenvolveu.
A barganha em curso é outra: “você, Cunha, arranca o PT da presidência, e nós livramos a sua cara!” Ou seja, trata-se de um golpe parlamentar. Promovido pelo homem mais sujo do Brasil, com apoio dos que perderam a eleição no voto em 2014. Aécio, Serra, Paulinho, Cunha e Temer não querem combater a corrupção. Eles querem o poder, sem precisar do voto popular.
Cunha teria consultado outras lideranças, avisado o vice Michel Temer, e recebido sinal verde para a operação. A oposição tucana (com exceção de Alckmin, às voltas com uma crise em São Paulo) percebeu que esse era o momento para fechar o acordo com o PMDB. Com o presidente da Câmara acuado e Temer amedrontado diante da Lava-Jato, os peemedebistas estariam mais propícios a patrocinar o golpe.
Esse cenário, de articulação palaciana e de um impeachment que surge quando as ruas estão vazias (ou seja, é fruto de um grande acordo “por cima”), pode tirar o PT e a esquerda da letargia.
A tentativa de impeachment pode dar a Dilma e ao PT a chance de falarem em nome da democracia.
Terceiro: o impeachment surge num momento em que o governo reorganiza sua base no Congresso. Nas últimas votações, Dilma ganhou, enterrou a pauta-bomba.
Tanto nas ruas, como no Congresso, o momento não é o mais propício para o golpe. Mas eles vão tentar…
Hoje, eu diria que a presidenta tem 60% de chance de ficar no cargo. E de sair da crise mais forte do que entrou.
Se cair, abrir-se-á um período de mais instabilidade. Aécio, na sequência, tentará derrubar Temer, para que novas eleições sejam convocadas. Serra, por sua vez, tentará sustentar Temer até 2018, para ser ele (o estadista da Mooca) o comandante do país.
É um enredo em que o país está seqüestrado por interesses privados.
O PT errou muito, entregou-se a todo tipo de acordo e se lambuzou na zona cinzenta dos interesses privados que dominam o Estado brasileiro. Tudo isso é fato. Ainda assim, na undécima hora, o PT mostrou compromisso com a democracia ao recusar a barganha de Cunha.
Agora, é preciso travar a disputa final. Pra ganhar ou perder.
Mas há boas chances de vitória, se o lado da democracia agir de forma unida e sem medo de um embate total. Do outro lado, há o que existe de mais podre e atrasado nesse país. Uma disputa tão grave como a travada em 1954, 1961 e 1964.
Não está escrito nas estrelas quem vai vencer. Depende da disputa real, que está em pleno curso. Nas redes e nas ruas.
A decisão de Eduardo Cunha, de dar seguimento a um pedido de impeachment formulado pela oposição, gera imensas dificuldades para o país: cria incerteza na economia, atrasa decisões de investimento, aumenta a probabilidade de que a recessão se aprofunde.
Mas, do ponto de vista estritamente político, a decisão não chega a ser um desastre para Dilma. Por alguns motivos, que passo a listar.
Primeiro: o momento de abrir o processo não é o mais adequado, se a ideia é mobilizar as pessoas na rua para derrubar Dilma.
Desde o começo de 2015, este blogueiro tem dito que a hora da verdade para Dilma seria o primeiro semestre de 2016, quando a economia chegaria ao fundo do poço, provocando (além da crise política e econômica) também instabilidade social. Para a oposição, o momento ideal de abrir o impeachment seria maio ou junho de 2016. A base social de Dilma estaria ainda mais frágil, e o desemprego poderia criar uma espécie de consenso pela derrubada.
Cunha, no entanto, não podia esperar. Agiu por vingança. E essa será a disputa agora: uma disputa de narrativas.
Aécio/Serra/Cunha/Temer e a mídia golpista tentarão caracterizar o impeachment como fato consumado, um dado da realidade. Reparem como as manchetes dos portais não trazem o contexto, não dizem: “Acuado e ameaçado de prisão, Cunha se vinga e abre impeachment”.
