Por Caio Botelho, no site da UJS:
Tem circulado pela internet uma ferramenta que permite conferir todos os seus amigos no Facebook que curtem a página de Jair Bolsonaro (se tem essa curiosidade, clique aqui). Ao contrário do que estimulava uma campanha nas redes sociais, não excluí absolutamente ninguém, tanto por considerar que uma curtida em uma página não representa, necessariamente, compromisso com o que defende o parlamentar, quanto pelo fato de que sempre discordei dessa ideia de se isolar, como em uma ilha imaginária onde só estejam os que pensam igual ou semelhante. Ora, uma das tarefas de quem deseja ajudar a mudar o mundo é justamente a de se propor dialogar com as pessoas à sua volta, sobretudo com as que tem pontos de vista diferentes, por mais difícil que isso seja.
Mas esse experimento serviu para constatar na prática algo que eu já sabia: a maioria dos meus conhecidos (virtuais ou presenciais) que têm alguma afinidade com Bolsonaro não são necessariamente más pessoas. E é isso que torna as coisas bem mais complexas. O mundo, afinal, não é tão binário quanto as discussões no Face podem fazer parecer.
Evidente que ser “bom” ou “mau” é bem relativo. Muitos criminosos de guerra responsáveis por graves crimes contra a humanidade eram, no íntimo, pais amáveis e excelentes amigos, o que não os tornavam menos monstros. Mas o debate sobre moral e ética vai ficar para outro dia. Por ora vamos tratar de Bolsonaro e seus seguidores.
De acordo com pesquisa CNT/MDA divulgada nesta quarta-feira (8), Jair Bolsonaro conta com 5,4 a 6,2% das intenções de voto para presidente, a depender do cenário. São números significativos que, embora longe de representar uma possibilidade de vitória (ao menos até o momento), mostram que suas ideias têm certa repercussão ante uma parcela considerável da sociedade.
Bem verdade que a existência de uma figura como Bolsonaro só é possível em decorrência da baixa cultura política no Brasil, que resulta em um nível de debate extremamente raso sobre questões importantes para o país e permite que o senso comum e os chavões dominem as discussões que deveriam girar em torno de ideias. Ele surfa em frases prontas como “bandido bom é bandido morto” e abraça bandeiras conservadoras, conquistando uma parte do eleitorado carente de um candidato de “direita”. É nada mais que uma caricatura muito mal feita.
Mas o principal problema não é defender pautas conservadoras, como a redução da maioridade penal e a liberação do porte de armas, dentre outras. Evidente que discordo dessas e de todas as outras propostas que ele apresenta, mas a disputa ideológica, de visões de mundo distintas, deve ser encarada com naturalidade. É até saudável que esses temas sejam mesmo debatidos profundamente.
Entretanto, tudo isso só é possível em um ambiente democrático, onde o direito de defender seu ponto de vista seja plenamente respeitado. E isso impõe uma condição sine qua non para qualquer pessoa, em especial se esta pretende ser presidente da República: o respeito à democracia.
E é aqui que eu quero convidar você, simpatizante de Bolsonaro, a uma reflexão:
Você é contra o direito de as pessoas que pensam diferente se expressar? Você considera que o povo não deve ter o direito de eleger democraticamente seu presidente? Você defende que, se elas discordarem do governo, podem ser perseguidas, presas, torturadas? Você é a favor de que alguém possa ser assassinado por suas opiniões políticas?
Se a resposta for sim, nem adianta ler o resto. Caso contrário, continuemos a conversa.
Pois bem: Jair Bolsonaro defende a ditadura militar que governou esse país por mais de duas décadas. Nesse período, a liberdade de expressão e as garantias fundamentais deixaram de existir, as eleições diretas para presidente foram suspensas e o governante de plantão era escolhido entre os generais, sem nenhum respaldo popular. Quem pensava diferente era perseguido, preso, exilado, torturado e poderia ser até mesmo assassinado, como muitos o foram.
O seu voto na sessão da Câmara dos Deputados que decidiu pela abertura do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 17 de abril, foi dedicado à Carlos Alberto Brilhante Ustra, considerado o maior torturador da ditadura. Sob o comando de Ustra, o DOI-CODI, órgão de repressão dos militares, foi responsável por centenas de torturas (inclusive da própria Dilma) e execuções. Não escapavam sequer grávidas e crianças. Ratos eram colocados nas vaginas das mulheres, para não falar dos métodos “tradicionais”: choque, pau de arara, cadeira do dragão, afogamento, geladeira, dentre muitos outros. O espetáculo de horrores está amplamente documentado.
É com isso que você quer se comprometer?
Jair Bolsonaro não pode ser presidente não por ser “conservador” (embora essa condição já seja suficiente para não contar com meu voto), mas sobretudo por ser um fascista. E apoiá-lo, mesmo ciente de seu nulo compromisso com a democracia, é ser cúmplice de tudo isso e – pior – oferecer uma contribuição para que esse passado tenebroso volte a se repetir. E confesso: não quero acreditar que alguns dos meus amigos tenham afinidade com esse tipo de pensamento.
Sobre as outras pautas, topo discutir cada uma delas, fraternal e respeitosamente, e espero que você encontre um candidato digno de defendê-las com qualidade, o que não é o caso de Bolsonaro. Evidente que liberdade de expressão não se confunde com o “direito” de destilar preconceitos contra pobres, mulheres, negras e negros, LGBT, etc. Fora isso, que a gente continue a se permitir debater todos os temas importantes e que, para o bem da democracia, Jair Bolsonaro seja derrotado e encontre seu merecido lugar no lixo da história.
