Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Atribui-se a Fidel Castro uma fórmula para saber se um país passa por uma revolução. É fácil, segundo ele: basta verificar se os indivíduos sorriem. A alegria de viver durante uma revolução seria imediatamente perceptível no rosto de cada um.
Fidel não disse, mas seria razoável supor que o inverso também fosse verdadeiro. Sempre que o repúdio a um governo se tornasse universal e não houvesse solução natural para os problemas coletivos, a tristeza se estamparia em cada face.
Ninguém está contente com a situação atual ou sorri quando pensa no Brasil. A maioria está insatisfeita e o desejo por mudanças é unânime. Mas seria despropositado imaginar que todos estejam acabrunhados. No País real, os tristes e desesperançados são minoria. Menor ainda é a parcela que aceita a conversa oposicionista de que tudo de mal é responsabilidade de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores. Esse porcentual se reduz um pouco mais quando se trata daqueles que acreditam que a saída de Dilma e o fim do PT resolveriam os problemas da nação.
Apesar de agir em concerto no Parlamento, na mídia, no Judiciário e na sociedade civil, as oposições foram incapazes de promover e conservar na opinião pública o clima emocional necessário a transformar a insatisfação em revolta. No máximo, conseguiram atrair segmentos bizarros, de um direitismo de opereta.
Uma das razões é o fato de o tempo ter passado. As circunstâncias que propiciam amplos movimentos de opinião costumam ser fugazes e não resistem à banalização. É possível sustentar um clima político de alta eletricidade por semanas e, talvez, alguns meses, não por mais de um ano.
Quem aguenta ver os mesmos personagens a repetir as mesmas coisas dia após dia? Quem se emociona ao ouvir um discurso proferido cem vezes? Quem se surpreende com a denúncia de hoje, se é idêntica àquela de ontem?
A exacerbação da militância anti-Dilma e anti-PT da “grande” mídia serve para explicar a retração do movimento pró-impeachment. Ao repetir a mesma adjetivação exagerada, as mesmas manchetes tonitruantes, as mesmas fotos canhestramente encenadas, sua peroração tornou-se inócua. Hoje, ela prega para os convertidos.
A perda de interesse pela Operação Lava Jato é o sintoma. Joia do discurso oposicionista e vitrine para alguns dos personagens mais vistosos de suas fileiras, ela não consegue manter a atenção da opinião pública no nível de quando começou, por mais intenso que seja o holofote ofertado pelos meios de comunicação.
Em pesquisa do Instituto Vox Populi de dezembro de 2015, apenas 24% dos entrevistados disseram manter o mesmo elevado interesse do início da Lava Jato, taxa idêntica àquela dos que “não têm qualquer interesse pelo assunto e nunca tiveram”. Outros 18% afirmaram que “tinham muito, mas agora a acompanham sem interesse”, enquanto 10% responderam que “tinham muito, mas perderam completamente o interesse”. Entre os restantes, 21% “nunca tiveram grande interesse e assim permanecem” e 3% “nunca ouviram falar” no assunto.
A segunda razão a explicar a pequena capacidade mobilizadora da ideia de impeachment é a imagem dos políticos que patrocinam a empreitada.
A mesma pesquisa constatou: 55% dos entrevistados acreditam que o processo de impeachment é uma “vingança de Eduardo Cunha”, avaliação da qual discordam apenas 21%. Os restantes não sabem ou não têm opinião. A respeito das consequências do processo na economia, 45% afirmaram que “a oposição está sendo oportunista” ao propô-lo agora, enquanto 39% disseram que ela “faz o seu papel”.
Ante a pergunta a mencionar nomes de líderes da oposição, 49% disseram que “políticos como Aécio e Fernando Henrique Cardoso só pensam em seus próprios interesses quando apoiam o impeachment”, enquanto 34% afirmaram que “eles pensam no Brasil e fazem o que é correto”. O que significa que muitos eleitores do PSDB na eleição de 2014 não estão convictos do patriotismo de seus representantes.
A perspectiva das movimentações em favor do impeachment é ruim, casos elas realmente desejem contar com a opinião pública. O tempo não as ajuda e suas lideranças atrapalham. Só em um momento tão estranho de nossa história quanto este, uma tese tão despropositada ainda sobrevive.
