Por Flávio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
Sigamos algumas acepções do Aurélio para o termo "diplomacia": "ciência ou arte das negociações"; "circunspecção e gravidade nas maneiras"; "delicadeza, finura";"astúcia ou consumada habilidade com que se trata qualquer negócio". Convenhamos, é tudo o que falta ao senador e ministro provisório das Relações Exteriores, José Serra, que desde que se tornou o interventor no Itamaraty, está implantando a sua "diplomacia das patadas".
A diplomacia brasileira tem uma vasta tradição na arte de negociar. É respeitada no mundo inteiro, por sua formação profissional e sua capacidade de estar presente em todas as instâncias e circunstâncias. Na sua história, tem nomes respeitáveis, desde mesmo antes de existir como tal, como no caso de Alexandre de Gusmão, o artífice do Tratado de Madri e da teoria do uti possidetis que, na prática, quase triplicou a área ocupada pelo futuro Brasil.
Depois, em meio à instabilidade do cargo (a sucessão de ministros era vertiginosa durante o Império e os começos da República Velha) sucederam-se alguns nomes de grande porte: os Rio Branco, Visconde e Barão, pai e filho, sendo que o segundo ocupou o cargo durante oito anos, consolidando o profissionalismo como marca da nossa diplomacia.
Além deles, Lauro Müller, Otávio Mangabeira, Osvaldo Aranha, João Neves da Fontoura, José Carlos de Macedo Soares, San Thiago Dantas, uma curiosa trinca ditatorial, Gibson Barbosa, Azeredo da Silveira e Ramiro Saraiva Guerreiro – que foram responsáveis pela mudança da política brasileira em relação à África pós-colonial –, Celso Amorim. Posso até estar cometendo alguma injustiça, esquecendo algum nome (Vicente Rao…).
Mas enfim, a lista é longa e a tradição, respeitável. E respeitada no mundo inteiro. Despossuído de Forças Armadas relevantes em escala mundial (apesar da participação na Segunda Guerra), o Brasil sempre teve na diplomacia seu exército de atuação no exterior.
Com poucas exceções. Uma delas ocorre hoje: dentro dos desmanches das conquistas civilizatórias do Brasil desde a Constituição de 1988, sobressai a "diplomacia de patadas" promovida por José Serra, demolindo esta reputação duramente erguida e conquistada desde as complicadas questões do Prata durante o Império.
Atacando a torto e a direita, sobretudo em nome da direita e de seu afã de atuar para uma hipotética torcida local e provinciana, o ministro provisório vem promovendo um show internacional completamente desagradável e despido dos valores da diplomacia, cujo nome sugere, como diz o Aurélio, circunspecção e comedimento.
Agride os governos sul-americanos, despreza a África, corteja ostensivamente o que os Estados Unidos têm de pior, promove a subserviência como valor em relação aos grandes e a prepotência em relação aos pequenos, e assim vai promovendo o Brasil a ator de segunda – talvez terceira – categoria no cenário internacional, achando que está abafando a banca.
Original? Nem tanto. Tem predecessores. Raul Fernandes, ministro no governo Dutra, que torrou as reservas brasileiras em importações supérfluas, condicionou a política externa brasileira aos ditames do lado norte-americano da Guerra Fria então nascente, não reconheceu a URSS nem a China, em nome de obter favores dos Estados Unidos que nunca se materializaram, já que foram absorvidos pela prioridade do Plano Marshall.
Vasco Leitão da Cunha, ministro de Mazzilli e de Castelo Branco, encarregado de desmontar a Política Externa Independente de Jânio Quadros, João Goulart e San Tiago Dantas, também em nome de favores norte-americanos que só se materializaram no campo do auxílio à repressão.
Os esperados investimentos internacionais, com a política subserviente de acolher os tribunais e os juros estrangeiros como parâmetros da nossa dívida externa, transformaram o "milagre brasileiro" no pesadelo posterior, que pagamos até que o governo Lula liquidasse a dívida com o FMI.
Hoje, com o golpe em curso, vivemos riscos semelhantes. Pelo afã do desmonte das políticas públicas promovido pelo governo golpista, dá para medir o avanço civilizatório que conseguimos desde 1988 e a brutal regressão que se quer implantar aos idos anteriores a 1930.
Com a luta de foice no escuro promovida entre os promotores do golpe: Temer e seus PMDBs aloprados, PSDBs açodados, judiciários e PFs interessados em se promover como salvadores da pátria, ideólogos do Instituto Millennium, a mídia corporativa decadente, engolfada em perda de prestígio nacional e internacional, verbas públicas e renda. No bastidor, setores das Foças Armadas interessados em retomar a "liberdade perdida" desde 88...
