Por Guilherme Boulos, no site Outras Palavras:
Michel Temer sempre foi um homem dos bastidores. Construiu sua influência nas sombras, como estrategista da pequena política, negociando cargos e votos no Parlamento. Não por acaso foi presidente da Câmara por duas vezes e dirigiu o PMDB por tantos anos. Ali se movimentava com destreza.
Nesse habitat natural armou a conspiração que o levou à Presidência da República. Mas toda negociação tem seu preço. A de um golpe então! Custa caro. Temer subiu a rampa do Planalto com uma extensa lista de restos a pagar. Isso explica a sucessão de presepadas de seu governo em menos de um mês. Anúncios desastrados, um ministério aristocrático e a perda de alguns de seus principais aliados por envolvimento orgânico com corrupção.
Sem falar no clima generalizado de rejeição pelas ruas. Qual setor da sociedade defende seu governo? Fora da Bolsa, da Fiesp ou da família Marinho difícil encontrar alguém. Nem a classe média que foi às ruas contra Dilma está disposta a defendê-lo. Parece até um tanto envergonhada com o guisado que suas panelas produziram.
Mas, acreditem, o pior está por vir. Temer terá que entrar em campo para salvar Eduardo Cunha. E muito provavelmente “salvá-lo-á”, segundo seu português rebuscado. Ingenuidade achar que a decisão está nas mãos da Tia Eron. Temer utilizará todos os recursos à sua disposição para manter o mandato de Cunha, na Comissão de Ética ou no plenário.
Ele não tem outra escolha. Se Cunha for cassado e preso, seu governo não sobrevive 24 horas. Cunha já mostrou que é o tipo de bandido que cai atirando. Sua salvação talvez seja o mais caro dos restos a pagar do golpe. A reação da opinião pública e das ruas é imponderável. Pode ser o estopim.
Além disso, tem Sérgio Machado. O homem-bomba do PMDB já derrubou dois ministros e levou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a pedir a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros e do ex-presidente José Sarney. Isso porque foi divulgada, até aqui, apenas uma pequena parte das gravações. Se em uma hora de gravação, Machado derrubou dois ministros, em mais três ou quatro ele derruba Temer. E há quem diga que os áudios de Machado na PGR podem chegar a 60 horas.
Os fantasmas assombram o Jaburu. Cunha e Machado podem transformar o governo ilegítimo de Temer no mais breve da história recente. Mas isso depende muito de Janot e do STF. E em ambos os casos não há critérios claros de conduta. Janot, por exemplo, tinha os áudios de Sérgio Machado desde março, mas só os tornou públicos em maio. Se o tivesse feito antes poderia ter mudado a história do impeachment.
O mesmo vale para o STF, em particular Teori Zavascki, que segurou por quatro meses a decisão do afastamento de Eduardo Cunha. Pode perfeitamente segurar por mais quatro a decisão sobre as prisões. Seguramente eles têm seus interesses próprios. Resta saber se lhes interessará tomar decisões de impacto antes da votação final no Senado.
Mas, independente disso, o fato é que a instabilidade veio para ficar. Aqueles que acreditaram na fábula da pacificação e união nacional com Michel Temer já começaram a se dar conta de que o buraco é mais embaixo.
Sem falar na velha toupeira. Em clima de recessão e medidas antipopulares, as mobilizações sociais tendem a irromper com cada vez mais força e intensidade.
Quem pariu o golpe que o balance.
Michel Temer sempre foi um homem dos bastidores. Construiu sua influência nas sombras, como estrategista da pequena política, negociando cargos e votos no Parlamento. Não por acaso foi presidente da Câmara por duas vezes e dirigiu o PMDB por tantos anos. Ali se movimentava com destreza.
Nesse habitat natural armou a conspiração que o levou à Presidência da República. Mas toda negociação tem seu preço. A de um golpe então! Custa caro. Temer subiu a rampa do Planalto com uma extensa lista de restos a pagar. Isso explica a sucessão de presepadas de seu governo em menos de um mês. Anúncios desastrados, um ministério aristocrático e a perda de alguns de seus principais aliados por envolvimento orgânico com corrupção.
Sem falar no clima generalizado de rejeição pelas ruas. Qual setor da sociedade defende seu governo? Fora da Bolsa, da Fiesp ou da família Marinho difícil encontrar alguém. Nem a classe média que foi às ruas contra Dilma está disposta a defendê-lo. Parece até um tanto envergonhada com o guisado que suas panelas produziram.
Mas, acreditem, o pior está por vir. Temer terá que entrar em campo para salvar Eduardo Cunha. E muito provavelmente “salvá-lo-á”, segundo seu português rebuscado. Ingenuidade achar que a decisão está nas mãos da Tia Eron. Temer utilizará todos os recursos à sua disposição para manter o mandato de Cunha, na Comissão de Ética ou no plenário.
Ele não tem outra escolha. Se Cunha for cassado e preso, seu governo não sobrevive 24 horas. Cunha já mostrou que é o tipo de bandido que cai atirando. Sua salvação talvez seja o mais caro dos restos a pagar do golpe. A reação da opinião pública e das ruas é imponderável. Pode ser o estopim.
Além disso, tem Sérgio Machado. O homem-bomba do PMDB já derrubou dois ministros e levou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a pedir a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros e do ex-presidente José Sarney. Isso porque foi divulgada, até aqui, apenas uma pequena parte das gravações. Se em uma hora de gravação, Machado derrubou dois ministros, em mais três ou quatro ele derruba Temer. E há quem diga que os áudios de Machado na PGR podem chegar a 60 horas.
Os fantasmas assombram o Jaburu. Cunha e Machado podem transformar o governo ilegítimo de Temer no mais breve da história recente. Mas isso depende muito de Janot e do STF. E em ambos os casos não há critérios claros de conduta. Janot, por exemplo, tinha os áudios de Sérgio Machado desde março, mas só os tornou públicos em maio. Se o tivesse feito antes poderia ter mudado a história do impeachment.
O mesmo vale para o STF, em particular Teori Zavascki, que segurou por quatro meses a decisão do afastamento de Eduardo Cunha. Pode perfeitamente segurar por mais quatro a decisão sobre as prisões. Seguramente eles têm seus interesses próprios. Resta saber se lhes interessará tomar decisões de impacto antes da votação final no Senado.
Mas, independente disso, o fato é que a instabilidade veio para ficar. Aqueles que acreditaram na fábula da pacificação e união nacional com Michel Temer já começaram a se dar conta de que o buraco é mais embaixo.
Sem falar na velha toupeira. Em clima de recessão e medidas antipopulares, as mobilizações sociais tendem a irromper com cada vez mais força e intensidade.
Quem pariu o golpe que o balance.
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