Por Osvaldo Bertolino, em seu blog:
Era uma vez um homem chamado Paulino Silvério Doravante Blindado, mais conhecido na intimidade pelo apelido de Pê Esse Debê, que lhe haviam posto os íntimos, servindo-se sistematicamente das iniciais do seu nome. Achando-se na condição de chantagear uma distinta viúva, conseguiu ele a chave de um cofre onde encontrou o que parecia algo de imenso valor naqueles dias de crise. Era um saco enorme, de uns oitenta quilos. Apalpou, examinou…
- Hum! É dinheiro! Só notas de cem! – exclamou. E se eu pusesse o saco nas costas e fosse embora?
Entre o pensamento e a execução da ideia medeava apenas um movimento dos braços, acompanhado de uma contração vigorosa dos músculos. O saco de dinheiro foi jogado nas costas e o Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, ganhou com ele a rua.
A manhã estava chuvosa. Ao chegar à primeira esquina, o Pê Esse Debê (Paulino Silvério Doravante Blindado) sente que o saco está pesando demais. E estava mesmo. Com a água da chuva, o dinheiro foi inchando. E logo parecia que, em vez de oitenta quilos, pesava duzentos. E o Pê Esse Debê gemia, surdo, sob o peso dele. E se atirasse aquilo ao chão? Teve o pensamento, mas não lhe veio a coragem. Além disso, não poderia perder o esforço já empregado. Iria, pois, até o fim, com aquela carga maldita, que de hora para hora pesava mais.
Ao fim de duas horas de marcha, sem ter onde descansar, o Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, resolveu tomar uma decisão: deixar o saco no meio da rua e ir-se embora. Que o dinheiro se perdesse, mas que ele, o Pê Esse Debê, se salvasse. Mas a decisão chegou tarde. O saco tinha, com a chuva, o seu peso triplicado, de modo que era impossível ao carregador atirá-lo ao chão sem risco da própria vida.
- Bonito! - pensa. - Se eu procurar livrar-me do saco, ele me cairá em cima do ombro, matando-me. E se eu continuar a caminhar, morrerei da mesma forma, esmagado por ele. E ninguém por aqui para me ajudar! Onde fui me meter!
Vai gemendo, mas vai andando.
De repente, numa esquina, surgem vultos. É uma força-tarefa da Polícia Federal. Em outra circunstância, Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, teria amaldiçoado aquele encontro. Mas, naquele momento, era quase providencial. O chefe da força-tarefa aproxima-se, acompanhado do seu pelotão.
- Alto, elemento! – impõe-lhe a autoridade.
Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, detém-se, cambaleando sob o peso do saco.
- Que é isso que leva aí? – pergunta o ríspido chefe da força-tarefa.
- Dinheiro.
- É seu?
- Não, é nosso.
- Então entregue-o à autoridade.
- Estou pronto para isso, autoridade. Faça favor de tomar conta dele.
O jovem da força-tarefa aproxima-se, resoluto. Paulino Silvério Doravante Blindado passa da sua cabeça para a da autoridade o saco de trezentos quilos e vai saindo, esgueirando-se junto à parede.
E de lá, escondido, fica espiando o esforço da autoridade para achar o culpado do desvio daquele saco de dinheiro do cofre da viúva. E o Pê Esse Debê ri da situação, porque sem a intervenção da autoridade a seu favor teria sido esmagado por aquele peso todo.
Era uma vez um homem chamado Paulino Silvério Doravante Blindado, mais conhecido na intimidade pelo apelido de Pê Esse Debê, que lhe haviam posto os íntimos, servindo-se sistematicamente das iniciais do seu nome. Achando-se na condição de chantagear uma distinta viúva, conseguiu ele a chave de um cofre onde encontrou o que parecia algo de imenso valor naqueles dias de crise. Era um saco enorme, de uns oitenta quilos. Apalpou, examinou…
- Hum! É dinheiro! Só notas de cem! – exclamou. E se eu pusesse o saco nas costas e fosse embora?
Entre o pensamento e a execução da ideia medeava apenas um movimento dos braços, acompanhado de uma contração vigorosa dos músculos. O saco de dinheiro foi jogado nas costas e o Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, ganhou com ele a rua.
A manhã estava chuvosa. Ao chegar à primeira esquina, o Pê Esse Debê (Paulino Silvério Doravante Blindado) sente que o saco está pesando demais. E estava mesmo. Com a água da chuva, o dinheiro foi inchando. E logo parecia que, em vez de oitenta quilos, pesava duzentos. E o Pê Esse Debê gemia, surdo, sob o peso dele. E se atirasse aquilo ao chão? Teve o pensamento, mas não lhe veio a coragem. Além disso, não poderia perder o esforço já empregado. Iria, pois, até o fim, com aquela carga maldita, que de hora para hora pesava mais.
Ao fim de duas horas de marcha, sem ter onde descansar, o Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, resolveu tomar uma decisão: deixar o saco no meio da rua e ir-se embora. Que o dinheiro se perdesse, mas que ele, o Pê Esse Debê, se salvasse. Mas a decisão chegou tarde. O saco tinha, com a chuva, o seu peso triplicado, de modo que era impossível ao carregador atirá-lo ao chão sem risco da própria vida.
- Bonito! - pensa. - Se eu procurar livrar-me do saco, ele me cairá em cima do ombro, matando-me. E se eu continuar a caminhar, morrerei da mesma forma, esmagado por ele. E ninguém por aqui para me ajudar! Onde fui me meter!
Vai gemendo, mas vai andando.
De repente, numa esquina, surgem vultos. É uma força-tarefa da Polícia Federal. Em outra circunstância, Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, teria amaldiçoado aquele encontro. Mas, naquele momento, era quase providencial. O chefe da força-tarefa aproxima-se, acompanhado do seu pelotão.
- Alto, elemento! – impõe-lhe a autoridade.
Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, detém-se, cambaleando sob o peso do saco.
- Que é isso que leva aí? – pergunta o ríspido chefe da força-tarefa.
- Dinheiro.
- É seu?
- Não, é nosso.
- Então entregue-o à autoridade.
- Estou pronto para isso, autoridade. Faça favor de tomar conta dele.
O jovem da força-tarefa aproxima-se, resoluto. Paulino Silvério Doravante Blindado passa da sua cabeça para a da autoridade o saco de trezentos quilos e vai saindo, esgueirando-se junto à parede.
E de lá, escondido, fica espiando o esforço da autoridade para achar o culpado do desvio daquele saco de dinheiro do cofre da viúva. E o Pê Esse Debê ri da situação, porque sem a intervenção da autoridade a seu favor teria sido esmagado por aquele peso todo.
Excelente texto.... teria algo a ver com a propina da compra da petroleira argentina?
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