terça-feira, 12 de julho de 2016

Por que os reaças têm medo dos comunistas?

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

É impressionante o pavor histórico que os capitalistas têm do comunismo. Basta mencionar a palavra “comunista” que alguns direitistas entram em pânico. Interessante que a recíproca não é verdadeira: comunistas e socialistas não têm nem nunca tiveram o menor medo dos capitalistas. Nossa reação diante do capitalismo sempre foi de desprezo e de luta, jamais de covardia.

O medinho que os reaças sentem do comunismo é tão grande que agora querem proibir que se mencione em sala de aula o nome de Karl Marx, um dos filósofos mais importantes da história da humanidade. Recentemente, uma brincadeira feita por estudantes no Paraná, que transformaram as ideias marxistas em um funk, causou chiliques na direita brasileira ao ponto de a professora que ensinava a matéria ser suspensa.

Afinal, o que pode acontecer quando uma professora ensina sobre marxismo em classe? Na cabeça dos reaças, o efeito óbvio é que todos os alunos se tornarão comunistas. Quem dera fosse verdade! A direita trata os jovens como se eles não fossem seres pensantes, capazes de discernir sobre o que concordam ou discordam. Ainda mais na escola, quando a coisa mais comum do mundo é pensar o oposto do que o professor fala… Engraçado que a lavagem cerebral empreendida pela mídia (de direita), muito mais efetiva, não os incomoda nem um pouco, né?

Bem, vou levantar aqui algumas hipóteses para o medo, o pânico, a paúra, dos direitistas diante do comunismo. Acompanham o post cartazes clássicos de propaganda anticomunista da guerra fria, época que a direita brasileira aparentemente nunca superou.

Hipótese 1: Os reaças têm medo do comunismo porque acham que serão assassinados quando “o comunismo chegar”

O ataque aos comunistas tendo como base fatos ocorridos no século passado é um must entre a reaçada que pouco leu de fato sobre o socialismo. Eles adoram se referir aos regimes totalitários que mataram em nome do comunismo no início do século 20 e também aos fuzilamentos do regime cubano. Falam em “milhões de mortos” pelo comunismo, embora prefiram ignorar a quantidade de mortos pelo capitalismo, por fome e guerras, desde que os países comunistas acabaram, 25 anos atrás. Cuba já não fuzila ninguém desde 2003. Naquele ano, comunistas históricos como José Saramago protestaram e romperam com Fidel Castro, mas não deixaram de ser comunistas ou socialistas –assim como muitos dos perseguidos por Stalin foram comunistas até à morte. Enquanto isso, os EUA, por exemplo, continuaram assassinando gente no seu país e no dos outros: calcula-se que o governo norte-americano tenha matado cerca de 9 milhões de pessoas no Oriente Médio e na Eurásia entre 1945 e 2015. Além disso, a ideia de luta armada foi sendo revista ao longo das últimas décadas pelos próprios esquerdistas –eu, por exemplo, acredito que não há mais espaço para este tipo de coisa, acho que a revolução datou e que a defesa de uma sociedade armada combina muito mais com a direita. Finalmente, não há nada mais improvável atualmente do que a “chegada” do comunismo. Este medo, portanto, é uma viagem das mais insanas. Ter medo da polícia é mais racional: só em 2015, a polícia do Rio de Janeiro matou 25 pessoas a cada policial morto, segundo aHuman Rights Watch.

Hipótese 2: Os reaças têm medo do comunismo porque acham que os comunistas confiscarão seus bens

Vivemos em sociedades democráticas e os partidos comunistas estão sujeitos a todas as regras que valem para os demais partidos. É mais fácil o PSDB, que está no governo, confiscar os bens de alguém do que os partidos comunistas. Ou a Petrobras não é um bem nosso, do povo brasileiro? O PCdoB está governando o Estado do Maranhão há dois anos. Perguntem aos maranhenses se perderam alguma coisa ou se ganharam desde que a oligarquia dos Sarney foi derrotada pelo comunista Flávio Dino. O que nós, comunistas e socialistas, queremos não é confiscar os bens das pessoas e sim que todos tenham direito a possuir bens. Na verdade, o que a direita parece temer é que a maioria dos cidadãos possam ter acesso aos bens de consumo que eles tanto endeusam, porque aí deixarão de se sentir “diferenciados” da população em geral.

Hipótese 3: Os reaças têm medo do comunismo porque acham que o Brasil vai virar uma Venezuela

Para começo de conversa, cada país tem suas próprias características geográficas, raciais, econômicas etc. e sua própria história. É impossível, portanto, que um país se transforme em outro. Os problemas da Venezuela estão relacionados ao governo e à oposição de lá, e não ao socialismo. Não é o socialismo quem está mandando os empresários esconderem produtos para sabotar o presidente Nicolás Maduro; e não é o socialismo quem está fazendo Maduro tomar decisões equivocadas. Esta confusão entre governo e socialismo é uma constante entre a direita, claro que proposital. Não interessa aos direitistas que as pessoas se deem conta de que o socialismo é uma forma de ver o mundo, independentemente de quem está no governo. Curioso é que ninguém culpa o capitalismo pela fome na África, embora praticamente todos os países africanos sejam capitalistas. Por que, em vez de temer que o Brasil se transforme numa Venezuela, não temem que o Brasil se torne um Paraguai, um dos países com maior desigualdade da América do Sul, segundo o Banco Mundial, e que também foi alvo de um golpe, em 2012?

Hipótese 4, a mais provável: Os reaças têm medo do comunismo porque sabem que se as pessoas souberem dos problemas do capitalismo, irão se rebelar

Embora se digam “defensores da liberdade de expressão”, o que os direitistas mais desejam, no fundo, é que as pessoas não sejam informadas sobre os graves problemas do capitalismo, coisa que os comunistas e socialistas são capazes de fazer melhor do que ninguém: não existe capitalista com autocrítica. A maior missão do socialismo e do comunismo sempre foi, sem dúvida, apontar as desigualdades, as injustiças e as perversidades do sistema capitalista. Uma vez que a pessoa se dá conta disso, é claro que não vai mais se submeter, abaixar a cabeça. E é aí que mora o perigo para os exploradores: seus empregados não vão aceitar salários de fome nem condições de trabalho indignas. Os estudantes não vão se calar diante de uma educação opressora. Negros e mulheres irão se levantar contra a intolerância e o preconceito. Homossexuais conquistarão seu espaço na sociedade. E os camponeses continuarão a lutar contra os latifundiários pelo direito de ter terra para plantar. O medo que a direita tem do comunismo é, em suma, o medo da conscientização e, consequentemente, da rebelião. Querem manter o status quo a todo custo e, para isso, é preciso calar os inconformistas. Neste aspecto, os reaças têm toda razão para temer o comunismo: é somente a nossa crítica quem ameaça a manutenção de seus privilégios. Outro medo dos direitistas é que os comunistas façam as pessoas perceberem o vazio da sociedade de consumo. Sem o pilar do consumo excessivo, sobre o qual se sustenta, o sistema capitalista pode desmoronar a qualquer momento. E, sim, é verdade que nós, socialistas e comunistas, dedicamos a nossa vida a pregar contra a sociedade de consumo e a escravidão que ela significa para os seres humanos e seu potencial de destruição para o planeta. Nós, comunistas e socialistas, acreditamos que é mais importante ter tempo para desfrutar a vida e os nossos entes queridos do que gastar nossas existências trabalhando como máquinas, apenas para obter mais e mais bens materiais. Esta nossa certeza faz chacoalhar a direita – de pavor de que estejamos certos.

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