Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
Entre a entrevista concedida à CartaCapital e a conversa com o jornalista Luís Nassif transmitida na noite da quinta-feira 9 pela TV Brasil, passaram-se duas semanas. Quando eu, Mino Carta e André Barrocal encontramos Dilma Rousseff no Palácio do Alvorada, a presidenta afastada fugiu apenas de dois assuntos: o que faria para tentar reverter os votos desfavoráveis no Senado e quais medidas tomaria caso fosse reconduzida ao cargo.
À pergunta sobre a viabilidade de convocar novas eleições, respondeu sem rodeios: disse não acreditar na disposição dos congressistas de abrir mão de seus mandatos, contrapartida, segundo ela, para aceitar a convocação das urnas.
Na entrevista a Nassif, Dilma também rejeitou a proposta de “eleições, já”, mas acenou com a convocação de um plebiscito a respeito. “Só tem um jeito, dado o nível de contradição entre os diferentes atores políticos”, avaliou, “que se recorra à população”.
“Um plebiscito?”, insistiu Nassif.
“Um plebiscito, de alguma forma”, admitiu, antes de acrescentar: “Não vou dar aqui o menu completo”.
O que levou Dilma a mudar de posição em tão pouco tempo? Ou, ao menos, de expor suas ideias a respeito do tema?
A petista chegou à conclusão, após muitas conversas, de ser esta a única alternativa para encurralar os defensores do impeachment no Senado e atrair os votos dos parlamentares incomodados com a voracidade do governo provisório, mas pouco dispostos a reconduzi-la ao cargo sem uma contrapartida.
Dilma precisa, em tese, conquistar seis senadores para impedir seu afastamento definitivo (a votação está prevista para agosto). No início da semana, Roberto Requião, do PMDB, informou ter reunido em um jantar 30 colegas dispostos a derrubar o impedimento no Plenário caso a presidenta afastada aceitasse a tese das eleições antecipadas ou, no mínimo, da convocação de um plebiscito.
A proposta também facilita o diálogo com os movimentos sociais. O PT defende “eleições, já”, na esperança de reconduzir Lula ao poder o mais cedo possível, mas duas das organizações fortemente empenhadas no “Fora,Temer”, a CUT e o MST, são frontalmente contra.
João Pedro Stédile, do MST, teme que novas eleições gerais piorem ainda mais a correlação atual de forças no Executivo e no Legislativo. Em resumo: levar a população às urnas neste momento de fragilidade do campo progressista aumentaria a presença da direita no Congresso.
Nem mesmo o plebiscito o agrada. O melhor, argumenta, seria derrotar o impeachment por meio de mobilizações populares. Dilma, reempossada, conduziria uma reforma política e governaria com base no programa que a reelegeu em 2014.
O MST talvez aderisse ao plebiscito se a consulta incluísse a opção de uma assembleia constituinte exclusiva para, entre outros pontos, promover uma reforma política.
A direção da CUT, por sua vez, considera que a defesa do plebiscito ou das “eleições, já” tende a enfraquecer os movimentos de rua mobilizados contra o governo interino de Michel Temer. Caso a ideia não emplaque, acreditam os sindicalistas, a margem de manobra da oposição a Temer ficará reduzida, com consequências funestas para os trabalhadores.
As reticências em relação ao plebiscito parecem ter sido relegadas a segundo plano diante da constatação dos conselheiros da presidenta e da ala política contrária à permanência de Temer: mesmo se reverter o quadro no Senado, Dilma não teria condições de governar em paz.
O Congresso continuaria hostil, bem como uma ampla parcela do empresariado e da dita opinião pública. Além disso, a pressão da Lava Jato não cessaria, sem falar nos processos em curso no Tribunal Superior Eleitoral, atualmente presidido por Gilmar Mendes, cujo viés anti-petista é inegável.
Um apoio maciço da população a novas eleições, pensam esses conselheiros, obrigaria o Congresso a ceder. Quanto à presidenta afastada, ela deixaria de ser a “culpada” por todos os males do País e desempenharia a função de maestra de um movimento capaz de encurtar a crise política. Para a biografia de Dilma, seria melhor até do que o papel de vítima de um golpe branco.
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