domingo, 27 de dezembro de 2015

Playboy pede desculpa a Chico Buarque

Por Altamiro Borges

Os fascistas mirins que insultaram o cantor e compositor Chico Buarque na saída de um restaurante no Leblon - "seu merda", "PT é bandido" e outras agressões típicas dos midiotas -, estão na defensiva. A provocação só serviu para desmascarar os ricaços que se travestem de vestais da ética para destilar o seu ódio de classe e pregar um golpe no Brasil. Acuados, os playboys agora pedem desculpas - mas não dá para acreditar nesta gente elitista e hipócrita. "Xingar o sr. Chico foi um erro", afirmou o tal do Alvarinho, filho do empresário direitista Alvaro Garnero à repórter Marcela Paes, da Folha.

Segundo a matéria publicada na quarta-feira (23), "o jovem de 19 anos negou ter participado do bate-boca com o compositor. 'Eu não falei nada. Percebi uma confusão e fui ver o que era. Eu só conhecia os meninos envolvidos por meio de amigos em comum. Eu acho que o sr. Chico é uma pessoa mais velha e merece respeito. A cena em um local público foi desnecessária. Todo mundo tem direito a ter opinião e não ser hostilizado por isso'. Ainda de acordo com a reportagem, o filhinho de papai, que mora há 18 anos fora do Brasil, relatou que está recebendo ameaças depois do episódio deprimente.

"Fui ao shopping comprar presente de Natal e fui xingado. Também recebi uma ligação anônima com ameaças", garante Alvarinho, que agora se faz de vítima. "Segundo o estudante, sua mãe e avó estão preocupadas com sua segurança e querem que ele retorne a Londres. 'Se meus pais decidirem, terei que voltar. Foi uma coisa de hora e lugar errados. Estou me sentindo culpado sem ter feito nada'. O jovem afirma que 'não tinha ideia' que o compositor Chico Buarque era simpatizante do PT e se declara neutro politicamente". Inocente ou cínico? O seu pai, Alvaro Garnero, é íntimo do cambaleante Aécio Neves e já chegou a anunciar sua candidatura a deputado por uma sigla fisiológica, de direita.

Pouco importa se o seu arrependimento é sincero. O importante é que ele recuou, o que coloca ainda mais na defensiva dos fascistas mirins que pregam o ódio e a intolerância. Logo após a agressão, os internautas revelaram as sinistras histórias dos pirralhos que insultaram Chico Buarque. Alvarinho: filho do playboy aecista e neto do banqueiro Mário Garnero, que fez fortuna com negócios suspeitos durante a ditadura militar. Guilherme Junqueira Motta: herdeiro da Usina Açucareira Guaíra (SP), que prosperou graças a milhões em financiamento público e já foi processada por desrespeito às leis trabalhistas. E o rapper Tulio Dek: neto de um latifundiário que ajudou a fundar a famigerada União Democrática Ruralista (UDR) e já foi acusado de homicídios de lideranças rurais no Pará.

É interessante notar que a mídia golpista - que chocou o ovo da serpente fascista na sociedade - nada fez para investigar a trajetória dos provocadores do Leblon. Suas sinistras biografias foram reveladas por blogueiros e ativistas digitais. Ela também evitou dar maior destaque para o lamentável episódio, blindando os agressivos ricaços. Não houve editoriais condenando a ação fascista ou prestando apoio a Chico Buarque, um dos principais nomes da cultura brasileira. Os "calunistas" da mídia, sempre tão ácidos ao criticar qualquer incidente num protesto popular, também fizeram um silêncio cúmplice - alguns deles, bem no íntimo, devem até ter aplaudido a agressão dos playboys fascistas.   

No extremo oposto, milhares de internautas manifestaram a sua solidariedade ao cantor e compositor. Artistas, intelectuais, lideranças dos movimentos sociais e admiradores anônimos da sua genialidade fizeram questão de rechaçar os fascistas. Até um "rolezinho para tomar cerveja com Chico Buarque" foi agendado no Rio de Janeiro como forma de protesto irreverente. Um dos primeiros a manifestar apoio ao artista foi o casal Lula e Marisa em mensagem postada na página do ex-presidente no Facebook:  

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Chico Buarque é um patrimônio da cultura e do povo brasileiro; o nosso maior artista, o mais fino intérprete da alma de nossa gente. É admirado, por tudo o que fez e faz na música e na literatura, e respeitado, como cidadão consciente que jamais se omitiu nas lutas pela democracia e justiça social. Um brasileiro com essa trajetória, e que tem no sangue a herança do professor Sérgio Buarque e de dona Maria Amélia, não merece ser ofendido, muito menos por sua coerência. É muito triste ver a que ponto o ódio de classe rebaixa o comportamento de alguns que se consideram superiores, mas não passam de analfabetos políticos. Apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia. Receba, querido Chico, nossa solidariedade, sempre.

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A presidenta Dilma também postou várias mensagens no seu Twitter: "Minha solidariedade a Chico Buarque, um dos maiores artistas brasileiros, que foi hostilizado no Rio por conta de suas posições políticas"; "Reafirmo meu repúdio a qualquer tipo de intolerância, inclusive à patrulha ideológica. A Chico e seus amigos, o meu carinho"; "O Brasil tem uma tradição de conviver de forma pacífica com as diferenças. Não podemos aceitar o ódio e a intolerância"; "A disputa política é saudável, mas deve ser feita de forma respeitosa, não furiosa".

Em tempo: A desmoralização dos fascistas não significa que eles tiraram seu time de campo. "Depois do episódio no Leblon em que Chico Buarque foi hostilizado por um grupo de jovens, um homem entrou na livraria de um shopping na Zona Sul do Rio de Janeiro na manhã de sábado (26) e pichou e rasgou um exemplar do livro 'O irmão alemão', do cantor e escritor. Em uma das páginas do livro, ele escreveu: 'Petista, hipocrita (sic), ladrão de dinheiro público'", relata o jornal Correio do Brasil. 

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