terça-feira, 21 de junho de 2016

Onde andam os indignados de junho de 2013?

Por Tereza Cruvinel, em seu blog:

Há três anos, de repente, não mais que de repente, milhares de brasileiros foram às ruas protestar contra tudo e todos: a corrupção, a má qualidade dos serviços públicos e o descontentamento com a classe política. “Vocês não nos representam”, diziam os cartazes. No dia 20 de junho as manifestações assumiram seu caráter mais violento e político, com tentativa de invasão do Congresso e de incêndio contra o Itamaraty. O Brasil nunca mais foi o mesmo, mas hoje, com a presidente reeleita em 2014 afastada, o governo interino alvejado por denúncias de corrupção que derrubam ministros em série e alcançam o presidente interino, sem falar no derretimento moral do Congresso, com as políticas públicas, inclusive as de mobilidade urbana, sendo desmanchadas, por onde andam aqueles indignados?

O estopim, dias antes, fora o aumento de R$ 0,20 no preço do transporte coletivo em São Paulo, mas as interrogações sobre a origem daquelas manifestações nunca foram devidamente respondidas. No início foi um grupo conhecido e legítimo, o Passe Livre, que saiu às ruas contra o aumento da tarifa. A classe média conservadora, que nunca engolira o viés popular dos governos petistas, pegou carona, deixando o carro na garagem. E em seguida começaram a aparecer manifestantes exóticos e perigosos. Os blac-blocs vestidos de negro, os mascarados e os vândalos que quebravam tudo. Máscaras do Anonymous eram vendidas a R$ 50 na rua 25 de março, o gueto paulistano dos camelôs. A PM paulista, no início, parecia contemporizar com os que ultrapassavam claramente o direito à livre manifestação para instaurar o caos.

Foram as manifestações de junho que produziram o primeiro sangramento de uma presidente da República até então muito popular. O Congresso, embora também contestado, através da oposição e da banda conservadora, apreciou. A popularidade de Dilma despencou, apesar das medidas que ela tomou para acelerar obras de mobilidade urbana.

Foi também naquele mês de junho que o mundo soube, através de Eduardo Snowden, que a agência de segurança norte americana, a NSA, havia bisbilhotado governantes de alguns países. No Brasil, foram monitorados a Petrobrás, Dilma e altas autoridades do governo brasileiro.

As manifestações esfriaram mas voltaram a pipocar durante a Copa do Mundo, no ano seguinte, a pretexto do alto custo das arenas. Dilma foi vaiada em Brasília na Copa das Confederações. E depois em São Paulo, com palavrões. Um vírus novo circulava pelas veias sociais brasileiras, e ele causará surtos de intolerância, agressividade, grosseria, incivilidade.

Mas Dilma se reelegeria em 2014, num apertado segundo turno. No curso da campanha, a Operação Lava Jato ganhou músculos e começaram a ser vazadas as delações premiadas de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Até então, as revelações que vinham a público eram as que atingiam o PT. Estava inaugurada a prática do vazamento seletivo.

Menos de uma semana depois do resultado eleitoral, uns gatos pingados apareceram com cartazes de impeachment. O PSDB não engoliu a derrota, pediu recontagem, contestou o resultado no TSE. Ao acenar com um ajuste ortodoxo para o mercado, depois de escolher Levy para o ministério da Fazenda, ela perdeu também parte dos que a apoiaram na guerra do segundo turno, e que reconquistaria agora, na resistência ao golpe. Novamente os indignados vão para as ruas, agora pedir o impeachment, e agora liderados por movimentos até então desconhecidos, como MBL, Vem prá Rua e assemelhados. A direita ganhou cara e nomes.

Nesta passagem dos três anos da irrupção do vulcão, o Brasil está muito pior do que em 2013. Os indignados com a corrupção têm muito mais motivos para pedir que todos se mandem, mas estão recolhidos desde que o impeachment passou na Câmara. Afinal, o PT foi tirado do governo, embora o ministério de Temer esteja varejado por denúncias. Eduardo Cunha, depois de servir ao impeachment, foi afastado da presidência da Câmara mas não foi cassado nem preso. Ainda. E se o for, é porque já pode ser descartado.

Quem sai às ruas agora são os defensores da democracia, para combater o golpe que pode ser consumado em agosto.

Tal como o de 1964, o de agora ainda não tem suas origens, atores e ações devidamente conhecidas. Mas com certeza tudo começou em junho de 2013.

Um comentário:

  1. Excelente artigo, da sempre excelente, Teresa Cruvinel!
    Parabéns ao Altamiro Borges, por transcrevê-lo!

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