Os portais da Folha (UOL) e da Globo (G-1) preferem uma saída técnica, tipo: “saiba o passo a passo do impeachment”. A ideia é criar esse clima de “naturalização”.
Pode dar certo? Pode. Mas, neste momento, Dilma tem grandes chances de caracterizar a decisão de Cunha como manobra, e não decisão técnica. Pra isso, é preciso travar a guerra de comunicação.
Governo, PT e forças democráticas em geral devem mostrar a decisão de Cunha como aquilo que é: um movimento de vingança, de uso indevido do cargo. Acusado de esconder dinheiro na Suíca, às portas de perder o mandato e de ir pra cadeia, Cunha usa a presidência da Câmara para se livrar dos problemas. E, pra isso, lança o país num abismo – em parceria com líderes do PSDB.
Reparem que jornalistas com um pingo de responsabilidade, mesmo em organismos comandados pela direita, já se insurgem. Foi o que fez Jorge Bastos Morenos (“O Globo”), em sua conta no twitter: “Sinto-me, como todos os brasileiros, ofendido na minha inteligência com a alegação de Cunha de que tomou uma decisão técnica. Foi vingança.”
Segundo: vai ficando claro para a população que há uma articulação PMDB/PSDB para tomar o poder, sem passar pelas urnas.
Durante dias, ouvimos falar na mídia de uma barganha PT/Cunha. Mas o que vemos agora é que no fim essa barganha não se desenvolveu.
A barganha em curso é outra: “você, Cunha, arranca o PT da presidência, e nós livramos a sua cara!” Ou seja, trata-se de um golpe parlamentar. Promovido pelo homem mais sujo do Brasil, com apoio dos que perderam a eleição no voto em 2014. Aécio, Serra, Paulinho, Cunha e Temer não querem combater a corrupção. Eles querem o poder, sem precisar do voto popular.
Cunha teria consultado outras lideranças, avisado o vice Michel Temer, e recebido sinal verde para a operação. A oposição tucana (com exceção de Alckmin, às voltas com uma crise em São Paulo) percebeu que esse era o momento para fechar o acordo com o PMDB. Com o presidente da Câmara acuado e Temer amedrontado diante da Lava-Jato, os peemedebistas estariam mais propícios a patrocinar o golpe.
Esse cenário, de articulação palaciana e de um impeachment que surge quando as ruas estão vazias (ou seja, é fruto de um grande acordo “por cima”), pode tirar o PT e a esquerda da letargia.
A tentativa de impeachment pode dar a Dilma e ao PT a chance de falarem em nome da democracia.
Terceiro: o impeachment surge num momento em que o governo reorganiza sua base no Congresso. Nas últimas votações, Dilma ganhou, enterrou a pauta-bomba.
Tanto nas ruas, como no Congresso, o momento não é o mais propício para o golpe. Mas eles vão tentar…
Hoje, eu diria que a presidenta tem 60% de chance de ficar no cargo. E de sair da crise mais forte do que entrou.
Se cair, abrir-se-á um período de mais instabilidade. Aécio, na sequência, tentará derrubar Temer, para que novas eleições sejam convocadas. Serra, por sua vez, tentará sustentar Temer até 2018, para ser ele (o estadista da Mooca) o comandante do país.
É um enredo em que o país está seqüestrado por interesses privados.
O PT errou muito, entregou-se a todo tipo de acordo e se lambuzou na zona cinzenta dos interesses privados que dominam o Estado brasileiro. Tudo isso é fato. Ainda assim, na undécima hora, o PT mostrou compromisso com a democracia ao recusar a barganha de Cunha.
Agora, é preciso travar a disputa final. Pra ganhar ou perder.
Mas há boas chances de vitória, se o lado da democracia agir de forma unida e sem medo de um embate total. Do outro lado, há o que existe de mais podre e atrasado nesse país. Uma disputa tão grave como a travada em 1954, 1961 e 1964.
Não está escrito nas estrelas quem vai vencer. Depende da disputa real, que está em pleno curso. Nas redes e nas ruas.
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