Atribui-se a Fidel Castro uma fórmula para saber se um país passa por uma revolução. É fácil, segundo ele: basta verificar se os indivíduos sorriem. A alegria de viver durante uma revolução seria imediatamente perceptível no rosto de cada um.
Fidel não disse, mas seria razoável supor que o inverso também fosse verdadeiro. Sempre que o repúdio a um governo se tornasse universal e não houvesse solução natural para os problemas coletivos, a tristeza se estamparia em cada face.
Ninguém está contente com a situação atual ou sorri quando pensa no Brasil. A maioria está insatisfeita e o desejo por mudanças é unânime. Mas seria despropositado imaginar que todos estejam acabrunhados. No País real, os tristes e desesperançados são minoria. Menor ainda é a parcela que aceita a conversa oposicionista de que tudo de mal é responsabilidade de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores. Esse porcentual se reduz um pouco mais quando se trata daqueles que acreditam que a saída de Dilma e o fim do PT resolveriam os problemas da nação.
Apesar de agir em concerto no Parlamento, na mídia, no Judiciário e na sociedade civil, as oposições foram incapazes de promover e conservar na opinião pública o clima emocional necessário a transformar a insatisfação em revolta. No máximo, conseguiram atrair segmentos bizarros, de um direitismo de opereta.
Uma das razões é o fato de o tempo ter passado. As circunstâncias que propiciam amplos movimentos de opinião costumam ser fugazes e não resistem à banalização. É possível sustentar um clima político de alta eletricidade por semanas e, talvez, alguns meses, não por mais de um ano.
Quem aguenta ver os mesmos personagens a repetir as mesmas coisas dia após dia? Quem se emociona ao ouvir um discurso proferido cem vezes? Quem se surpreende com a denúncia de hoje, se é idêntica àquela de ontem?
A exacerbação da militância anti-Dilma e anti-PT da “grande” mídia serve para explicar a retração do movimento pró-impeachment. Ao repetir a mesma adjetivação exagerada, as mesmas manchetes tonitruantes, as mesmas fotos canhestramente encenadas, sua peroração tornou-se inócua. Hoje, ela prega para os convertidos.
A perda de interesse pela Operação Lava Jato é o sintoma. Joia do discurso oposicionista e vitrine para alguns dos personagens mais vistosos de suas fileiras, ela não consegue manter a atenção da opinião pública no nível de quando começou, por mais intenso que seja o holofote ofertado pelos meios de comunicação.
Em pesquisa do Instituto Vox Populi de dezembro de 2015, apenas 24% dos entrevistados disseram manter o mesmo elevado interesse do início da Lava Jato, taxa idêntica àquela dos que “não têm qualquer interesse pelo assunto e nunca tiveram”. Outros 18% afirmaram que “tinham muito, mas agora a acompanham sem interesse”, enquanto 10% responderam que “tinham muito, mas perderam completamente o interesse”. Entre os restantes, 21% “nunca tiveram grande interesse e assim permanecem” e 3% “nunca ouviram falar” no assunto.
A segunda razão a explicar a pequena capacidade mobilizadora da ideia de impeachment é a imagem dos políticos que patrocinam a empreitada.
A mesma pesquisa constatou: 55% dos entrevistados acreditam que o processo de impeachment é uma “vingança de Eduardo Cunha”, avaliação da qual discordam apenas 21%. Os restantes não sabem ou não têm opinião. A respeito das consequências do processo na economia, 45% afirmaram que “a oposição está sendo oportunista” ao propô-lo agora, enquanto 39% disseram que ela “faz o seu papel”.
Ante a pergunta a mencionar nomes de líderes da oposição, 49% disseram que “políticos como Aécio e Fernando Henrique Cardoso só pensam em seus próprios interesses quando apoiam o impeachment”, enquanto 34% afirmaram que “eles pensam no Brasil e fazem o que é correto”. O que significa que muitos eleitores do PSDB na eleição de 2014 não estão convictos do patriotismo de seus representantes.
A perspectiva das movimentações em favor do impeachment é ruim, casos elas realmente desejem contar com a opinião pública. O tempo não as ajuda e suas lideranças atrapalham. Só em um momento tão estranho de nossa história quanto este, uma tese tão despropositada ainda sobrevive.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: