sexta-feira, 8 de julho de 2016

PSDB chega ao poder sem ganhar eleição

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Num regime presidencialista democrático, só há uma maneira de se chegar ao poder: ganhando eleições. Devemos estar ficando loucos, então, porque o partido derrotado em 2014 está aboletado no governo federal como se tivesse recebido votos para tal. Com Michel Temer como aliado e fantoche, os tucanos voltaram a decidir os destinos da nação. Quem não votou no PSDB na última eleição presidencial, como eu e a maioria dos eleitores do país, tem toda a razão para acreditar que fomos passados para trás pelo partido de Aécio Neves.

Há outras duas possibilidades de se arrancar um presidente do cargo e passar a governar: o golpe e o impeachment. Como as justificativas para o impeachment, as famosas pedaladas, estão cada dia menos comprovadas e como muitos juristas defendem que as pedaladas não constituem “crime de responsabilidade”, condição sine qua non para o impeachment segundo a Constituição, resta-nos a opção do golpe. É tão claro que foi um golpe que não é, na realidade, o PMDB, vice de Dilma, quem fornece as diretrizes do governo, mas o PSDB, o partido derrotado nas urnas em 2014.

Comparemos com o que ocorreu no impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. Collor tinha derrotado Lula em 1989, mas, arrancado do poder, não foi Lula quem se tornou governante do país e sim o vice de Collor, Itamar Franco. O PT nunca participou da administração Itamar, pelo contrário: suspendeu Luiza Erundina por um ano do partido por ter aceitado participar do governo como ministra da Administração Federal.

Quem participou do governo de Itamar Franco foi, ora vejam só, o PSDB, que tinha ficado em quarto lugar na disputa em 1989, com Mário Covas como candidato. Vemos, portanto, que governar sem ser eleito é um clássico tucano. Com o detalhe de que Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda de Itamar, iria lhe usurpar o título de “pai do plano Real”. FHC, aliás, por pouco não participou do próprio governo Collor. Foi preciso Covas interceder para impedi-lo de se tornar ministro das Relações Exteriores da República das Alagoas.

A desenvoltura com que o PSDB circula no governo ilegítimo de Michel Temer é evidente e sem disfarce, desde o primeiro dia. O candidato derrotado Aécio Neves aderiu à primeira hora, e, sem mais delongas, posou alegremente para fotos ao lado de Temer na “posse”.

Ao mesmo tempo, os tucanos foram se instalando no governo ilegítimo: Alexandre de Moraes, ex-secretário de Geraldo Alckmin, na Justiça; José Serra nas Relações Exteriores; Bruno Araújo, ministro das Cidades; Aloysio Nunes Ferreira, líder do governo no Senado. Na embaixada brasileira em Washington, outro tucano estrategicamente colocado, o porta-voz da presidência durante o governo Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Amaral.

Esta semana, “entrou” no governo Temer quem faltava, a eterna eminência parda, a sombra por trás dos movimentos do tucanato: o ex-presidente FHC em pessoa. Na maior cara dura, sem nenhum cargo oficialmente no governo, FHC acompanhou Serra ao Uruguai para tentar convencer o presidente Tabaré Vázquez a se aliar ao Brasil e ao Paraguai para impedir a Venezuela de assumir a presidência do Mercosul. Pelo rodízio estabelecido, o país de Nicolás Maduro tem o direito de presidir o bloco neste segundo semestre.

Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, FHC viajou no avião da FAB (Força Aérea Brasileira), aquele mesmo negado à presidenta eleita Dilma Rousseff para viajar pelo país. O ex-mandatário chegou a se encontrar com Tabaré, como se tivesse voltado a governar o Brasil, mas o presidente uruguaio brecou a ilusão de Serra e seu “assessor” de impedir a Venezuela de presidir o Mercosul, dizendo que “é preciso respeitar as regras”. O prestígio de FHC, por sinal, anda em baixa no país vizinho: a revista “Caras e Caretas” o citou em título de sua edição online como um anônimo “ex-presidente”.


Enquanto o “príncipe” voa pelo mundo às nossas custas sem ter sido eleito para isso, no Senado, outro tucano, o ex-governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, dá as cartas. Como presidente da comissão do impeachment, ele é o senhor do destino de Dilma. Está tudo dominado.


Foto: Lula Marques
Aprendam com o PSDB: é assim que se chega ao poder, numa democracia, sem ganhar eleição. E ainda reclamam quando são chamados de golpistas.

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