Por Adriana Dias, na revista Fórum:
Rosa Barreiro passará o próximo dia 18 em luto, pela vigésima segunda vez. Em 1994, ela perdeu seu filho Sebastián, no atentado a AMIA, em Buenos Aires. Ele tinha apenas 5 anos.
Ela passava com ele pela calçada. Dirigia-se ao Hospital das Clínicas para um curso. Combinaram de fazer um lanche na volta e o garoto havia separado seus dinossauros favoritos para brincar com a mãe. Ao passar pela Rua Pasteur, a bomba explodiu e ela não conseguiu salvá-lo. Foi levada ao Hospital e nunca se recuperou da perda, obviamente.
Além de Sebastián, foram mais de 300 feridos e 85 mortos, destes, 53 judeus, 32 cristãos. O antissemitismo fere a todos, desde sempre.
O atentado a AMIA não foi um caso isolado. No mesmo governo de Carlos Menem, em que ocorreu, já havia ocorrido um atentado a embaixada de Israel. Na Argentina, o crescimento do neonazismo é exponencial.
A partir da análise de sites, sites e fóruns de relacionamento, blogs, em língua espanhola, francesa, inglesa e portuguesa, muitos deles com domínio em países com domínio anônimo (.tk), em catorze anos de pesquisa etnográfica multisitiada na WEB e na DEEPWEB, foi possível verificar que mais de um milhão de pessoas acessam material neonazista nas Américas, cerca de 40% na América Latina. Usuários baixam por ano mais 150 mil downloads de arquivos de teor nazista, superiores a 100 megabites cada, apenas no Brasil entre 2007 e 2009. De 2009 para cá, o índice de arquivos baixados com estas características tem crescido a uma taxa média de 6% ao ano. Nos fóruns a participação de latinos cresce 8% mais que a população, em média.
A Internet é esfera privilegiada para divulgação das ideias neonazistas, que saem do mundo virtual para a esfera da vida não virtualizada em rituais de iniciação de grupos neonazistas na forma de ataques raciais a judeus, negros ou homofóbicos ou a pessoas com deficiência. Como a grande maioria dos países pesquisados não possuem legislação de crime de ódio, os crimes caem em estatísticas impossíveis de verificação. A impunidade aumenta a certeza desses grupos de satisfazerem seus desejos de destruição, sem receios.
Sebastián é o símbolo do que o ódio pode nos levar. O futuro. É preciso combater o ódio, seja ele expresso pelo antissemitismo, pela islamofobia, pelo racismo, pelo capacitismo, pela homofobia, pela lesbofobia, pelo ódio ao indígena. Precisamos, urgentemente, reverter o quadro de intolerância que ameaça sequestrar nossa vida, nossas crianças, a todos nós.
* Adriana Dias é bacharel em Ciências Sociais em Antropologia pela Unicamp e Mestre e Doutoranda também pela Unicamp.
Ela passava com ele pela calçada. Dirigia-se ao Hospital das Clínicas para um curso. Combinaram de fazer um lanche na volta e o garoto havia separado seus dinossauros favoritos para brincar com a mãe. Ao passar pela Rua Pasteur, a bomba explodiu e ela não conseguiu salvá-lo. Foi levada ao Hospital e nunca se recuperou da perda, obviamente.
Além de Sebastián, foram mais de 300 feridos e 85 mortos, destes, 53 judeus, 32 cristãos. O antissemitismo fere a todos, desde sempre.
O atentado a AMIA não foi um caso isolado. No mesmo governo de Carlos Menem, em que ocorreu, já havia ocorrido um atentado a embaixada de Israel. Na Argentina, o crescimento do neonazismo é exponencial.
A partir da análise de sites, sites e fóruns de relacionamento, blogs, em língua espanhola, francesa, inglesa e portuguesa, muitos deles com domínio em países com domínio anônimo (.tk), em catorze anos de pesquisa etnográfica multisitiada na WEB e na DEEPWEB, foi possível verificar que mais de um milhão de pessoas acessam material neonazista nas Américas, cerca de 40% na América Latina. Usuários baixam por ano mais 150 mil downloads de arquivos de teor nazista, superiores a 100 megabites cada, apenas no Brasil entre 2007 e 2009. De 2009 para cá, o índice de arquivos baixados com estas características tem crescido a uma taxa média de 6% ao ano. Nos fóruns a participação de latinos cresce 8% mais que a população, em média.
A Internet é esfera privilegiada para divulgação das ideias neonazistas, que saem do mundo virtual para a esfera da vida não virtualizada em rituais de iniciação de grupos neonazistas na forma de ataques raciais a judeus, negros ou homofóbicos ou a pessoas com deficiência. Como a grande maioria dos países pesquisados não possuem legislação de crime de ódio, os crimes caem em estatísticas impossíveis de verificação. A impunidade aumenta a certeza desses grupos de satisfazerem seus desejos de destruição, sem receios.
Sebastián é o símbolo do que o ódio pode nos levar. O futuro. É preciso combater o ódio, seja ele expresso pelo antissemitismo, pela islamofobia, pelo racismo, pelo capacitismo, pela homofobia, pela lesbofobia, pelo ódio ao indígena. Precisamos, urgentemente, reverter o quadro de intolerância que ameaça sequestrar nossa vida, nossas crianças, a todos nós.
* Adriana Dias é bacharel em Ciências Sociais em Antropologia pela Unicamp e Mestre e Doutoranda também pela Unicamp.
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