Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
Há análises para todos os gostos e sabores a respeito de como o país pode sair desta encalacrada golpista em que se encontra. Algumas buscando alternativas concretas, mesmo que isso implique em riscos. Outras mais interessadas em marcar posição, porque só enxergam um único caminho para trilhar. Dialogo neste texto com a apresentada por Valter Pomar, dirigente petista e professor universitário, que criticou o artigo que escrevi sobre o tema.
Na política, ter um único caminho e apenas um Plano A para executar é quase como definir a derrota antes da disputa.
Não é fazendo-se de durão (ou de cabeça dura) que se amedronta o adversário. É mostrando que se tem capacidade para bloquear suas iniciativas e ao mesmo tempo ir criando condições para impor novo ritmo ao jogo.
Dilma foi derrotada nas duas votações congressuais do impeachment, na Câmara e no Senado.
E para voltar ao cargo precisa de 28 votos de senadores. Hoje tem entre 18 e 22 votos, a depender de quem faz as contas.
Essa é a conjuntura real do jogo político institucional.
Dilma foi afastada da presidência por uma turma de jagunços lideradas por Temer e Cunha, não por ter cometido um crime de responsabilidade.
Sabendo disso, não se pode imaginar que o golpe será desmontado apenas com boas intenções.
É preciso construir uma saída que permita ampliar o apoio popular ao Fora Temer e ao mesmo tempo faça com que alguns senadores aceitem votar contra o afastamento da presidenta.
O plebiscito aventado por Dilma nas últimas entrevistas que concedeu dialoga com isso.
Essa é a única saída existente?
Evidente que não. Aliás, é importante que se busque construir outras.
E nenhuma delas deve descartar que Dilma faça uma Carta aos Brasileiros e aos Movimentos Sociais, por exemplo.
Mas a saída apresentada por Valter Pomar no seu texto é, em síntese, a de que é melhor perder do que tentar buscar soluções para não permitir que Temer fique.
Esta frase diz muito do que Pomar defende: “A luta contra o impeachment e em defesa dos direitos atacados pelo governo golpista não deve ser vista, portanto, como ‘a última batalha da guerra antiga’. Ao contrário, devemos ver a luta pelo Fora Temer e em defesa dos direitos como ‘a primeira batalha de uma nova guerra”‘.
Essa solução não pode ser descartada como alternativa, mas é por demais pobre para ser a única.
É bonito, heroico e romântico fazer discursos fortes bradando o não passarão. Mas não é suficiente.
Por isso buscar uma repactuação que passe pela decisão popular não deve ser considerado uma derrota e nem num acordo de elites. É uma forma de tirar o adversário do controle do jogo e abrir novas pontes de diálogo com setores da sociedade que estão na linha do nem um nem o outro. E com os setores populares que se sentiram traídos pelo governo Dilma.
O fato objetivo é que a crise que o Brasil se encontra não é algo trivial e as respostas para ela também não são fáceis. Por isso é mais do que compreensível que neste momento se enxerguem caminhos distintos para superá-la.
Mas é preciso saber qual é o objetivo de cada um nesta trilha. Se por exemplo for só salvar o mandato de Dilma, restará apenas uma alternativa, a de ganhar ou perder tudo lutando por isso.
Se for a de aceitar que a correlação de forças deste momento é desfavorável para a volta pura de Dilma, acenar com a convocação de um plebiscito é a possibilidade que se tem para não jogar fora a democracia imperfeita que construímos a duras penas.
O que é certo é que não será nem no grito de velhas palavras de ordem e nem com ironia de argumentos que se vai atravessar este momento duro e turbulento. Vai ser preciso muito mais do que isso.
Entre outras coisas será fundamental descer do salto salto alto e entender que não estamos sozinhos neste jogo.
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