Por Renato Rovai, em seu blog:
A última grande batalha do impeachment de 2015 foi a das manifestações de rua ocorridas no domingo, dia 13 de dezembro, e na quarta-feira, 16. A expectativa era a de que novamente os defensores da saída da presidenta mobilizassem um número maior de pessoas. E fechassem o ano dando um sinal claro de que ele não acabaria no dia 31.
Mas depois de um domingo que decepcionou veio uma quarta-feira que surpreendeu. Os movimentos sociais ligados à CUT, ao MST, ao MTST, à UNE e a outras tantas entidades de cunho popular colocaram uma quantidade de gente inesperada nas ruas e mostraram uma capacidade de defender não o governo de Dilma, mas o que denominaram de resistência ao golpe que reposicionou as peças da disputa do impeachment.
O sucesso da quarta e o fracasso do domingo não tiveram relação com uma melhor avaliação do governo ou sequer à ampliação de sua capacidade de reagir. Estiveram muito mais relacionados aos erros da oposição que desde que viu as ruas crescerem a seu favor se comportou como abutre imaginando já poder dividir as partes de um cadáver insepulto.
Eduardo Cunha se tornou a imagem desse grupo que desejava acabar com o governo Dilma. E tudo o que Eduardo Cunha representa foi o combustível que garantiu unidade aos que foram as ruas naquela quarta-feira pra dizer que não aceitavam o golpe e que queriam Joaquim Levy e sua política econômica fora do governo.
Talvez menos pelo grito das ruas e mais porque já se via isolado, no dia 18 Joaquim Levy anunciou que deixava o cargo de ministro da Fazenda.
Havia uma narrativa que parecia possível depois daquilo. Nélson Barbosa, que assumiu o ministério, era o nome preferido de boa parte das lideranças que estavam nas ruas de quarta, porque se via nele a perspectiva de retomar uma política econômica de cunho desenvolvimentista e menos ortodoxa. E se imaginava que com Barbosa o discurso contra direitos deixaria de ser o foco principal do governo.
Mas o governo Dilma sempre surpreende. Quando parece que consegue avançar uma casa, ele anda duas pra trás. E Barbosa assumiu exatamente falando em cortar direitos. Como pregava Levy.
A reação do presidente da CUT, Wagner Freitas, e de outros líderes, como Guilherme Boulos, do MTST, foram diretas e bem retas. Não há apoio irrestrito ao governo e se Dilma não aproveitar a sua última chance para escolher ficar do lado que a elegeu, o impeachment ocorrerá sem resistência nas ruas.
O recado é o mais duro que a base social de Dilma lhe deu desde que foi reeleita. Por esse motivo, a presidenta não tem outra opção se deseja permanecer no cargo. Ou reposiciona sua relação com os movimentos que organizaram a quarta-feira ou ficará completamente isolada.
Não é com o mercado que a presidente precisa se reconciliar. E por este motivo, o discurso de Nélson Barbosa não podia ser pior.
Há uma urgência em rearticular uma proposta para o país que aponte para além da próxima curva. Que crie uma expectativa de melhoria na qualidade de vida de uma imensa parcela da população que viu sua situação melhorar um pouco nas duas últimas décadas, mas que ainda sobrevive muito mal.
Essa imensa população de brasileiros sua frio quando ouve um ministro da Fazenda falando em reformas trabalhista e da Previdência, especialmente em seu primeiro discurso. E mesmo que esteja disposta a discuti-las, sabe que isso ao ser destacado significa que a conta do ajuste será daqueles que vivem no andar de baixo.
Barbosa tem uma chance para não ver seu mandato como ministro da Fazenda ter acabado no primeiro dia. Pode chamar os movimentos da quarta-feira e convidá-los a participar de um pacto nacional pelo desenvolvimento junto com empresários, intelectuais e líderes de diferentes setores que estejam dispostos a pensar o país para além do rentismo.
Há muita gente com essa disposição. E há muita energia e ideias que poderiam ser absorvidas e implementadas pelo governo.
Para sair do isolamento só há uma possibilidade para o governo Dilma. Ele terá de buscar algo novo. Terá de tentar tirar da cartola mais do que coelhos. Mas ao que parece, não é isso o que se deve esperar. O samba de uma nota só do discurso do ajuste parece ter contagiado a todos que atuam com a presidenta.
E se tem uma coisa que esse samba não faz é ajudar a melhorar a relação com os movimentos sociais. Ou seja, Dilma parece não ter entendido que o que lhe resta é apostar na quarta-feira.
