terça-feira, 30 de agosto de 2016

Cunha manda no covil golpista de Temer

Por Altamiro Borges

Bem que a mídia golpista e o seu dispositivo partidário gostariam de esconder o nome do correntista suíço Eduardo Cunha na sessão do Senado desta segunda-feira. Afinal, ele chefiou a “assembleia de bandidos” que deflagrou o processo de impeachment. Após realizar o trabalho sujo, ele foi afastado da presidência da Câmara, mas segue em atividade tentando salvar o seu mandato – contando com o apoio nada discreto de Michel Temer, que morre de medo da sua “delação premiada”. O esforço para esconder o bandido, porém, esbarrou na determinação de Dilma Rousseff de cutucar a ferida. Respondendo a vários senadores, ela fez questão de citar o nome do líder do “golpe dos corruptos”.

Já no final da noite, ao responder à pergunta de Telmário Mota (PDT-RR) se voltaria a governar com o “PMDB do mal” caso evite o impeachment, ela ironizou: “Deus me livre do que o senhor chamou de PMDB do mal”, garantindo que não aceitaria a gangue de Eduardo Cunha. “Com esse PMDB eu jamais governarei”. Já em resposta ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Dilma afirmou que o impeachment “tem uma mancha, um pecado original”, citando novamente o correntista suíço. Ela lembrou que o deputado afastado da presidência da Câmara “encontrou na oposição inconformada com a derrota [na eleição de 2014] uma grande aliada”. Disse ainda que as marchas golpistas foram orquestradas e que o processo de impeachment veio pelas mãos de Eduardo Cunha.

André Moura e outros capachos

Diante destas e de outras respostas corajosas, a bancada golpista ficou visivelmente constrangida. O cambaleante Aécio Neves, o raivoso Aloysio Nunes e o mercenário Romero Jucá, entre outros conspiradores, não conseguiram esconder os seus semblantes carregados diante das câmeras de tevê. Eles até tentam ocultar o correntista suíço, mas não conseguem. E, de fato, não há como esconder uma figura tão sinistra. Eduardo Cunha não apenas comandou a “assembleia dos bandidos”, como segue dando as ordens no covil de Michel Temer. Basta mencionar os postos que o lobista continua ocupando no bordel do usurpador de Michel Temer, que tomou de assalto o Palácio do Planalto.

O líder do governo na Câmara Federal, por exemplo, é um velho capacho do lobista – que, estima-se, financiou a campanha eleitoral de mais de 120 deputados. Segundo a própria mídia, o nome de André Moura (PSC-SE) foi uma imposição de Eduardo Cunha para garantir a aprovação dos projetos de interesse do governo ilegítimo. Ligado ao chamado “centrão”, o parlamentar foi um dos chefes da tropa de choque que tentou barrar a cassação do lobista – chegando a ser chamado de “lambe botas” por vários deputados. André Moura é alvo da operação Lava-Jato, réu em três ações penais no STF (Supremo Tribunal Federal) e também é acusado de tentativa de homicídio. Um típico “ficha limpa”.

Outro serviçal de Eduardo Cunha é o nome indicado por Michel Temer para ser o interventor na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – decisão que foi suspensa pelo STF. O jornalista Laerte Rimoli foi diretor de comunicação da Câmara Federal, indicado por Eduardo Cunha. Antes disso, foi coordenador da campanha derrotada de Aécio Neves. No triste reinado de FHC, ele foi assessor de imprensa do Ministério das Comunicações na gestão de Pimenta da Veiga (PSDB-MG). Ativo militante da “esgotosfera” fascistoide, Laerte Rimoli adorava postar mensagens contra Dilma, “uma mulher enjoativa”, e contra as lideranças de esquerda. “Xô PT, Xô Dilma, Xô Lula”, replicava o criativo capacho de Eduardo Cunha.

Já o assessor de gabinete da Advocacia-Geral da União, Marcelo Ribeiro do Val, assinou várias peças de defesa de Eduardo Cunha. Outro capacho do lobista, Gustavo do Vale Rocha, foi indicado para subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil. Na sabatina feita pelo Senado, em maio, ele confirmou que advogava para Eduardo Cunha. Indagado se usaria o cargo para defender seu cliente, ele negou – e ninguém acreditou. Estes e outros cargos estratégicos evidenciam o poder de Eduardo Cunha no covil de Michel Temer. Até um colunista mais crítico da Folha, Bernardo Mello Franco, reconheceu esta forte influência – agora enfatizada por Dilma Rousseff no Senado. Vale conferir:

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O amigo oculto do presidente

Folha de S.Paulo, 19 de maio de 2016

Num discurso famoso, a presidente afastada disse que atrás de toda criança existe uma figura oculta, que é o cachorro. Nos últimos dias, os brasileiros estão percebendo que atrás do presidente interino existe outra figura, nem tão oculta. É o Eduardo Cunha.

Mesmo afastado da Câmara por decisão do Supremo, o correntista suíço está dando as cartas no governo de Michel Temer, seu velho aliado. Emplacou o advogado na Casa Civil. Emplacou um assessor na Secretaria de Governo. Emplacou um aliado como ministro dos Transportes.

Ajudou a emplacar outro advogado como ministro da Justiça. O escolhido vai comandar a Polícia Federal, que investiga políticos suspeitos de corrupção. Alguém pensou em conflito de interesses?

Agora Cunha deu a demonstração definitiva da ascendência sobre Temer. Emplacou André Moura, o mais fiel de seus escudeiros, como líder do governo na Câmara. Ele terá carta branca para negociar e dar entrevistas em nome do presidente.

Investigado na Lava Jato, Moura tem um prontuário de dar inveja ao padrinho. É réu em três ações penais no Supremo, sob acusação de desviar verba. Responde a mais três inquéritos, um deles por tentativa de homicídio. Foi condenado por improbidade após torrar dinheiro público para promover um churrasco.

Filiado ao nanico PSC, o deputado gosta de ser chamado de André Cunha, tamanha a intimidade com o chefe. O petista Paulo Teixeira o batizou com outro apelido: "lambe-botas". As botas de Cunha, é claro.

A escolha indignou até deputados que apoiaram o impeachment. Jarbas Vasconcelos, do PMDB, definiu a nomeação como "um escárnio".

Ao promover o pau-mandado, Temer se apresenta ao país como um refém de Cunha. Se ele pretende terceirizar o governo ao correntista suíço, deveria entregar logo as chaves do palácio. Questionado sobre os processos, Moura disse não ter "nada a temer". É verdade. Nós é que temos.


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