Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Primeira eleição depois do golpe de 31 de agosto, a votação do próximo domingo, quando os brasileiros vão às urnas para escolher prefeitos e vereadores, guarda um traço semelhante com os pleitos ocorridos nos tempos do regime militar.
A conjuntura é marcada pela tentativa, por parte dos aliados de Michel Temer, de consolidar um estado de exceção, primeiro passo para reduzir direitos e diminuir liberdades num período próximo.
Toda eleição municipal envolve - é inevitável - questões de caráter municipal e podemos ter certeza de que boa parte dos eleitores tomarão sua decisão em função deste debate.
Mas em outubro de 2016 o horizonte político é nacional. Se fosse preciso reforçar o argumento, a prisão de Antonio Palocci e dois assessores, sem justificativa real, ajuda a dissipar qualquer dúvida. Prisões sem culpa formada, que afrontam garantias típicas da democracia, ameaçam tornar-se uma banalidade. Imagine-se o impacto da notícia sobre eleitores de domingo.
Só para comparar. Em 2012, quando ocorreu o julgamento da AP 470 no STF, temia-se que o impacto das imagens ao vivo sobre o comportamento do eleitorado.
Em 2016, não há julgamento. Ocorrem prisões preventivas, que haviam sido pedidas pelo Ministério Público Federal, quatro anos atrás, mas negadas pelo relator Joaquim Barbosa. Sinal dos tempos.
Neste ambiente, a defesa da democracia é a prioridade, mesmo que nem todos os cidadãos possam tenham consciência disso.
Com todas as distâncias exigidas por um tempo histórico diferenciado, pela diferença entre um golpe militar e um golpe parlamentar, sem falar na presença de outros atores políticos e outras experiências vivida pela maioria do povo, não há dúvida de que estamos no momento comparável aos primeiros anos de resistência a ditadura de 64.
Como acontece em momentos de ruptura, nem todos os desdobramentos estão claros. Logo depois do golpe militar, boa parte da futura oposição civil buscava acomodar-se, convencida de que as feridas à democracia não seriam tão graves nem profundas. Não foram só golpistas de primeira hora, como Carlos Lacerda, que se iludiram.
Primeira eleição depois do golpe de 31 de agosto, a votação do próximo domingo, quando os brasileiros vão às urnas para escolher prefeitos e vereadores, guarda um traço semelhante com os pleitos ocorridos nos tempos do regime militar.
A conjuntura é marcada pela tentativa, por parte dos aliados de Michel Temer, de consolidar um estado de exceção, primeiro passo para reduzir direitos e diminuir liberdades num período próximo.
Toda eleição municipal envolve - é inevitável - questões de caráter municipal e podemos ter certeza de que boa parte dos eleitores tomarão sua decisão em função deste debate.
Mas em outubro de 2016 o horizonte político é nacional. Se fosse preciso reforçar o argumento, a prisão de Antonio Palocci e dois assessores, sem justificativa real, ajuda a dissipar qualquer dúvida. Prisões sem culpa formada, que afrontam garantias típicas da democracia, ameaçam tornar-se uma banalidade. Imagine-se o impacto da notícia sobre eleitores de domingo.
Só para comparar. Em 2012, quando ocorreu o julgamento da AP 470 no STF, temia-se que o impacto das imagens ao vivo sobre o comportamento do eleitorado.
Em 2016, não há julgamento. Ocorrem prisões preventivas, que haviam sido pedidas pelo Ministério Público Federal, quatro anos atrás, mas negadas pelo relator Joaquim Barbosa. Sinal dos tempos.
Neste ambiente, a defesa da democracia é a prioridade, mesmo que nem todos os cidadãos possam tenham consciência disso.
Com todas as distâncias exigidas por um tempo histórico diferenciado, pela diferença entre um golpe militar e um golpe parlamentar, sem falar na presença de outros atores políticos e outras experiências vivida pela maioria do povo, não há dúvida de que estamos no momento comparável aos primeiros anos de resistência a ditadura de 64.
Como acontece em momentos de ruptura, nem todos os desdobramentos estão claros. Logo depois do golpe militar, boa parte da futura oposição civil buscava acomodar-se, convencida de que as feridas à democracia não seriam tão graves nem profundas. Não foram só golpistas de primeira hora, como Carlos Lacerda, que se iludiram.
O próprio Juscelino Kubitscheck imaginava inicialmente que poderia disputar a eleição presidencial em 1965. A realidade só ficou clara quando, sem necessidade de manter as aparências, a ditadura modificou o calendário eleitoral, para prolongar o mandato do primeiro general presidente e garantir a posse, por decisão dos quartéis, do sucessor Costa e Silva. Neste momento, as lideranças civis com alguma autenticidade já haviam perdido a cabeça -- ou foram decapitadas pouco depois.
