Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:
A onda de preconceito e ódio que assola o país tem tudo a ver com a mídia, segundo a filósofa Marcia Tiburi. "O discurso fascistizante de alguns meios", para ela, "não permite qualquer tipo de vôo intelectual", culminando em um cenário no qual o senso comum é formado por verdades absolutas. A crítica foi feita durante bate-papo nesta segunda-feira (4), em São Paulo, em atividade do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?.
O tema da discussão é também a questão central de seu livro mais recente, Como conversar com um fascista (Ed. Record). "O nome do livro é irônico, já que é praticamente impossível dialogar com um fascista", explica. "A ideia surgiu em um evento familiar, no qual uma pessoa esclarecida passou a destilar ódio sobre temas como sexualidade e política. Aos poucos, foi gerando enorme constrangimento e silêncio. Algumas pessoas saíram chorando da mesa".
Muitos dos presentes – cerca de 150 – compartilharam histórias e opiniões com a escritora, que trocou ideias sobre como enfrentar o recrudescimento do conservadorismo, além de rechaçar o golpe em curso no Brasil e opinar sobre os desafios e as limitações da esquerda.
“A direita sabe fazer discurso”, assinala. “O capitalismo não triunfa só por oprimir, reprimir e agredir, mas por saber usar discursos sedutores. Uma greve geral não funciona hoje pois não seduz. Há, sim, medo de perder emprego, mas também há uma comodidade de estar em frente à televisão. Pra maioria da população, a televisão é uma liturgia capitalista”.
Para mudar esse paradigma, Tiburi defende fazer 'a revolução da revolução'. “Temos de nos liberar de toda a parafernália da tradição, família e propriedade. É um desafio subjetivo, um teste, que devemos fazer para avançar na transformação da realidade”, defende. “É preciso fazer uma greve geral, sim, mas uma greve geral midiática”.
Ainda sobre a parcela de responsabilidade das esquerdas na conjuntura, a filósofa chama atenção para o fato de ter-se promovido políticas sociais sem voltar as atenções para a educação. “Qual governante de esquerda no Brasil se ateve realmente a essa questão? É uma grande dívida nossa. Não há futuro sem potencializar a educação”, afirma.
Os traumas do Messias
Além da política, Tiburi recorre à psicanálise para tentar entender a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro, defensor da tortura e principal expoente da ultradireita brasileira na atualidade. “Com todo o respeito, qual foi a vida infantil vivida por torturadores brasileiros e pelos fascistas que hoje se apresentam entre nós como figuras capazes de comover e angariar o voto de tanta gente?”, questiona.
Ela lembra da infância de Adolf Hitler, fragilizado e humilhado, para traçar um paralelo com a vida de pessoas como Bolsonaro. “Qual o ponto de mutação dessa pessoa, que se empodera e se torna Deus pra alguém repetindo contra os outros o mal que possivelmente ela mesma conheceu?”.
A exacerbação da personalidade autoritária é, de acordo com Tiburi, o que caracteriza o fascista. E a popularização desse tipo social no país é um sintoma de uma verdadeira 'doença política' que vivemos. “Sofremos um bombardeio permanente de emoções, de produtos e experiências que as estimulam. Trata-se, na verdade, de uma ferramenta para evitar que entremos em contato com nossa própria dor”, reflete. “A depressão é política, é a doença da nossa civilização. A condição do fascista é esse vazio”.
Que Brasil é Este?
O Ciclo de Debates Que Brasil é Este? é promovido por parceria entre o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a FESPSP. Até outubro de 2016, a iniciativa realiza debates mensais para refletir sobre as turbulências pelas quais atravessa o país nos campos econômico, político e social. Acesse o hotsite e a página do Ciclo no Facebook para ficar por dentro da programação, dos convidados e dos conteúdos postados: www.quebrasileeste.com.br e www.facebook.com/quebrasileeste
A onda de preconceito e ódio que assola o país tem tudo a ver com a mídia, segundo a filósofa Marcia Tiburi. "O discurso fascistizante de alguns meios", para ela, "não permite qualquer tipo de vôo intelectual", culminando em um cenário no qual o senso comum é formado por verdades absolutas. A crítica foi feita durante bate-papo nesta segunda-feira (4), em São Paulo, em atividade do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?.
O tema da discussão é também a questão central de seu livro mais recente, Como conversar com um fascista (Ed. Record). "O nome do livro é irônico, já que é praticamente impossível dialogar com um fascista", explica. "A ideia surgiu em um evento familiar, no qual uma pessoa esclarecida passou a destilar ódio sobre temas como sexualidade e política. Aos poucos, foi gerando enorme constrangimento e silêncio. Algumas pessoas saíram chorando da mesa".
Muitos dos presentes – cerca de 150 – compartilharam histórias e opiniões com a escritora, que trocou ideias sobre como enfrentar o recrudescimento do conservadorismo, além de rechaçar o golpe em curso no Brasil e opinar sobre os desafios e as limitações da esquerda.
“A direita sabe fazer discurso”, assinala. “O capitalismo não triunfa só por oprimir, reprimir e agredir, mas por saber usar discursos sedutores. Uma greve geral não funciona hoje pois não seduz. Há, sim, medo de perder emprego, mas também há uma comodidade de estar em frente à televisão. Pra maioria da população, a televisão é uma liturgia capitalista”.
Para mudar esse paradigma, Tiburi defende fazer 'a revolução da revolução'. “Temos de nos liberar de toda a parafernália da tradição, família e propriedade. É um desafio subjetivo, um teste, que devemos fazer para avançar na transformação da realidade”, defende. “É preciso fazer uma greve geral, sim, mas uma greve geral midiática”.
Ainda sobre a parcela de responsabilidade das esquerdas na conjuntura, a filósofa chama atenção para o fato de ter-se promovido políticas sociais sem voltar as atenções para a educação. “Qual governante de esquerda no Brasil se ateve realmente a essa questão? É uma grande dívida nossa. Não há futuro sem potencializar a educação”, afirma.
Os traumas do Messias
Além da política, Tiburi recorre à psicanálise para tentar entender a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro, defensor da tortura e principal expoente da ultradireita brasileira na atualidade. “Com todo o respeito, qual foi a vida infantil vivida por torturadores brasileiros e pelos fascistas que hoje se apresentam entre nós como figuras capazes de comover e angariar o voto de tanta gente?”, questiona.
Ela lembra da infância de Adolf Hitler, fragilizado e humilhado, para traçar um paralelo com a vida de pessoas como Bolsonaro. “Qual o ponto de mutação dessa pessoa, que se empodera e se torna Deus pra alguém repetindo contra os outros o mal que possivelmente ela mesma conheceu?”.
A exacerbação da personalidade autoritária é, de acordo com Tiburi, o que caracteriza o fascista. E a popularização desse tipo social no país é um sintoma de uma verdadeira 'doença política' que vivemos. “Sofremos um bombardeio permanente de emoções, de produtos e experiências que as estimulam. Trata-se, na verdade, de uma ferramenta para evitar que entremos em contato com nossa própria dor”, reflete. “A depressão é política, é a doença da nossa civilização. A condição do fascista é esse vazio”.
Que Brasil é Este?
O Ciclo de Debates Que Brasil é Este? é promovido por parceria entre o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a FESPSP. Até outubro de 2016, a iniciativa realiza debates mensais para refletir sobre as turbulências pelas quais atravessa o país nos campos econômico, político e social. Acesse o hotsite e a página do Ciclo no Facebook para ficar por dentro da programação, dos convidados e dos conteúdos postados: www.quebrasileeste.com.br e www.facebook.com/quebrasileeste
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