A última grande batalha do impeachment de 2015 foi a das manifestações de rua ocorridas no domingo, dia 13 de dezembro, e na quarta-feira, 16. A expectativa era a de que novamente os defensores da saída da presidenta mobilizassem um número maior de pessoas. E fechassem o ano dando um sinal claro de que ele não acabaria no dia 31.
Mas depois de um domingo que decepcionou veio uma quarta-feira que surpreendeu. Os movimentos sociais ligados à CUT, ao MST, ao MTST, à UNE e a outras tantas entidades de cunho popular colocaram uma quantidade de gente inesperada nas ruas e mostraram uma capacidade de defender não o governo de Dilma, mas o que denominaram de resistência ao golpe que reposicionou as peças da disputa do impeachment.
O sucesso da quarta e o fracasso do domingo não tiveram relação com uma melhor avaliação do governo ou sequer à ampliação de sua capacidade de reagir. Estiveram muito mais relacionados aos erros da oposição que desde que viu as ruas crescerem a seu favor se comportou como abutre imaginando já poder dividir as partes de um cadáver insepulto.
Eduardo Cunha se tornou a imagem desse grupo que desejava acabar com o governo Dilma. E tudo o que Eduardo Cunha representa foi o combustível que garantiu unidade aos que foram as ruas naquela quarta-feira pra dizer que não aceitavam o golpe e que queriam Joaquim Levy e sua política econômica fora do governo.
Talvez menos pelo grito das ruas e mais porque já se via isolado, no dia 18 Joaquim Levy anunciou que deixava o cargo de ministro da Fazenda.
Havia uma narrativa que parecia possível depois daquilo. Nélson Barbosa, que assumiu o ministério, era o nome preferido de boa parte das lideranças que estavam nas ruas de quarta, porque se via nele a perspectiva de retomar uma política econômica de cunho desenvolvimentista e menos ortodoxa. E se imaginava que com Barbosa o discurso contra direitos deixaria de ser o foco principal do governo.
Mas o governo Dilma sempre surpreende. Quando parece que consegue avançar uma casa, ele anda duas pra trás. E Barbosa assumiu exatamente falando em cortar direitos. Como pregava Levy.
A reação do presidente da CUT, Wagner Freitas, e de outros líderes, como Guilherme Boulos, do MTST, foram diretas e bem retas. Não há apoio irrestrito ao governo e se Dilma não aproveitar a sua última chance para escolher ficar do lado que a elegeu, o impeachment ocorrerá sem resistência nas ruas.
O recado é o mais duro que a base social de Dilma lhe deu desde que foi reeleita. Por esse motivo, a presidenta não tem outra opção se deseja permanecer no cargo. Ou reposiciona sua relação com os movimentos que organizaram a quarta-feira ou ficará completamente isolada.
Não é com o mercado que a presidente precisa se reconciliar. E por este motivo, o discurso de Nélson Barbosa não podia ser pior.
Há uma urgência em rearticular uma proposta para o país que aponte para além da próxima curva. Que crie uma expectativa de melhoria na qualidade de vida de uma imensa parcela da população que viu sua situação melhorar um pouco nas duas últimas décadas, mas que ainda sobrevive muito mal.
Essa imensa população de brasileiros sua frio quando ouve um ministro da Fazenda falando em reformas trabalhista e da Previdência, especialmente em seu primeiro discurso. E mesmo que esteja disposta a discuti-las, sabe que isso ao ser destacado significa que a conta do ajuste será daqueles que vivem no andar de baixo.
Barbosa tem uma chance para não ver seu mandato como ministro da Fazenda ter acabado no primeiro dia. Pode chamar os movimentos da quarta-feira e convidá-los a participar de um pacto nacional pelo desenvolvimento junto com empresários, intelectuais e líderes de diferentes setores que estejam dispostos a pensar o país para além do rentismo.
Há muita gente com essa disposição. E há muita energia e ideias que poderiam ser absorvidas e implementadas pelo governo.
Para sair do isolamento só há uma possibilidade para o governo Dilma. Ele terá de buscar algo novo. Terá de tentar tirar da cartola mais do que coelhos. Mas ao que parece, não é isso o que se deve esperar. O samba de uma nota só do discurso do ajuste parece ter contagiado a todos que atuam com a presidenta.
E se tem uma coisa que esse samba não faz é ajudar a melhorar a relação com os movimentos sociais. Ou seja, Dilma parece não ter entendido que o que lhe resta é apostar na quarta-feira.
Somente uma correção. Rede social levou as pessoas, ou povo, as ruas com a CUT, MST, MTST e UNE. Eu mesmo e muitos que conhecidos não somos vinculados oficialmente a nenhum instituto, nem PT, e percebemos que a articulação foi por redes sociais.
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