terça-feira, 21 de junho de 2016

O "jatinho-fantasma" de Campos e Marina

Por Altamiro Borges

O sinistro caso do "jatinho-fantasma", que serviu à campanha presidencial de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva em 2014, finalmente poderá ser desvendado. Nesta terça-feira (21), a chamada "Operação Turbulência", que mobiliza mais de 200 agentes da Polícia Federal e reúne 60 mandados de busca e apreensão da Justiça, apresentou indícios de que os donos da aeronave pertencem a uma organização criminosa e têm relação com os casos de corrupção da Petrobras apurados pela midiática Lava-Jato.  

Segundo as investigações, o grupo atuava em Pernambuco e Goiás e teria movimentado mais de R$ 600 milhões desde 2010. Entre os suspeitos que já foram presos encontram-se o filho do ex-deputado Luiz Piauhylino (PSB-PE) e os empresários João Carlos Lyra Filho e Apolo Santana. Ao investigar as empresas proprietárias da aeronave Cessna Citattion PR-AFA, que transportava Eduardo Campos, a Polícia Federal descobriu que eram "laranjas". Na sequência, a PF concluiu que os seus sócios eram responsáveis por transações com várias firmas fantasmas, algumas delas investigadas na Lava-Jato. 

A suspeita da Polícia Federal é de que parte dos recursos movimentados nas contas que adquiriram o jatinho serviram para o pagamento de propinas a políticos e para a formação de caixa 2 de campanha. Em depoimentos, os empresários João Carlos Lyra e Apolo Santana confirmaram, em agosto de 2014, que fizeram vários empréstimos para adquirir a aeronave da campanha de Eduardo Campos. O caso de Apolo Santana é o mais complicado. Dono da Bandeirantes Companhia de Pneus, ele recebeu fortunas em incentivos fiscais no segundo mandato de Eduardo Campos no governo de Pernambuco. A Polícia Federal suspeita que os benefícios tiveram relação direta com o empréstimo da aeronave.

Segundo o noticiário desta terça-feira, os mandados judiciais estão sendo cumpridos em 16 cidades pernambucanas e no Aeroporto de Guararapes, em Recife. Do total de 60 operações, 33 são de busca e apreensão, 22 de condução coercitiva e cinco de prisão preventiva. A Justiça também determinou a indisponibilidade de contas e o sequestro de aeronaves e helicópteros dos membros da organização criminosa. De acordo com os investigadores, os envolvidos responderão pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Muita sujeira deve surgir nos próximos dias. 

As doações "escondidas" da OAS

A "Operação Turbulência" deverá ter impacto nas pretensões políticas de Marina Silva, abalando seu acalentado projeto presidencial. A ex-verde sempre evitou tratar do "jatinho-fantasma", mantendo sua aura de pura e ética. Agora, porém, as novas revelações poderão trincar a sua imagem. Para tumultuar ainda mais seu plano de voo, na semana passada o empresário Léo Pinheiro, um dos sócios da OAS, afirmou em sua "delação premiada" aos procuradores da Lava-Jato que repassou recursos ao Caixa-2 da sua campanha presidencial em 2010, quando ela concorreu pelo PV. Segundo o delator, o apoio financeiro de forma ilegal ocorreu porque "Marina não queria aparecer associada à empreiteira".

A bombástica delação virou capa do jornal "O Globo" e repercutiu em outros veículos. De imediato, a eterna candidata, que hoje comanda a Rede, reagiu. "Nunca usei um real em minhas campanhas que não tivesse sido regularmente declarado", garantiu em nota. Já Guilherme Leal, o sócio da empresa Natura que foi vice na chapa de Marina Silva em 2010, até confirmou ter recebido Léo Pinheiro em seu escritório, em São Paulo, mas negou ter recebido contribuições ilícitas. Ele informou, porém, que a OAS doou R$ 400 mil na ocasião ao PV, mas diz que o recurso foi registrado na Justiça Eleitoral.

Conforme ironizou a Folha, estas explicações não limpam a imagem da presidenciável. "O discurso de Marina Silva nem sempre se traduziu em práticas, e ela mesma reconheceu essa dificuldade em entrevistas. Nas campanhas de 2010 e 2014, ela foi criticada por ambientalistas por aceitar doações de empresas poluidoras e que não seguem à risca a legislação ambiental, como mineradores e fábricas de fertilizantes. A candidata justificou que aceitava essas doações em 2010 porque a campanha presidencial havia sido curta e não houve tempo para mobilizar os seus apoiadores". A frágil resposta lembra a história inusitada do "jatinho-fantasma", que agora finalmente aterrissou na realidade!

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