quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O crime do carnaval 'Globoleza'

Por Eduardo Goldenberg, no blog Buteco do Edu:

Chega ao fim o Carnaval 2016 e (mais uma vez) a constatação é óbvia e urgente: é preciso que a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba) – com a imposição da medida por parte do Governo do Estado e da Prefeitura da Cidade – acabe com o monopólio da Rede Globo para a transmissão dos desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial no Rio de Janeiro. As razões são muitas e vou tentar elencá-las para que esse meu manifesto, solitário e apenas meu, ganhe cores de coerência e, quem sabe?, vá ganhando adesões ao longo do tempo.

De cara, dois absurdos inomináveis: por questões de conveniência (a TV preferiu exibir Big Brother Brasil no domingo e na segunda-feira) a Rede Globo deixou de transmitir o desfile de duas escolas gigantes, a Estácio de Sá no domingo e a Unidos de Vila Isabel na segunda-feira. Se a LIESA, os governos e a própria TV vendem o peixe dos desfiles como “o maior espetáculo da Terra”, como é possível simplesmente não transmitir o desfile de duas agremiações que têm torcedores (praticamente todo o bairro do Estácio e o de Vila Isabel) e admiradores em todo o Brasil?

O que leva alguém a vender a exclusividade (eis um dos crimes que a LIESA comete) da transmissão de um evento do porte dos desfiles das Escolas de Samba para uma emissora que, a seu livre alvedrio, decide não transmitir duas das doze agremiações? Mas isso não é tudo.

Durante a transmissão das demais dez Escolas de Samba, o modus operandi da Rede Globo foi o mesmo: os desfiles começavam a ser transmitidos quando as escolas já estavam na avenida há 10, 15, 20 minutos! Dos telespectadores foi sonegado, de todas as Escolas de Samba, um dos momentos mais esperados, o do esquenta, a entrada na avenida, os gritos de guerra. Durante esse tempo, os repórteres escalados pela emissora dos Marinho, todos eles estranhos à matéria (a exceção foi o Milton Cunha, coitado, cercado de beócios por todos os lados), mostravam o sanduíche de mortadela que a dona Iaiá levou pra arquibancada, entrevistavam membros do elenco da Rede Globo, faziam perguntas as mais estúpidas aos componentes famosos deixando de lado a alma das Escolas de Samba, os fundadores, os baluartes, passistas, com seus repórteres invadindo a pista para visivelmente atrapalhar a evolução do espetáculo.

Eu, que tive a sorte de estar na avenida para os desfiles de segunda-feira, só não sofri mais em casa porque assisti ao desfile pela TV (justamente por conta da exclusividade) ouvindo a excelente Rádio Arquibancada (aqui) com narração de Anderson Baltar e comentários de Luiz Antonio Simas e de outras feras no assunto. Mas era doído: enquanto eu ouvia os sambas na íntegra, com som ao vivo direto da avenida entremeado por poucos mas certeiros comentários, geralmente a TV exibia imagens absolutamente desconexas, num estupro do espetáculo, um desrespeito com os amantes dos desfiles (são muitos, são milhões!).

Ao final de cada desfile, dentro de um estúdio montado na Marquês de Sapucaí (o que já é também absurdo), a Rede Globo, então, era mais Rede Globo que nunca: constrangendo componentes das escolas que eram levados à força pra frente das câmeras, entrevistas inúteis, comentários descabidos, um processo de idiotização do telespectador semelhante ao processo que mata, aos poucos, o futebol brasileiro.

É urgente rever essa política. É preciso acabar com o monopólio da Rede Globo e deixar a livre concorrência transmitir os desfiles da Marquês de Sapucaí com suas equipes (que serão seguramente mais competentes que os idiotas da Vênus Platinada), deixando o telespectador fazer sua livre escolha. A LIESA, não muito acostumada ao diálogo, bunker com quem pouca gente tem coragem de mexer sob pena de isso-deixa-para-lá, precisa ao menos sentir a pressão do Poder Público em prol do bem do telespectador, do cidadão, do destinatário final das concessões públicas de rádio e televisão. Há que se acabar com a farra da Rede Globo. Há que se criar uma alternativa para que uma rede de TV possa transmitir o Carnaval para quem ama o Carnaval – com imagens do desfile na íntegra, com comentários (que serão sempre poucos mas pontuais) pertinentes feito por quem entende (e como há gente que manja do assunto por aí…, os já citados Anderson Baltar, Luiz Antonio Simas, Maria Augusta, Fábio Fabato, Alberto Mussa, Aydano Motta, tantos outros), sem firula, sem babaquice, sem idiotices que pretendem fazer do telespectador, perdão pela redundância, um idiota.

O melhor espetáculo da Terra merece. E os aficcionados também.

Até.

5 comentários:

  1. O autor do artigo chegou atrasado. A Rede Globo é quem está doida para se livrar dos desfiles das escolas de samba, sejam elas de que grupo for. Os sinais são claros: já não transmite todo o desfile ao vivo, nem o desfile das campeãs. A audiência, dada a chatice e a mesmice dos desfiles, vem declinando ano a ano. Ou seja, tiraram o caldo e agora vão jogar fora o bagaço. Portanto, a revolta, o inconformismo, o protesto do autor, como em outras ocasiões, é tão démodé quanto os desfiles. Mas isso muita gente já sabe.

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  2. A globo fez a LIESA ficar enorme desse jeito. Liga construída por bicheiros com o nítido propósito de vender direitos de transmissão à rede globo, que é o maior monopólio do Brasil.

    As autoridades do Rio de Janeiro, ocupadas no momento pelo fisiológico pmdb, que é protegido pela Vênus platinada, também não mexerá palha nenhuma.

    Sou a favor do protesto, edu. Embora acho que não passa de uma utopia o que você pretende.

    Saudações

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  3. Concordo a historia conta que "pasteurização" de todas áreas da Cultura BRASILEIRA. Sempre foi prejudicada pela DITADURA GLOBO, festivais abertos do povo, a decadência de MERCADO da comercialização do Carnaval estende a toda vida do Povo Brasileiro também na Dramaturgia e no pseudo "jornalismo" que usa lavagem cerebral para tentar destruir tudo de bom que se constrói no Brasil e na América Latina. Globo VIRA LATA é subsidiária da cia falida em agonia 2016.

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  4. o ANONIMO é um forte defensor da globolixo será um dos filhos do dono ,um dos 3 que não tem nome?

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  5. Defensor da Globolixo foi quem se submeteu à emissora ao longo de decênios, como as diretorias das escolas de samba, governos municipal e estadual e, finalmente, os que ficam no chororô de querer eternizar a submissão à Globolixo. Vocês, que defendem o monopólio, é que deveriam dirigir-se servilmente aos Três Irmãos e rogar-lhes que continuem a transmitir a mesmice de sempre até o fim dos tempos. Mas, fiquem tranquilos. Ou não. Como bem especulou o jornalista Mauro Donato, no DCM, com o que sou obrigado a concordar, o alvo agora é outro: os blocos. A mesmice já não vende. As viúvas da mesmice terão que se adaptar. Talvez até desdizendo tudo que afirmaram sobre a beleza da mesmice e da chatice monopolizada. Vou achar engraçado o malabarismo retórico. Anônimo 1.

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