quarta-feira, 13 de julho de 2016

Quanto custa o oligopólio midiático?

Do site Carta Maior:


Mais um capítulo da campanha do oligopólio midiático contra a mídia alternativa. A batalha “David contra Golias”, conforme cunhou o professor Venício Lima, parece não ter fim.

Na última semana, em uma série de reportagens assinadas pelo jornalista Fernando Rodrigues, o Portal UOL divulgou os números da publicidade federal nos veículos de comunicação.

O destaque dado às manchetes fala por si:

“Em 2015, ano de cortes, publicidade para mídia alternativa cresceu 40%” (UOL, 06.07.2016), 

“Governo cortou R$ 206 milhões em publicidade da TV Globo em 2015” (UOL, 06.07.2016) e 

“Dilma cortou R$ 591,5 milhões do gasto com propaganda federal em 2015” (UOL, 06.05.2016).

As cifras da SECOM, também:

Apesar da queda em 24,1% dos investimentos em publicidade (de R$ 2,4 bilhões em 2014 passou a R$ 1,8 bilhão em 2015), os valores destinados ao oligopólio impressionam.

Gasta-se uma fortuna em recursos públicos no financiamento de um pequeno grupo de empresas.

Um oligopólio que, em uníssono, reverbera o mesmo discurso, fortemente partidário e comprometido com os interesses de uma minoria da população, a elite econômica e financeira do país.

Vide o golpe armado, do qual são protagonistas.

Por outro lado, considerando as cifras em jogo, investiu-se uma parte irrisória com publicidade em dezesseis veículos da mídia alternativa. Uma mídia que dialoga com parcela expressiva da população brasileira: aquela que vem votando em governos progressistas desde 2002.

Segundo dados da SECOM, em 2015, dezesseis sites e blogs progressistas receberam investimentos da ordem de R$ 10 milhões em publicidade do Governo Federal. Entre 2000 e abril de 2016, a soma desses investimentos totalizou R$ 61,7 milhões (confira a tabela do UOL).

Vale destacar que essas mídias pagam comissão de 20% para as agências de publicidade, portanto, na verdade, o valor líquido recebido foi de R$ 49,3 milhões, em dezessete (17) anos, ou seja, entre 2000 e abril de 2016, considerando os dados da matéria do UOL.

Com esses números em mente, vejamos as cifras dos repasses à oligarquia midiática brasileira:

Portais e jornais

Nos últimos 17 anos, o total investido em apenas sete portais da mídia oligárquica - UOL, G1, Terra, iG, MSN, R7, Yahoo! – chegou a R$ 531,9 milhões. Em 2015, esses sete portais receberam R$ 71,2 milhões (confira a tabela do UOL)

Impressiona, também, o valor da publicidade gasta nos quatro principais jornalões do país cujo discurso, francamente, é de um alinhamento partidário impecável. Basta ver as estatísticas doManchetômetro, a ferramenta que mostra quão partidária é a imprensa brasileira.

Em 2015, a Folha de S. Paulo contou com R$ 13,6 milhões (R$ 5,5 milhões apenas no online) em contratos de publicidade; O Globo, R$ 12,8 milhões (R$ 3,7 milhões no online); O Estadão, R$ 10,8 milhões (R$ 3,4 milhões no online); e o Valor Econômico, R$ 9 milhões (R$ 1,1 milhão no online).

Se fosse possível comparar, poderíamos dizer que o pensamento único expresso, muitas vezes com as mesmas manchetes, pelos jornais Estadão, Folha e Globo, recebeu dos cofres públicos R$ 37,2 milhões. Esse valor equivale ao triplo do que recebeu o pluralismo político (artigo 1º, item V, da CF) garantido pelos dezesseis veículos da mídia alternativa.

Considerando todos os jornais (impresso e online) do país, em 2015, foram repassados R$ 89 milhões. Desse montante, Folha, Estadão, O Globo e Valor abocanharam R$ 46,4 milhões (confira a tabela do UOL).

Mas aqui há uma perversa novidade: apenas o Facebook contou com R$ 44,6 milhões, quase o mesmo montante destinado aos jornalões (UOL, 06.07.2015).

O crescimento vertiginoso da rede social, principalmente o Facebook, inclusive em termos de publicidade, reflete o risco à neutralidade da Internet, conquistada arduamente no Governo Dilma, com a votação do Marco Civil. É o Facebook que decide o que será destacado. Além disso, o sistema suprime o debate entre os diferentes, construindo guetos em torno das mesmas ideias.

