Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
O Brasil está patrocinando, no campo da política externa, um retrocesso de extrema gravidade. Para Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), todo o avanço dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff na área, principalmente com o ex-ministro Celso Amorim no Itamaraty, com a chamada diplomacia ativa e altiva, "está sendo jogado no lixo com a gestão de José Serra".
A nomeação do novo embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, referendada pelo Senado na terça-feira (16), segundo ele, "tem como única tarefa convencer as autoridades norte-americanas, políticos, opinião pública e mídia de que supostamente não houve um golpe no Brasil".
A gestão de Serra no Ministério das Relações Exteriores, nos 100 dias de governo interino de Michel Temer, trabalha para "sabotar" tudo o que foi feito na integração latino-americana, em relação ao Mercosul, aos Brics, à soberania nacional, diz Fuser. "Eles vão se jogar de braços abertos em qualquer proposta de abertura das restrições ao capital estrangeiro, em qualquer proposta de globalização neoliberal e investimentos especulativos. É um governo que contraria não só princípios da diplomacia brasileira, mas da própria Constituição Federal, que estabelece como princípio fundador do Estado a busca da integração regional."
Esse estado de coisas e essa guinada numa política que era considerada avançada nos meios diplomáticos mundiais tem um lado irônico, observa o professor. "Há menos de dois anos, o Brasil foi alvo de uma grosseria de Israel, que chamou o Brasil de ‘anão diplomático’. Naquele momento (julho de 2014) o Brasil estava muito longe de ser um ‘anão diplomático’. Nunca tinha sido tão gigante. No entanto, essa grosseria se revelou profética, porque o Brasil hoje se transformou num anão diplomático", diz Fuser.
Na época, o Itamaraty convocou o embaixador em Tel Aviv, Henrique da Silveira Sardinha Pinto, para consultas, por considerar "inaceitável a escalada de violência" e condenar "energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza".
Para analistas, os objetivos de José Serra no âmbito do Mercosul são esvaziar o próprio bloco sul-americano eao mesmo tempo desestabilizar a Venezuela de Nicolás Maduro, interesse direto dos Estados Unidos. "Só podemos pensar que, em vez de contribuir para a estabilidade, a atual política contribui justamente para a instabilidade da região", disse a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Analúcia Danilevicz Pereira à RBA, no início do mês.
Segundo ela, "a ideia é retomar as posições dos países mais alinhados aos Estados Unidos, ideia dos anos 1990, ultraliberal, ideia de um bloco dos pobres que vão receber a ajuda dos ricos. Essa visão é extremamente atrasada e míope em relação às mudanças internacionais dos últimos anos".
Um fato simbólico da nova política exterior brasileira se revelou um misto de arrogância e presepada. Esta semana, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, denunciou que Serra tentou "comprar o voto do Uruguai" ao trabalhar pelo boicote da transferência rotativa do Mercosul à Venezuela, em troca de favorecer o país platino em negociações comerciais.
"Não gostamos muito do chanceler (José) Serra ter vindo ao Uruguai, para nos dizer que vinham com a pretensão de se suspender a transferência (da presidência do Mercosul à Venezuela) e, se suspensa, levar-nos em suas negociações com outros países, como querendo comprar o voto do Uruguai", declarou Nin Novoa.
Para Igor Fuser, o desenlace do que está acontecendo depende dos desdobramentos políticos nos próximos meses, se se consolidar o impeachment de Dilma Rousseff. A questão é como a burguesia vai encarar esse retrocesso, essa guinada radical à direita, acredita. "No seu afã de ajudar a direita venezuelana a depor Maduro, Serra adota atitudes que vão além do alinhamento político com forças internas da Venezuela: está destruindo o relacionamento comercial entre Brasil e Venezuela, construído ao longo de 15 anos."
Na opinião de Fuser, ficarão cada vez mais evidentes as perdas de empresários que exportam para a Venezuela, principalmente do Norte e Nordeste do Brasil, pela proximidade geográfica. "Me pergunto quanto tempo os empresários brasileiros que nesses últimos 13 anos obtiveram altos ganhos com as exportações à Venezuela, e agora vão perder, levarão para começar a protestar."
Fuser diz ainda que, com sua política, Serra ignora fatos básicos que qualquer político deveria saber, principalmente um ministro das relações exteriores. "Ele se esquece que a adesão da Venezuela ao Mercosul foi aprovada pelo Congresso brasileiro, com apoio dos empresários das regiões Norte e Nordeste, assim como pelos congressos argentino e uruguaio. É ridículo", diz.
A nomeação do novo embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, referendada pelo Senado na terça-feira (16), segundo ele, "tem como única tarefa convencer as autoridades norte-americanas, políticos, opinião pública e mídia de que supostamente não houve um golpe no Brasil".
A gestão de Serra no Ministério das Relações Exteriores, nos 100 dias de governo interino de Michel Temer, trabalha para "sabotar" tudo o que foi feito na integração latino-americana, em relação ao Mercosul, aos Brics, à soberania nacional, diz Fuser. "Eles vão se jogar de braços abertos em qualquer proposta de abertura das restrições ao capital estrangeiro, em qualquer proposta de globalização neoliberal e investimentos especulativos. É um governo que contraria não só princípios da diplomacia brasileira, mas da própria Constituição Federal, que estabelece como princípio fundador do Estado a busca da integração regional."
