quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Petrobras e a queda do PIB em 2015

Por Cristina Fróes de Borja Reis, no site Brasil Debate:

Na segunda quinzena de 2016, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou estimativa de queda no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2015 de 3,8%, sendo a previsão para 2016 de -3,6%. Segundo o relatório do FMI, a incerteza política tem contribuído para a crise, relacionada sobretudo aos desdobramentos das investigações da Operação Lava-Jato.

Como justifica o Fundo, o corte de investimentos da petroleira, e pode-se afirmar também que das grandes empresas relacionadas às denúncias de corrupção, tem sido extremamente danoso para as cadeias produtivas envolvidas. E ainda, do ponto de vista financeiro, as sucessivas depreciações do Brasil nos mercados internacionais realizadas pelas agências de classificação de risco, como a Fitch, sinalizam nova desvalorização dos ativos brasileiros e lançam oportunidades de especulação para investidores internacionais – já de olho nas possibilidades de ganhos no médio/ longo prazo (ver, por exemplo, artigo de Denise Godoy na Bloomberg, em agosto de 2015).

O combate à corrupção na Petrobrás é necessário e fundamental para o amadurecimento das instituições democráticas. A solução do caso e aplicação da lei devem rapidamente se concretizar para que a empresa se fortaleça novamente. A sua crise enfraquece o País, levando não somente ao desemprego e à deterioração da renda gerada pelas atividades produtivas da cadeia de valor da empresa (1), mas também à fragilidade externa.

Tanto porque a empresa é uma das maiores do mundo em seu setor – que vinha promovendo investimentos no exterior e fortalecendo a posição geopolítica do País em termos mundiais, quanto porque abala os projetos de exportação que incrementariam o ingresso de divisas no País – principalmente se o preço do barril voltasse a subir no médio e no longo prazos.

Não era difícil imaginar que o menor investimento da Petrobrás, em específico, causaria grande impacto na indústria brasileira e na economia como um todo. Como bem aponta Bruna Reis (2014), após ter sobrevivido ao processo de privatização dos anos noventa, a importância da estatal excede os interesses de seus acionistas e fornecedores, tendo se tornado motor da dinâmica de investimentos doméstica. A partir dos dados de Afonso e Fajardo (2015), infere-se que a empresa em 2013 chegou a ter um peso equivalente a 9,3% dos investimentos produtivos no País (formação bruta de capital fixo – FBCF), ou 1,92% do PIB.

Isso em termos diretos, ou seja, sem contar quanto do restante do investimento foi induzido pelo do Grupo Petrobras. Durante a crise de 2009, o Grupo Petrobras respondeu por 9,8% da FBCF, o percentual máximo na série de desde 1994, revelando seu importante papel anticíclico.

De modo geral, de 2004 a 2013, o grupo das empresas estatais brasileiras (cujos dados são disponibilizados pelo Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais – DEST) bateu recorde ano após ano de investimentos, até atingir R$ 113,7 bilhões em 2013 – sendo cerca de 87% correspondente à Petrobras. Tomando–se importância sobre o PIB, como mostra o Ministério da Fazenda, a proporção das estatais sobre o PIB saltou de 1,3% em 2004 para 2,2% em 2013.



Os investimentos mais do que quadruplicaram entre 2004 e 2013; porém, em 2014 e 2015 o quadro se reverteu drasticamente. Ainda segundo Afonso e Fajardo (2015), em 2014 os investimentos das estatais caiu para R$ 95 bilhões, sendo o correspondente ao Grupo Petrobras aproximadamente R$ 82 bilhões. E em 2015, conforme anunciado em janeiro de 2016 na revisão do Plano de Negócios e Gestão (PNG), a projeção de investimentos é de somente US$ 23 bilhões, o que em reais deve significar valor ao de 2014 por causa da desvalorização cambial.

A estimativa de investimentos para 2016 é de investimentos totais de US$ 20 bilhões, sendo que, no total, a inversão para o período 2015-2019, reduziu-se em 24,5% em relação ao inicialmente projetado, de US$ 130,3 bilhões para US$ 98,4 bilhões.

Além disso, a companhia prevê desinvestimentos, com projeção de venda de ativos em 2015-2016 de US$ 15,1 bilhões – tendo sido US$ 700 milhões em 2015. Após a revisão mais pessimista das projeções anteriores neste início do ano ocorreu nova queda dos preços das ações da Petrobras PETR3 e PETR4, que alcançaram o valor mais baixo desde 2003, quando os investimentos da empresa eram pelo menos cinco vezes inferiores em relação aos do ano passado em reais, sem falar no faturamento e porte estrutural muito menores.

Assim, a depressão nos mercados financeiros parece ter um componente especulativo importante, que convém aos interesses de uma minoria aplicadora nos mercados financeiros e também dos grupos sociais internos e externos que se beneficiam da recessão econômica nacional.



Referências

(1) Por exemplo, como argumenta Reis (2014) a partir de Campos Neto (2014), o impacto da Petrobras domesticamente chama a atenção na indústria naval brasileira. A atividade de produção de petróleo e gás offshore, juntamente com a decisão de contratar embarcações produzidas no Brasil com porcentagens crescentes de conteúdo local, propiciaram o crescimento de empregados com carteira assinada na indústria naval de 1,9 mil em 2000 para 71 mil em março de 2013.

AFONSO, José Roberto; FAJARDO, Bernardo. Evolução da taxa de investimentos e a indução pelo setor público. Nota técnica IBRE/FGV, Rio de Janeiro, abr. 2015.

CAMPOS NETO, C. A. S. Investimentos e financiamentos na indústria naval brasileira – 2000-2013. In: CAMPOS NETO; POMPERMAYER (orgs.) Ressurgimento da indústria naval no Brasil (2000-2013). Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2014.

FMI. World Economic Outlook, January 2016.

GODOY, D. Brazil Fund Manager Beating Peers Says Best Time to Buy in Years. Bloomberg Business, 25 ago. 2015.

PETROBRAS S.A. Plano de Negócios e Gestão (PNG), jan. 2016.

REIS, B. S. Os efeitos do investimento público sobre o investimento privado no Brasil recente: 1980-2013. Trabalho de Conclusão de Curso, Bacharelado em Ciências Econômicas da UFABC, 2014.

* Publicado originalmente em Temas de Economia Aplicada (janeiro de 2016), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

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