Revistas semanais

Exemplar, também, é o caso das revistas semanais. Entre 2000 e abril de 2016, o panfleto político VEJA contou com cerca de R$ 500 milhões em publicidade federal. A Época com R$ 231,2 milhões. A IstoÉ com R$ 201,5 milhões. (confira a tabela do UOL)

Juntas, essas três revistas receberam R$ 928,6 milhões nos últimos dezessete anos.

A reportagem destaca que, em 2015, VEJA contou com R$ 4,6 milhões em publicidade estatal, sofrendo uma redução nesses repasses em relação a 2014, quando recebeu R$ 21,2 milhões. Há quem se espante com a redução.

Mas, há também quem se espante com o repasse da vultosa soma de R$ 4,6 milhões, mesmo após o periódico ter passado por cima de todos os limites da ética jornalística.

Quem não se recorda da capa “Eles sabiam de tudo”, divulgada 72 horas antes das eleições presidenciais e 48 horas após a delação do doleiro Alberto Youssef? Capa que foi mote de várias reportagens da mídia, às vésperas da eleição, no intuito claro de prejudicar a então candidata Dilma Rousseff, nos primeiros passos do golpe (O GLOBO, 23.10.2014).

E pior: esses R$ 4,6 milhões recebidos pela VEJA em 2015 é quase metade dos R$ 10 milhões investidos em dezesseis veículos da mídia alternativa naquele ano.

Bolivarianismo?

TVs Abertas

Os números divulgados pelas reportagens do UOL também permitem uma boa dimensão da realidade das emissoras da TV Aberta, as mesmas que sempre foram contra e hoje clamam pelo desmonte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

De longe, líder no ranking do recebimento de publicidade e patrocínios do Governo Federal, a Rede Globo, desde o ano 2000, levou R$ 8,3 bilhões em publicidade (confira a tabela do UOL). Apenas a título de comparação, a Record, segunda em termos de repasses, contou com R$ 2,5 bilhões neste período, seguida pelo SBT (R$ 2,3 bilhões), Band (R$ 1,5 bilhão) e RedeTV! (R$ 553 milhões).

Em 2015, o total gasto em publicidade com essas emissoras chegou a R$ 875,4 milhões. Todassofreram redução em verbas publicitárias ou de patrocínio no ano passado. No caso da Globo, essa redução significou uma queda de 34% em comparação com 2014, totalizando, mesmo assim, um repasse de R$ 396, 5 milhões, como aponta a reportagem do UOL (UOL, 06.07.2015).

Várias causas explicam a redução. Quem não se lembra das dificuldades de caixa do Governo Federal em 2015?

Dificuldades que, inclusive, levaram ao adiamento do pagamento do primeiro lote residual das restituições do Imposto de Renda (VALOR, 26.01.2015).

E o que dizer do atraso de três meses na aprovação do orçamento da União pelo Congresso Federal? Em março, até o Jornal Nacional divulgava as consequências do atraso para a área de educação (JN, 09.03.2015).

Também é impossível falar da redução das verbas de publicidade sem considerar que a Petrobras, uma das maiores anunciantes, quase quebrou devido às consequências da Operação Lava Jato. O que dizer do verdadeiro terrorismo contra a estatal, praticado pelas grandes empresas de comunicação, com direito a previsões catastróficas dos chamados "especialistas" em economia?

Note que até mesmo a Fórmula 1 a Petrobras deixou de patrocinar, como detalha a reportagem da jornalista Helena Sthephanowitz, da Rede Brasil Atual (confira aqui). Além disso, o Governo Federal, que seria o maior anunciante das Olimpíadas, já voltou atrás, o que influi diretamente nas contas da Rede Globo.

Em suma: O oligopólio midiático alimentou, em parte, o mostro que o devorou.

Duas métricas

É fundamental atentar, na leitura dessas reportagens, que os repasses federais em publicidade seguem os índices de audiência medidos pela ComScore. A lógica de mercado é defendida, com unhas e dentes, pelo oligopólio midiático.

Os que lutam pela democratização da comunicação, contra a asfixia do pensamento único, representada por essas empresas, sabem que comunicação é, antes de mais nada, um direito. A nossa métrica, portanto, é outra: a da diversidade e pluralidade de opinião, conquistas e garantias da Constituição de 1988.