Esse estado de coisas e essa guinada numa política que era considerada avançada nos meios diplomáticos mundiais tem um lado irônico, observa o professor. "Há menos de dois anos, o Brasil foi alvo de uma grosseria de Israel, que chamou o Brasil de ‘anão diplomático’. Naquele momento (julho de 2014) o Brasil estava muito longe de ser um ‘anão diplomático’. Nunca tinha sido tão gigante. No entanto, essa grosseria se revelou profética, porque o Brasil hoje se transformou num anão diplomático", diz Fuser.
Na época, o Itamaraty convocou o embaixador em Tel Aviv, Henrique da Silveira Sardinha Pinto, para consultas, por considerar "inaceitável a escalada de violência" e condenar "energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza".
Para analistas, os objetivos de José Serra no âmbito do Mercosul são esvaziar o próprio bloco sul-americano eao mesmo tempo desestabilizar a Venezuela de Nicolás Maduro, interesse direto dos Estados Unidos. "Só podemos pensar que, em vez de contribuir para a estabilidade, a atual política contribui justamente para a instabilidade da região", disse a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Analúcia Danilevicz Pereira à RBA, no início do mês.
Segundo ela, "a ideia é retomar as posições dos países mais alinhados aos Estados Unidos, ideia dos anos 1990, ultraliberal, ideia de um bloco dos pobres que vão receber a ajuda dos ricos. Essa visão é extremamente atrasada e míope em relação às mudanças internacionais dos últimos anos".
Um fato simbólico da nova política exterior brasileira se revelou um misto de arrogância e presepada. Esta semana, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, denunciou que Serra tentou "comprar o voto do Uruguai" ao trabalhar pelo boicote da transferência rotativa do Mercosul à Venezuela, em troca de favorecer o país platino em negociações comerciais.
"Não gostamos muito do chanceler (José) Serra ter vindo ao Uruguai, para nos dizer que vinham com a pretensão de se suspender a transferência (da presidência do Mercosul à Venezuela) e, se suspensa, levar-nos em suas negociações com outros países, como querendo comprar o voto do Uruguai", declarou Nin Novoa.
Para Igor Fuser, o desenlace do que está acontecendo depende dos desdobramentos políticos nos próximos meses, se se consolidar o impeachment de Dilma Rousseff. A questão é como a burguesia vai encarar esse retrocesso, essa guinada radical à direita, acredita. "No seu afã de ajudar a direita venezuelana a depor Maduro, Serra adota atitudes que vão além do alinhamento político com forças internas da Venezuela: está destruindo o relacionamento comercial entre Brasil e Venezuela, construído ao longo de 15 anos."
Na opinião de Fuser, ficarão cada vez mais evidentes as perdas de empresários que exportam para a Venezuela, principalmente do Norte e Nordeste do Brasil, pela proximidade geográfica. "Me pergunto quanto tempo os empresários brasileiros que nesses últimos 13 anos obtiveram altos ganhos com as exportações à Venezuela, e agora vão perder, levarão para começar a protestar."
Fuser diz ainda que, com sua política, Serra ignora fatos básicos que qualquer político deveria saber, principalmente um ministro das relações exteriores. "Ele se esquece que a adesão da Venezuela ao Mercosul foi aprovada pelo Congresso brasileiro, com apoio dos empresários das regiões Norte e Nordeste, assim como pelos congressos argentino e uruguaio. É ridículo", diz.
Estreitamento de relações
Outro fato simbólico ocorreu há duas semanas. No dia da abertura dos Jogos Olímpicos (5 de agosto), Serra recebeu o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, no Palácio Itamaraty, no centro do Rio de Janeiro. "Foi uma oportunidade muito importante, pois temos muito a conversar e a fazer juntos", disse Kerry.Segundo ele, "questões políticas" dos últimos anos impediram que Brasil e EUA "potencializassem parceria".
"A defesa do presidente Temer de uma relação aberta e madura entre o Brasil e os Estados Unidos ajuda na construção de uma parceria renovada entre os dois países", afirmou Serra.
O encontro entre o brasileiro e um representante do alto escalão do governo dos Estados Unidos foi interpretado como o mais claro sinal de apoio do governo de Barack Obama ao governo interino.
Outro fato simbólico ocorreu há duas semanas. No dia da abertura dos Jogos Olímpicos (5 de agosto), Serra recebeu o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, no Palácio Itamaraty, no centro do Rio de Janeiro. "Foi uma oportunidade muito importante, pois temos muito a conversar e a fazer juntos", disse Kerry.Segundo ele, "questões políticas" dos últimos anos impediram que Brasil e EUA "potencializassem parceria".
"A defesa do presidente Temer de uma relação aberta e madura entre o Brasil e os Estados Unidos ajuda na construção de uma parceria renovada entre os dois países", afirmou Serra.
O encontro entre o brasileiro e um representante do alto escalão do governo dos Estados Unidos foi interpretado como o mais claro sinal de apoio do governo de Barack Obama ao governo interino.
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