Tem circulado pela internet uma ferramenta que permite conferir todos os seus amigos no Facebook que curtem a página de Jair Bolsonaro (se tem essa curiosidade, clique aqui). Ao contrário do que estimulava uma campanha nas redes sociais, não excluí absolutamente ninguém, tanto por considerar que uma curtida em uma página não representa, necessariamente, compromisso com o que defende o parlamentar, quanto pelo fato de que sempre discordei dessa ideia de se isolar, como em uma ilha imaginária onde só estejam os que pensam igual ou semelhante. Ora, uma das tarefas de quem deseja ajudar a mudar o mundo é justamente a de se propor dialogar com as pessoas à sua volta, sobretudo com as que tem pontos de vista diferentes, por mais difícil que isso seja.
Mas esse experimento serviu para constatar na prática algo que eu já sabia: a maioria dos meus conhecidos (virtuais ou presenciais) que têm alguma afinidade com Bolsonaro não são necessariamente más pessoas. E é isso que torna as coisas bem mais complexas. O mundo, afinal, não é tão binário quanto as discussões no Face podem fazer parecer.
Evidente que ser “bom” ou “mau” é bem relativo. Muitos criminosos de guerra responsáveis por graves crimes contra a humanidade eram, no íntimo, pais amáveis e excelentes amigos, o que não os tornavam menos monstros. Mas o debate sobre moral e ética vai ficar para outro dia. Por ora vamos tratar de Bolsonaro e seus seguidores.
De acordo com pesquisa CNT/MDA divulgada nesta quarta-feira (8), Jair Bolsonaro conta com 5,4 a 6,2% das intenções de voto para presidente, a depender do cenário. São números significativos que, embora longe de representar uma possibilidade de vitória (ao menos até o momento), mostram que suas ideias têm certa repercussão ante uma parcela considerável da sociedade.
Bem verdade que a existência de uma figura como Bolsonaro só é possível em decorrência da baixa cultura política no Brasil, que resulta em um nível de debate extremamente raso sobre questões importantes para o país e permite que o senso comum e os chavões dominem as discussões que deveriam girar em torno de ideias. Ele surfa em frases prontas como “bandido bom é bandido morto” e abraça bandeiras conservadoras, conquistando uma parte do eleitorado carente de um candidato de “direita”. É nada mais que uma caricatura muito mal feita.
Mas o principal problema não é defender pautas conservadoras, como a redução da maioridade penal e a liberação do porte de armas, dentre outras. Evidente que discordo dessas e de todas as outras propostas que ele apresenta, mas a disputa ideológica, de visões de mundo distintas, deve ser encarada com naturalidade. É até saudável que esses temas sejam mesmo debatidos profundamente.
Entretanto, tudo isso só é possível em um ambiente democrático, onde o direito de defender seu ponto de vista seja plenamente respeitado. E isso impõe uma condição sine qua non para qualquer pessoa, em especial se esta pretende ser presidente da República: o respeito à democracia.
E é aqui que eu quero convidar você, simpatizante de Bolsonaro, a uma reflexão:
Você é contra o direito de as pessoas que pensam diferente se expressar? Você considera que o povo não deve ter o direito de eleger democraticamente seu presidente? Você defende que, se elas discordarem do governo, podem ser perseguidas, presas, torturadas? Você é a favor de que alguém possa ser assassinado por suas opiniões políticas?
Se a resposta for sim, nem adianta ler o resto. Caso contrário, continuemos a conversa.
Pois bem: Jair Bolsonaro defende a ditadura militar que governou esse país por mais de duas décadas. Nesse período, a liberdade de expressão e as garantias fundamentais deixaram de existir, as eleições diretas para presidente foram suspensas e o governante de plantão era escolhido entre os generais, sem nenhum respaldo popular. Quem pensava diferente era perseguido, preso, exilado, torturado e poderia ser até mesmo assassinado, como muitos o foram.
O seu voto na sessão da Câmara dos Deputados que decidiu pela abertura do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 17 de abril, foi dedicado à Carlos Alberto Brilhante Ustra, considerado o maior torturador da ditadura. Sob o comando de Ustra, o DOI-CODI, órgão de repressão dos militares, foi responsável por centenas de torturas (inclusive da própria Dilma) e execuções. Não escapavam sequer grávidas e crianças. Ratos eram colocados nas vaginas das mulheres, para não falar dos métodos “tradicionais”: choque, pau de arara, cadeira do dragão, afogamento, geladeira, dentre muitos outros. O espetáculo de horrores está amplamente documentado.
É com isso que você quer se comprometer?
Jair Bolsonaro não pode ser presidente não por ser “conservador” (embora essa condição já seja suficiente para não contar com meu voto), mas sobretudo por ser um fascista. E apoiá-lo, mesmo ciente de seu nulo compromisso com a democracia, é ser cúmplice de tudo isso e – pior – oferecer uma contribuição para que esse passado tenebroso volte a se repetir. E confesso: não quero acreditar que alguns dos meus amigos tenham afinidade com esse tipo de pensamento.
Sobre as outras pautas, topo discutir cada uma delas, fraternal e respeitosamente, e espero que você encontre um candidato digno de defendê-las com qualidade, o que não é o caso de Bolsonaro. Evidente que liberdade de expressão não se confunde com o “direito” de destilar preconceitos contra pobres, mulheres, negras e negros, LGBT, etc. Fora isso, que a gente continue a se permitir debater todos os temas importantes e que, para o bem da democracia, Jair Bolsonaro seja derrotado e encontre seu merecido lugar no lixo da história.
1 comentários:
duas perguntas com uma observação: O que é fascista? E quem foi Carlos Marighella (outro sujeito que teve votos dedicados)?
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