Um direito, aliás, estruturante para uma sociedade efetivamente democrática.

O choque entre essas visões salta no comentário do jornalista do UOL:

“Alguns dos sites alternativos apresentam um custo muito superior por visitante único no mês (...) O exemplo mais discrepante é o do site Carta Maior. A proporção entre a verba recebida do governo e a audiência é de R$ 0,21 por visitante único no mês. O valor é pelo menos 7 vezes maior do que alguns portais de notícia. (UOL, 06.07.2016)”.

Comparar a mídia alternativa aos portais de notícia é, no mínimo, uma leviandade. A regra universal diz: não se pode igualar os desiguais. A pluralidade é um direito constitucional e cabe ao Estado garanti-lo.

É impossível comparar um site como o UOL e a Carta Maior. Tratam-se de veículos completamente diferentes. Em suas páginas, o portal UOL traz conteúdos de grande apelo, como futebol, novela, sexo, fofocas... A Carta Maior é um site de análises sólidas destinadas a um público que procura um conteúdo de ponta e denso sobre diversos aspectos do Brasil e do mundo.

Além disso, nós jamais tratamos os nossos leitores como mercadoria.

Apenas como registro, no primeiro semestre deste 2016, a média de permanência neste site é de quase cinco muitos de leitura (4 minutos e 52 segundos). Não somos, como os portais da grande mídia, um site de notícias com manchetes, que em muitos casos, destoam do próprio conteúdo apresentado no corpo do texto. Algo, aliás, que expressa a politicagem barata realizada por esses portais.

Audiência

Para sites e blogs da mídia alternativa é preciso ser aplicada outra regra. A comparação maliciosa entre os índices de audiência dos veículos da grande mídia e da mídia alternativa, parte, já de início, de um pressuposto, no mínimo, equivocado.

O grande público talvez não saiba, mas os profissionais de comunicação sabem muito bem que a ComScore é uma ferramenta destinada a grandes empresas. Sabem, também, que os contratos da SECOM se dão a partir de visualizações de página, não de visitantes únicos.

A Carta Maior se utiliza de outra métrica: o Google Analytics, da empresa Google, a maior empresa de tecnologia do mundo.

Por amor ao debate, só para exemplificar, enquanto o ComScore atribuiu à Carta Maior 368 mil visitantes únicos em dezembro de 2015; o Google Analytics registrou 600.845 visitantes únicos. (Confira a tela do Google Analytics).

Por outro lado, a planilha do jornalista Fernando Rodrigues “se equivoca” ao afirmar que Carta Maior recebeu, no ano de 2015, R$ 919,4 mil, quando, na verdade, recebeu R$ 749, 1 mil, por óbvio, já deduzidos os impostos.

Portanto, o cálculo apresentado faz comparações indevidas e utiliza-se de números inverídicos. O uso desse tipo de argumento caracteriza a má fé, habitual nos veículos do oligopólio midiático.

No ar desde 2001 e pioneira nas redes, a Carta Maior continuará cobrando o cumprimento da obrigação constitucional do Estado, de garantir a pluralidade de vozes e, também, de impedir a prática do oligopólio econômico em uma área tão sensível como a da Comunicação

David x Golias

O que os números da SECOM atestam é que falta muito ainda a caminhar em termos de um efetivo investimento na comunicação plural e diversificada no Brasil.

Como a própria reportagem da UOL reconhece, "os recursos repassados em 2016 aos sites alternativos antes do impeachment de Dilma Rousseff já estavam muito abaixo da média dos anos anteriores". E mais: “o crescimento da mídia alternativa em 2015 deve ser completamente revertido neste ano de 2016" (UOL, 06.07.2015).

Revertido pela decisão autoritária do governo golpista e interino de Michel Temer que, em uma de suas primeiras medidas, quebrou os contratos entre as estatais federais e as microempresas de comunicação alternativa.

É por meio da asfixia econômica que se pretende calar as vozes dissonantes que vêm, neste momento, denunciando o golpe no país. Como alerta o professor Venício de Lima, “sites e blogs progressistas e a comunicação pública são o único respiro que existe diante da narrativa dominante da grande mídia”.

“Isso incomoda, mesmo sendo uma luta de David contra Golias. Se você elimina esses sites e blogs e a comunicação pública, você vai viver uma situação praticamente totalitária, na qual haverá apenas uma voz”, complementa (Leia a íntegra da entrevista)

Esse risco é o maior custo do oligopólio midiático.

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