Em meio a esta hecatombe, "brilha" a estrela do senador Serra, candidato ao Oscar de pior ministro de Relações Exteriores da história do Brasil. O ministro das patadas, que vão se transformando em pataquadas.
A diplomacia brasileira tem uma vasta tradição na arte de negociar. É respeitada no mundo inteiro, por sua formação profissional e sua capacidade de estar presente em todas as instâncias e circunstâncias. Na sua história, tem nomes respeitáveis, desde mesmo antes de existir como tal, como no caso de Alexandre de Gusmão, o artífice do Tratado de Madri e da teoria do uti possidetis que, na prática, quase triplicou a área ocupada pelo futuro Brasil.
Depois, em meio à instabilidade do cargo (a sucessão de ministros era vertiginosa durante o Império e os começos da República Velha) sucederam-se alguns nomes de grande porte: os Rio Branco, Visconde e Barão, pai e filho, sendo que o segundo ocupou o cargo durante oito anos, consolidando o profissionalismo como marca da nossa diplomacia.
Além deles, Lauro Müller, Otávio Mangabeira, Osvaldo Aranha, João Neves da Fontoura, José Carlos de Macedo Soares, San Thiago Dantas, uma curiosa trinca ditatorial, Gibson Barbosa, Azeredo da Silveira e Ramiro Saraiva Guerreiro – que foram responsáveis pela mudança da política brasileira em relação à África pós-colonial –, Celso Amorim. Posso até estar cometendo alguma injustiça, esquecendo algum nome (Vicente Rao…).
Mas enfim, a lista é longa e a tradição, respeitável. E respeitada no mundo inteiro. Despossuído de Forças Armadas relevantes em escala mundial (apesar da participação na Segunda Guerra), o Brasil sempre teve na diplomacia seu exército de atuação no exterior.
Com poucas exceções. Uma delas ocorre hoje: dentro dos desmanches das conquistas civilizatórias do Brasil desde a Constituição de 1988, sobressai a "diplomacia de patadas" promovida por José Serra, demolindo esta reputação duramente erguida e conquistada desde as complicadas questões do Prata durante o Império.
Atacando a torto e a direita, sobretudo em nome da direita e de seu afã de atuar para uma hipotética torcida local e provinciana, o ministro provisório vem promovendo um show internacional completamente desagradável e despido dos valores da diplomacia, cujo nome sugere, como diz o Aurélio, circunspecção e comedimento.
Agride os governos sul-americanos, despreza a África, corteja ostensivamente o que os Estados Unidos têm de pior, promove a subserviência como valor em relação aos grandes e a prepotência em relação aos pequenos, e assim vai promovendo o Brasil a ator de segunda – talvez terceira – categoria no cenário internacional, achando que está abafando a banca.
Original? Nem tanto. Tem predecessores. Raul Fernandes, ministro no governo Dutra, que torrou as reservas brasileiras em importações supérfluas, condicionou a política externa brasileira aos ditames do lado norte-americano da Guerra Fria então nascente, não reconheceu a URSS nem a China, em nome de obter favores dos Estados Unidos que nunca se materializaram, já que foram absorvidos pela prioridade do Plano Marshall.
Vasco Leitão da Cunha, ministro de Mazzilli e de Castelo Branco, encarregado de desmontar a Política Externa Independente de Jânio Quadros, João Goulart e San Tiago Dantas, também em nome de favores norte-americanos que só se materializaram no campo do auxílio à repressão.
Os esperados investimentos internacionais, com a política subserviente de acolher os tribunais e os juros estrangeiros como parâmetros da nossa dívida externa, transformaram o "milagre brasileiro" no pesadelo posterior, que pagamos até que o governo Lula liquidasse a dívida com o FMI.
Hoje, com o golpe em curso, vivemos riscos semelhantes. Pelo afã do desmonte das políticas públicas promovido pelo governo golpista, dá para medir o avanço civilizatório que conseguimos desde 1988 e a brutal regressão que se quer implantar aos idos anteriores a 1930.
Com a luta de foice no escuro promovida entre os promotores do golpe: Temer e seus PMDBs aloprados, PSDBs açodados, judiciários e PFs interessados em se promover como salvadores da pátria, ideólogos do Instituto Millennium, a mídia corporativa decadente, engolfada em perda de prestígio nacional e internacional, verbas públicas e renda. No bastidor, setores das Foças Armadas interessados em retomar a "liberdade perdida" desde 88...
Em meio a esta hecatombe, "brilha" a estrela do senador Serra, candidato ao Oscar de pior ministro de Relações Exteriores da história do Brasil. O ministro das patadas, que vão se transformando em pataquadas.
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