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Começou a campanha eleitoral e ela coloca mais pedras no sapato de Michel Temer. Nesta segunda-feira acabou o prazo para o registro de candidaturas e nesta quarta começa o tempo oficial da propaganda dos candidatos. Embora o pleito seja municipal, para a escolha de prefeitos e vereadores, deputados e senadores precisam estar nas bases, fidelizando eleitores e cabos eleitorais, dos quais vão precisar para se eleger em 2018. Com o Congresso esvaziado, o interino poderá ficar sem chão, mesmo depois de efetivado. Não conseguindo quórum e votos para aprovar as medidas fiscais, acabará de vez sua lua de mel com as forças do mercado, cada dia mais indóceis com a condução do governo que, ao fazer bondades para obter apoio político deixa, de entregar a mercadoria prometida.
Aí estão Meirelles e outros porta-vozes, roucos de explicar que não é bem assim, que as concessões feitas não comprometem o ajuste prometido. Mas aí estão também os porta-vozes da elite financeira a lembrar, nas entrelinhas, da descartabilidade de Temer. Dilma está sendo deposta fundamentalmente porque estas mesmas forças perderam a confiança nela. Arranjou-se um pseudo-crime de responsabilidade para envernizar o golpe mas a verdade que a elite financeira decidiu apear Dilma e apostar em Temer como executar da agenda que lhe interessa, ou julga necessária. Até que ela tentou o ajuste com Joaquim Levy, mas naquela altura ela já tinha contra si Eduardo Cunha e o Centrão, o PMDB e sua ambição, o Congresso e suas pautas bombas. Não tendo condições políticas para entregar a mercadoria prometida, Temer corre o risco de não sobreviver no cargo até 2018, mesmo com o golpe consumado no final do mês.
Na questão fiscal, o tempo está encurtando. No dia 31 de agosto, vale dizer, daqui a duas semanas, o governo terá que apresentar ao Congresso a proposta orçamentária para o ano que vem. Como não há reformas aprovadas que garantam redução de gastos, Meirelles e equipe têm dois caminhos: ou apontam economias hipotéticas, que dependerão de votações incertas, ou aumentam impostos. Isso também alargará a fissura dentro do bloco do golpe.
Se Temer fosse intocável e invulnerável, seria mais difícil descartá-lo. A situação se complica porque, além da visível fissura entre os que lhe entregaram o governo, nela incluída a insatisfação crescente do PSDB, Temer tem pelo menos três espadas sobre a cabeça. Uma, Eduardo Cunha. Mas a mesma campanha eleitoral que complica sua vida com o mercado pode livrá-lo das ameaças do velho parceiro. Basta que os deputados do centrão não compareçam à sessão de cassação marcada para 12 de setembro. Segunda espada, as delações da Odebrecht, mesmo que empurradas para novembro. Neste caso, o próprio Temer amplia sua vulnerabilidade ao confessar que pediu mesmo recursos à construtora, num jantar no Palácio do Jaburu, e que eles foram doados. Legalmente, é claro. Em dinheiro vivo, dirá a Odebrecht, segundo a negociação preliminar. Foi a primeira vez que um governante brasileiro admitiu passar o chapéu entre fornecedores do Estado. É muita crença na impunidade, como dizem os procuradores a respeito de outros investigados. Neste caso, a autoconfiança de Temer vem da Constituição, que impede os presidentes de serem investigados por atos anteriores à investidura no cargo.
E ainda existe a terceira espada, a do TSE, onde tramita a ação de impugnação da chapa Dilma-Temer. Tudo indica que será julgada no início do ano que vem. Dilma já será carta fora do baralho, restando a cassação de Temer. Se for da conveniência do grande condomínio do golpe, o TSE poderá assumir a tarefa de abrir caminho para outra solução. Se impugnar a chapa no ano que vem, teremos a eleição indireta de um presidente, como antigamente, na ditadura. Este alguém não precisa ser congressista. Precisa ter os votos. Logo, as verdadeiras elites poderão escolher o novo nome a dedo.
O fato é que com o início da campanha a vida se complica para Temer porque é muito improvável que, daqui para a frente, haja quórum no Congresso tanto para cassar Eduardo Cunha como aprovar a PEC que congela o gasto público e as reformas previdenciária e trabalhista. Para fechar o orçamento, pode não restar alternativa senão o aumento de impostos, o que também alargará o fosso entre o interino e o bloco que afastou Dilma para entregar o governo, confiando em sua capacidade de entregar o prometido.
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