Uma das grandes características de uma ruptura institucional é tentar impor uma agenda impopular, daqueles que não conseguem passar pelo crivo democrático (muito comumente exercido pelo voto), justamente por adotar uma política onerosa para a maior parcela do povo, beneficiando, na esmagadora maioria das vezes, uma pequena parcela da população.
Não é diferente com o golpe que estamos vivendo no Brasil, uma ação rasteira e baixa da plutocracia nacional que não aceitou perder, pela quarta vez seguida, as rédeas da política nacional e encontrou na manipulação de massa, aliada a insatisfação e alienação popular, uma saída para colocar de volta a política “bem sucedida” (pra elite) no liberalismo do PSDB, concentrando renda nas mãos de poucos e voltando a dar privilégios para a classe mais abastada do país.
Não é atoa, portanto, que o PMDB tenha lançado um “plano de governo” cuja a análise, além de levar ao passado como se fossemos o Marty Mcfly, nos faz inferir o desejo latente dos golpistas em voltar as políticas de retrocesso para os pobres, para que a nobreza nacional volte a ter os aeroportos vips, serviços baratos em domicílio se possível transito tranquilo sem carros populares pagos a prestação e, principalmente, muito capital para acumular.
Logo que terminei de ler a peça privatista da fundação Ulysses Guimarães, me bateu um sentimento saudosista incontrolável e comecei a me imaginar no universo de Dawson’s Creek ou Friends, lembrei do Baggio perdendo pênalti, dancei É o Tchan, vi Forrest Gump pela milésima vez e comecei a cantar “corazón partío”, da novela Torre de Babel.
Imaginei que o Temer poderia, inclusive, chamar o Marcos Mion para comentar o plano de governo, bem no estilo dos “piores clipes do mundo”.
Até mesmo porque, já no começo do documento, por exemplo, temos um elogio explícito aos anos 90 sobre a renda per capita do brasileiro que cresceu, em média, 2,5% ao ano.
Oras, por mais tucano que alguém possa ser, qualquer um consegue notar que os resultados brasileiros nos anos 2000 são muito superiores à decada antecessora (quem crê no FHC acha que ele “plantou” e Lula só colheu. Sim, tem louco pra acreditar em tudo) e, portanto, há de se desconfiar que o documento deixe esses dados de fora.
Mas, obviamente, tal atitude não é à toa. A medida que lemos o documento vamos encontrando uma série de referências aos métodos falidos do PSDB e isso deve preocupar qualquer brasileiro ou brasileira que conheceu as mazelas daquele tempo e sonha com um Brasil mais nacionalista.
E, certamente, nesse grupo nada seleto (praticamente todo mundo se lascou) podemos incluir a nossa categoria petroleira.
Em primeiro lugar, porque Temer deixa claro no plano dele que deverá “enfrentar interesses organizados e fortes, quase sempre bem representados na arena política”. Isso mesmo, para manter as conquistas dos últimos anos. No caso da categoria petroleira, a briga pode ser ilustrada pela volta dos estaleiros lotados de empregos, as aquisições de novas refinarias, termoelétricas e fábricas de fertilizantes e o avanço cada vez mais necessário dos direitos trabalhistas básicos, como saúde e segurança.
Haverá, portanto, uma batalha enorme pela frente, para que a privataria não passe de um walkman com o CD do Sandy & Jr ou um disquete com Prince of Persia.
* Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF).
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