quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ministro da Saúde faz mal à saúde!

Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:

Nessa segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou emergência de saúde pública internacional: o aumento de casos de microcefalia e a “propagação explosiva” do zyka vírus.

Margareth Chan, diretora-geral da OMS, afirmou:

Os especialistas concordaram haver forte suspeita de uma relação causal entre a infecção por zika durante a gravidez e a microcefalia, embora ainda não comprovada cientificamente. Todos concordaram sobre a necessidade urgente de coordenar os esforços internacionais para investigar e entender melhor essa relação.

No Brasil, além de enfrentar o zika vírus e a microcefalia, nós temos um desafio extra: a incontinência verbal do ministro da Saúde, o deputado federal licenciado Marcelo Castro (PMDB-PI).

Após quatro meses à frente do Ministério, uma coisa é certa: Doutor Castro nunca poderia ser ministro, não fosse a grave crise enfrentada pelo governo da presidenta Dilma Rousseff, no final de 2015.

“[Ele] Interrompeu a prática da Medicina anos atrás para se dedicar aos seus próprios interesses comerciais e à política”, observou a reportagem do New York Times, de 31 de dezembro de 2015.

No sétimo mandato parlamentar – deputado estadual em 1981, 1986 e 1990; federal em em 2002, 2006, 2010 e 2014 –,ele está afastado da Medicina desde a década de 80.

Na Wikipedia, exceto a menção como ministro, há apenas estas linhas a respeito:

…formado em Medicina pela Universidade Federal do Piauí e Doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Desde que assumiu, em 5 de outubro de 2015, aparentemente age para fazer do Ministério da Saúde o seu trampolim para governador ou senador do Piauí.

Como não tem expressividade médica – por exemplo, o seu antecessor, o médico sanitarista Arthur Chioro, participou ativamente da criação do SUS e da Reforma Sanitária –, Castro viu na epidemia do zika vírus a sua chance. E passou a falar pelos cotovelos, uma impropriedade atrás da outra.

Em 13 de janeiro, disse que “torcia” para que as mulheres fossem infectadas pelo zika antes do período fértil, como forma de ganhar imunidade antes de a vacina ser desenvolvida. O Estadão registrou:

O comentário foi feito quando Castro falava sobre os projetos de desenvolvimento de vacina contra o vírus, que chegou ao Brasil no ano passado, já circula em 20 Estados e está relacionado ao surto de nascimento de bebês com microcefalia.

O ministro disse que o imunizante, uma vez desenvolvido, seria fornecido para parte da população considerada mais suscetível. “Não vamos dar vacina para 200 milhões de brasileiros. Mas para pessoas em período fértil. E vamos torcer para que mulheres antes de entrar no período fértil peguem a zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa da vacina”, disse.


Algumas observações a respeito desse desatino:

Primeiro: “torcer” é para time de futebol, escola da samba e quetais; jamais para um ministro da Saúde falando sobre saúde, em público (tampouco no privado).

O papel do Estado é orientar e tomar todas as medidas possíveis para evitar o alastramento de qualquer epidemia, inclusive a do zika. O Estado deve proteger ao máximo os seus cidadãos, em especial as grávidas para prevenir a infecção.

“Para as infectadas pelo zika que quiserem levar adiante a gestação, apesar do risco potencial de microcefalia, deve haver políticas sociais para lhes dar apoio e garantir acesso a tratamento para elas e os bebês afetados”, defende a advogada e feminista Beatriz, Galli, assessora regional de políticas para América Latina do Ipas, ONG global que se dedica a acabar com mortes evitáveis e incapacidades decorrentes de abortos inseguros.

As infectadas pelo zika vírus também devem ter o direito de interromper a gestação o mais rápido possível.

Galli sustenta:“Elas não podem ser obrigadas a vivenciar uma gravidez contra a vontade nesse contexto de epidemia. Não se tem ainda todas as evidências científicas sobre os efeitos do zika no desenvolvimento fetal. Além disso, sabemos que as mulheres pobres irão buscar métodos inseguros para abortar, podendo arriscar a sua vida e a sua saúde. A gravidez forçada nestes casos afeta a saúde mental e pode ser equivalente a uma situação de tortura. O Estado deve garantir o acesso à interrupção legal para salvar a vida das mulheres e proteger a sua saúde”.

Segundo: como bem observou no Blog da Saúde a médica e feminista Fátima Oliveira, o ministro não sabe o que é idade fértil, ou reprodutiva, coisa bastante diferente de “período fértil”, que dura em média seis dias e corresponde ao período da ovulação, que é antes da menstruação.

Terceiro: se o negócio é “torcer” como apregoa o doutor Castro, ele deveria fazer o mesmo para que as gestantes não sejam vítimas de outras causas de microcefalia já comprovadas. A lista é grande: infecções por sífilis, rubéola, citomegalovírus, HIV, herpes simples, toxoplasmose, meningite, diabetes materna mal controlada, intoxicação por radiação, metais pesados (como cobre), abuso de álcool e outras drogas, entre outras causas.

Em 22 de janeiro, no Piauí, Marcelo Castro afirmou:

“Há cerca de 30 anos o mosquito vem transmitindo doenças para nossa população e desde então nós o combatemos, mas estamos perdendo a guerra contra Aedes aegypti. Vivemos uma verdadeira epidemia. Precisamos da sociedade brasileira mobilizada na prevenção a essas doenças”.

No dia 25, em Brasília, ele carregou mais nas tintas:

“Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito”, afirmou, ao lembrar que o país registrou recorde de casos de dengue em 2015, com mais de 1,6 milhão de casos.

