quinta-feira, 14 de julho de 2016

O uso da TV nas eleições

Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:

Dois dias antes do plebiscito que definiu a saída do Reino Unido da União ­Europeia, um debate entre defensores das duas propostas em disputa reuniu 6 mil pessoas na Arena de Wembley, em Londres. A realização foi da BBC, a emissora pública britânica que, além dos debatedores, três de cada lado, incluiu entrevistas com o público e convidados. Nas bancadas estavam, entre outros, o ex e o atual prefeito de Londres, defendendo posições antagônicas.

Nas eleições presidenciais nos Estados Unidos, os debates entre os candidatos são realizados em universidades públicas e transmitidos pela PBS, a rede pública de televisão daquele país. Aqui, em ano eleitoral, algumas emissoras já anunciam a realização de debates entre candidatos a prefeito. Com a diferença, em relação aos exemplos anteriores, de que são empresas comerciais mais preocupadas com audiência e seu respectivo faturamento do que com a prestação de um necessário serviço público, fundamental para o jogo democrático.

Ainda que as regras desses debates sejam aceitas de comum acordo entre os partidos, seu conteúdo está sempre sujeito a distorções editoriais, segundo a linha política adotada pela emissora. Um caso histórico é o debate Lula-Collor, em 1989, quando a direção da Globo determinou que houvesse destaque, na edição para os telejornais, dos melhores momentos de Collor e dos piores de Lula. Em debates mais recentes, pode-se notar o partidarismo de jornalistas escolhidos para fazer perguntas aos candidatos, induzindo nelas interesses políticos da empresa.

A televisão, apesar da importância da internet, ainda é a principal fonte de informação no país. Faz um trabalho diário buscando consolidar politicamente os seus interesses junto à população. Em períodos eleitorais, a situação torna-se mais aguda, com a proliferação de informações e reportagens destinadas a estimular ou a destruir candidaturas.

A disputa dos partidos por alguns segundos no chamado horário eleitoral obrigatório é a principal evidência da importância da TV nas eleições. Coalizões partidárias, às vezes esdrúxulas do ponto de vista ­ideológico, se formam para que seus integrantes desfrutem de mais algum tempinho diante das câmeras.

Ainda assim, deve-se considerar a existência desse tipo de programa como um dos avanços da democracia brasileira. O horário eleitoral tornou-se um pequeno oásis democrático, abrindo-se como contraponto à narrativa homogênea das emissoras comerciais. Curioso que esse espaço vem dos tempos da ditadura, quando os partidos artificiais existentes, Arena e MDB, tinham direito de acesso ao rádio e à TV duas vezes por ano.

A redescoberta foi obra do PT, o primeiro partido, na nova configuração partidária, a se valer da lei e a colocar no rádio e na TV propostas e programas de ação. Ao primeiro programa, bastante rudimentar, gravado num ginásio de esportes, com cenas de ringue de boxe, seguiu-se outro produzido gratuitamente por jornalistas de diferentes emissoras.

O sucesso foi total, com excelentes índices de audiência e elogios publicados até na mídia conservadora. Pela primeira vez, usava-se em programas políticos a linguagem específica da televisão, com qualidade técnica e artística a que o telespectador estava acostumado a ver em novelas e telejornais.

Aberta a porta pelo PT, as janelas do rádio e da televisão para transmissão de mensagens político-eleitorais passaram a ser disputadas de forma acirrada pelos demais partidos. A profissionalização chegou ao setor com o surgimento de marqueteiros muito bem remunerados com recursos de origem, quase sempre, não muito clara. Os programas eleitorais da TV tornaram-se fontes de descaminhos éticos que chegam com vigor até hoje, disseminados pelo país.

Mas nem por isso devem ser condenados. Resta aprimorá-los e não reduzi-los, como passa a acontecer neste ano, quando caíram de 45 para 35 dias de exibição. Exigência dos donos das emissoras encampada pela Câmara dos Deputados, na gestão Eduardo Cunha.

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