segunda-feira, 2 de maio de 2016

"Meninas do Jô" e o ódio fascista

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Se não estiver enganado, o quadro do programa Jô Soares “Meninas do Jô” foi criado em 2006. A formação original de “meninas” reunia as jornalistas Cristiana Lobo, Lilian Witte Fibe, Ana Maria Tahan e a socióloga Lúcia Hippolito. Elas tinham como objetivo falar mal do PT uma vez por semana. Era a primeira guerra da Globo contra Lula, a do “mensalão”, vencida pelo petista.

O quadro atravessou a segunda metade dos anos 2000 e a primeira metade dos anos 2010 exibindo um partidarismo escrachado a favor do PSDB.






Jô Soares foi execrado pela esquerda por conta das “madames” fúteis que colocou para comentar política em clima de “coluna social”. Contudo, do final de 2014 para cá o apresentador deixou ver que apenas tolerava o uso de seu programa pela Globo para fazer proselitismo político em favor do PSDB e contra o PT.

Em 5 de dezembro de 2014, quando Dilma acabara de ser reeleita, as “meninas tucanas” começaram – já ali – a agitar a bandeira do impeachment. Foi naquele momento que Jô Soares não suportou mais e desabafou: “Falar de impeachment da presidente Dilma logo após ela ter sido reeleita, é golpe”.

Confira o vídeo daquele programa [aqui].

O desabafo de Jô teve consequências. Enraivecida com o surto de independência do apresentador, a Globo cancelou seu programa. Seu contrato termina no fim do ano e não será renovado. Este, pois, é o último ano de Jô na Globo e ele faz questão de repetir isso toda madrugada.

No programa do último dia 27 de abril, da conformação original do “Meninas do Jô” só havia Lilian Witte Fibe, antipetista “de raiz”, quem ficou visivelmente deslocada em meio a uma discussão absolutamente necessária e que certamente surpreendeu a muitos espectadores, desacostumados a assistirem a debate tão profundo na Globo.

A formação desse quadro não poderia abrigar uma Ana Maria Tahan ou uma Lúcia Hippolito, tucanas de coração e antipetistas de alma. Para um debate sobre o clima de intolerância no Brasil foram convidadas as jornalistas Cristina Serra, Lillian Witte Fibe, Natuza Nery, Mara Luquet.

Jô Soares dedicou o programa a defender os artistas Chico Buarque de Hollanda e José de Abreu dos ataques que vêm sofrendo por conta de suas opiniões políticas. Grupos fascistas vêm atacando esses e outros artistas com calúnias e insultos.

Pior do que as injúrias, Jô afirmou que são as acusações falsas de que opiniões como a de Chico Buarque e José de Abreu se devem ao governo Dilma suborná-los com a “Lei Rouanet”.

A defesa dos dois artistas por Jô, porém, não é tão surpreendente quanto a adesão de três das quatro jornalistas que estavam na bancada de “meninas”. Cristina Serra (Globo), Natuza Nery (Folha de São Paulo) e Mara Luquet (Globo) concordaram integralmente com o apresentador. Lilian Witte Fibe ficou meio de lado, constrangida, emitindo muchochos.

A discussão sobre os casos José de Abreu e Chico Buarque, sobre a Lei Rouanet e sobre o clima de beligerância de grupos que tentam expulsar de lugares públicos quem seja favorável ao PT está no vídeo [aqui].

O assunto mais surpreendente da noite, porém, foi levantado pela jornalista Natuza Nery (Folha):

- Nesse momento de forte intolerância tem uma coisa que me assusta mais do que algumas pessoas não poderem… Anônimos ou famosos não poderem sair na rua. Os adultos, quando são hostilizados, eles conseguem se defender minimamente, exagerando ou não. Agora,uma das características desta crise é a de que CRIANÇAS vão às escolas e se elas, no meio da sala de aula, se arvoram a dizer o que elas pensam, reproduzirem o que os pais pensam [sobre política, ou seja, se forem favoráveis ao PT], elas sofrem bullying.

Confira esse debate no vídeo [aqui].
O mais espantoso é que as outras jornalistas, à exceção de Lilian Witte Fibe, concordaram. Os casos de intolerância contra pessoas que apoiam o PT já assusta até setores da sociedade que faziam pouco de quem avisava aonde iria dar a mídia (Globo à frente) insuflar o ódio contra o PT.

É assustador tomarmos consciência da regressão social e cultural que o Brasil está sofrendo. Imaginar que país incutem ódio nos filhos, ensinam-nos a odiar quem pensa diferente, estimulam violência e preconceito em mentes tão frágeis, lembra um outro período da história, em um outro país, em que as pessoas foram levadas a tais extremos.

E todos sabem no que dá discurso de ódio como contra aqueles que alemães dos anos 1930 e brasileiros de 2016 chamam de “comunistas”. E quem pensa que o holocausto não se repetiria, basta lembrar que temos até um político de extrema direita que exalta genocídio, tortura e doutrinação política de crianças. E que alguns fanáticos chamam de “Messias”.

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