“[O ministro] talvez tenha sido infeliz. Se dissesse que o mundo inteiro está perdendo a luta, seria mais correto. Porque o problema não é só no Brasil. O Aedes está alcançando distribuição mundial”, observou ao UOL virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, coordenador de força-tarefa de vários laboratórios empenhados em desvendar o zika vírus.

Ao acusar o Brasil genericamente, o ministro jogou no colo do governo federal a responsabilidade pela disseminação do mosquito Aedes Aegypti. O papel do Ministério da Saúde é dar recursos e traçar as estratégias para enfrentamento de epidemias. Quem executa as ações de combate ao mosquito são os estados e os municípios.

Em 2015, por exemplo, ocorreram 733.490 casos no Estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin (PSDB). Isso corresponde a 43% dos 1.649.008 casos de dengue no Brasil inteiro.

Dos 863 óbitos decorrentes de dengue no mesmo período no País, 454 estão também na conta do tucano Alckmin.

Isso sem falar em outras pérolas do ministro. Por exemplo, quando questionado sobre planejamento familiar em tempos de zika e microcefalia, Marcelo Castro afirmou que “sexo era para amadores; gravidez, para profissionais”.

Ele já disse também ser necessário trabalhar para evitar o surgimento de uma “geração de sequelados”.

Marcelo Castro ainda não se deu conta do peso da palavra e da responsabilidade de um ministro da Saúde sério.

Prezado ministro, o Ministério da Saúde não é palanque eleitoral nem tribuna, onde pode-se dizer o que vier na cabeça e ficar por isso mesmo. As palavras que o senhor utiliza têm de ser cuidadosamente medidas antes de serem ditas.

Não se trata censura. Não é tolher o seu direito de falar. Mas usar com responsabilidade e precisão cada palavra, pois cada uma delas traz consequências.

O ministro ainda não percebeu que a Medicina hoje em dia não é alicerçada em “achismos” pessoais, como na época em que se formou. Mas, sim, é apoiada em evidências científicas, ou seja: condutas médicas avaliadas com rigor e baseadas nas melhores publicações científicas de cada área.

Eu sou repórter especializada em saúde há 38 anos. E, se existe uma lição, que aprendi desde jovem, é que saúde é uma área em que, no dia seguinte, não podemos simplesmente dizer: sinto muito, nós erramos.

Em função do que divulgamos, alguém já pode ter decidido por uma conduta equivocada, que pode até ter impacto fatal na vida dessa pessoa.

Por isso, nós, repórteres de saúde, temos de apurar muito bem toda a informação. Consertar o erro para essa pessoa no dia seguinte ou em horas, na maioria das vezes é impossível. A possiblidade de não haver acesso à informação corrigida é muito grande.

O ministro precisa ter consciência de que a sua fala tem impacto na vida das pessoas – para o bem e para o mal, pelo restante da vida. Todas as suas falas são registradas e entram para a história, como bom ou mau exemplo.

A propósito, talvez o maior absurdo dito pelo doutor Marcelo Castro foi em Santos, no litoral paulista em 15 de janeiro de 2016. Deu a entender que o número de vítimas fatais provocadas pela dengue era aceitável, em comparação à ameaça do zika vírus. O Jornal da Orla, sob o título As barbeiragens do ministro da Saúde, assinalou:



Ao saber de tamanho disparate, um médico que conheço de longa data alfinetou: “Ao dizer que o número de vítimas fatais de dengue era aceitável, Marcelo Castro inaugurou o estupra, mas não mata da dengue”.

Parêntese: Em 1989, durante campanha eleitoral, o hoje deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) pronunciou a infeliz frase: “Se está com desejo sexual, estupra, mas não mata”.

Esse mesmo médico detonou: “Marcelo Castro é inimputável verbal”.

Prezado ministro, sensibilidade zero ou menosprezo pela vida alheia? Foram 863 vidas, homens e mulheres, de várias faixas etárias, ceifadas. E mesmo que a dengue tivesse matado um só jovem, o senhor diria para os pais, familiares e amigos dele que esse óbito não foi importante?

Eu, Conceição Lemes, diria que o doutor Marcelo Castro sofre da síndrome incontinência verbal, agravada por falta de familiaridade científica e autossuficiência, combinadas com saudosismo do seu tempo de psiquiatra e do que não deu certo, os manicômios.

Este último aspecto se manifesta claramente na escolha e manutenção do seu ultra repudiado coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, o também psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho.

Tanto que, em manifesto em vídeo, elenco e a equipe do filme Nise – O Coração da Loucura clamam pela exoneração de Valencius.

Prezado ministro, pelo que vimos até agora o senhor, doutor, já esgotou a cota de disparates até a próxima geração.

Portanto, atenção. Do contrário, muito em breve o seu nome será acompanhado desta advertência: Cuidado, ministro da Saúde, Marcelo Castro, faz mal à saúde!

Um comentário:

  1. No momento serio que o pais vive essa atuação precária do atual ministro da saúde poderia não existir na vida do nosso povo, mas basta que se procure de leve a genisis de todos os males no pais e invariavelmente o PIG aparece, e a muito tempo infelismente é o primeiro poder, já domina as instituições do Executivo ao judiciário que vão a reboque puxados pelas orelhas se deixando levar numa mentira republicanesca o PIG prega uma realidade de derrotados e perdidos, atingindo e destruindo a motivação do cidadão, este é o motivo de nascer mais mosquito que cidadões responsáveis na busca de soluções e participação responsável de todos, o PIG vende a existência de um pais que esta a véspera de acabar e cada qual que cuide de si e mantenha a amizade com os justos e bons e quem seriam, claro os datenas e boecha da vida limpinhos que lavam os cérebros do povo com agua imunda.

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