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Afastada do poder há mais de cem dias, Dilma Rousseff estava em sua 12ª hora de depoimento no Senado quando Cristovam Buarque assumiu o microfone do plenário para interpelá-la. Decidido a abraçar de vez a aventura do impeachment sem crime de responsabilidade, após meses “indeciso”, o parlamentar ignorou o esgarçado pretexto das pedaladas fiscais e a questionou sobre a escolha do peemedebista Michel Temer como seu vice. “O que ele teve de tão bom que quatro anos depois a senhora repetiu o nome dele como seu companheiro de chapa?"
De início, a presidenta esboçou um discurso pouco convincente sobre a boa impressão que nutria por seu vice, “o que havia de melhor no PMDB”, até perceber a conspiração na antessala. Em seguida, rememorou o episódio das gravações feitas por Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, que levou à queda de Romero Jucá, ministro relâmpago do governo provisório. Na conversa, a dupla discutia formas de “estacar a sangria” da Lava Jato. Em dado momento, Jucá deixa escapar um comentário revelador: “Michel é Cunha”.
"Ele queria dizer o quê?”, indagou Dilma para o plenário do Senado. “Michel Temer integra o grupo do deputado Eduardo Cunha. Quando o centro democrático vira golpista e conspirador, esse processo tem um líder. Acredito que Temer é um coadjuvante. O líder é ou era o Cunha".
Não há como negar o papel decisivo do ex-presidente da Câmara. Três vezes réu no Supremo Tribunal Federal e recordista de inquéritos na Lava Jato, Cunha assegurou a sua própria sobrevivência política negociando a cabeça de Dilma. Com o poder de acolher ou rejeitar pedidos de impeachment protocolados na Casa Legislativa, cozinhou em banho-maria por meses tanto o governo petista quanto a oposição.
O peemedebista só acolheu a denúncia apresentada pelos advogados Miguel Reale Jr., Hélio Bicudo e Janaína Pascoal após a bancada do PT anunciar que votaria a favor da cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara. Um vício de origem sempre evocado pela defesa da presidenta afastada, e solenemente ignorado pela maioria parlamentar.
À época, alguns analistas chegaram a acreditar que o astuto enxadrista havia se precipitado. Sem esse trunfo nas mãos, como poderia salvar o pescoço? Ledo engano. Regente do chamado “Centrão” - bloco de partidos pequenos e médios movidos por interesses fisiológicos, outrora conhecido como “baixo clero” -, Cunha articulou uma espécie de venda cassada: a cabeça de Dilma em troca de sua própria absolvição.
Aliados próximos, como Paulinho da Força, do Solidariedade, e o peemedebista Osmar Serraglio, hoje presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, chegaram a falar abertamente em “anistia” como retribuição pelo impeachment da petista.
Hoje, não há a mais pálida sinalização de um desfecho do processo contra o peemedebista. Nos bastidores, o Planalto articula para postergar o máximo possível a votação no plenário da Câmara.
Sem meias palavras
Ciente de que o processo de impeachment chega à reta final praticamente definido, Dilma optou por fazer um discurso no Senado menos conciliador aos parlamentares que decidirão sobre seu afastamento e lançou mão de um tom de denúncia contra elites políticas, econômicas e setores da mídia. "Estamos a um passo de um verdadeiro golpe de Estado".
Ao longo de discurso de cerca de 40 minutos, Dilma acusou a oposição ao seu governo de não respeitar o resultado das urnas e de semear a crise política. “Os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas eleições fizeram de tudo para impedir a posse e estabilidade do meu governo. Pediram auditoria nas urnas, impugnaram minhas contas eleitorais e após a posse buscaram de forma desmedida quaisquer fatos que pudesse justificar um processo de impeachment”, afirmou. “
As provas produzidas deixam claro que as acusações contra mim dirigidas são meros pretextos. São apenas pretextos para derrubar um governo legítimo, escolhido em eleição direta. São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição”.
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