Numa disputa palmo a palmo, cada passo, cada iniciativa, aqui e agora, terá um peso nos momentos futuros, o que explica por que o governo Temer agendou para 2017 - após a contagem dos votos - as deliberações decisivas sobre o teto para os gastos, a reforma da Previdência, a esterilização da CLT. Beneficiários diretos da máquina midiática que dá sustentação ao golpe, os aliados de Temer desfrutam de uma imagem favorável que jamais poderiam construir por seus méritos próprios. Temos uma campanha curta, com um formato de propaganda -- inserções de 30 segundos -- que não ajuda a construção de um discurso alternativo ao pensamento único longamente construído e dirigido.
Em todo país, a prioridade das forças políticas vencidas em 31 de agosto é minimizar o desgaste e evitar as derrotas aonde for possível.
Em São Paulo, surgiu um leve fiapo de esperança na possibilidade de Fernando Haddad avançar para o segundo turno. É uma chance que deve ser aproveitada, mesmo reconhecendo imensas dificuldades. Mudanças na reta final acontecem, e explicam a vitória do próprio Haddad em 2012.
Quem se recorda da eleição de Luiza Erundina, em 1988, não esquece a virada ocorrida nos últimos dias, quando eleitores de convicções democráticas se alinharam para impedir a vitória do favorito Paulo Maluf. Candidata de uma campanha na qual sequer o PT acreditava poucos dias antes, Erundina atravessou várias casas, desmoralizando as pesquisas de última hora com 28% dos votos contra 25%. O próprio Ulysses Guimarães pediu votos para a candidata do PT.
Na vitória de 1988, a eleição impediu um retorno do passado da ditadura. Em 2016, o risco é o passado retornar com fantasia de futuro.
Acima de qualquer outra consideração, esta é a mensagem a ser levada para as urnas. Mais do que um cálculo, é afirmação de consciência.
Vivemos uma situação tão grave que uma exemplo internacional ajuda a pensar. Mais grave derrota da democracia e dos trabalhadores no século XX, a ascensão do nazismo na Alemanha, através das eleições de 1933, só foi possível pela divisão dos partidos operários, o comunista e a social-democracia. A campanha sistemática e agressiva de uns contra os outros abriu caminho para que o partido de Adolf Hitler tivesse o maior número de votos, situação que abriu caminho para uma tragédia que todos conhecem e, no fundo, gostariam de esquecer.
Numa disputa palmo a palmo, cada passo, cada iniciativa, aqui e agora, terá um peso nos momentos futuros, o que explica por que o governo Temer agendou para 2017 - após a contagem dos votos - as deliberações decisivas sobre o teto para os gastos, a reforma da Previdência, a esterilização da CLT. Beneficiários diretos da máquina midiática que dá sustentação ao golpe, os aliados de Temer desfrutam de uma imagem favorável que jamais poderiam construir por seus méritos próprios. Temos uma campanha curta, com um formato de propaganda -- inserções de 30 segundos -- que não ajuda a construção de um discurso alternativo ao pensamento único longamente construído e dirigido.
Em todo país, a prioridade das forças políticas vencidas em 31 de agosto é minimizar o desgaste e evitar as derrotas aonde for possível.
Em São Paulo, surgiu um leve fiapo de esperança na possibilidade de Fernando Haddad avançar para o segundo turno. É uma chance que deve ser aproveitada, mesmo reconhecendo imensas dificuldades. Mudanças na reta final acontecem, e explicam a vitória do próprio Haddad em 2012.
Quem se recorda da eleição de Luiza Erundina, em 1988, não esquece a virada ocorrida nos últimos dias, quando eleitores de convicções democráticas se alinharam para impedir a vitória do favorito Paulo Maluf. Candidata de uma campanha na qual sequer o PT acreditava poucos dias antes, Erundina atravessou várias casas, desmoralizando as pesquisas de última hora com 28% dos votos contra 25%. O próprio Ulysses Guimarães pediu votos para a candidata do PT.
Na vitória de 1988, a eleição impediu um retorno do passado da ditadura. Em 2016, o risco é o passado retornar com fantasia de futuro.
Acima de qualquer outra consideração, esta é a mensagem a ser levada para as urnas. Mais do que um cálculo, é afirmação de consciência.
Vivemos uma situação tão grave que uma exemplo internacional ajuda a pensar. Mais grave derrota da democracia e dos trabalhadores no século XX, a ascensão do nazismo na Alemanha, através das eleições de 1933, só foi possível pela divisão dos partidos operários, o comunista e a social-democracia. A campanha sistemática e agressiva de uns contra os outros abriu caminho para que o partido de Adolf Hitler tivesse o maior número de votos, situação que abriu caminho para uma tragédia que todos conhecem e, no fundo, gostariam de esquecer.
Ainda falta uma brazilian Kristallnacht, que não deve demorar para acontecer.
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