quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Bia Doria vai depor na CPI da Lei Rouanet?

Por Altamiro Borges

Por iniciativa da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a ricaça Bia Doria, mulher do prefeito eleito de São Paulo, “João Dólar” (PSDB), poderá ser convocada a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lei Rouanet para explicar os projetos que realizou com base nesta lei de incentivo fiscal. Em curto espaço de tempo, desde 2014, ela foi autorizada a captar R$ 3,5 milhões para quatro ações artísticas. Para a parlamentar comunista, que requisitou a convocação nesta segunda-feira (10), a CPI precisa apurar se houve tráfico de influência na solicitação destes patrocínios.

“Queremos entender como é isso, porque ela é recorrente solicitadora da Rouanet... Não há motivação política. Toda denúncia que chegar à minha mão que envolva captação nós vamos apurar", explicou Jandira Feghali à jornalista Mônica Bergamo, da Folha. As suspeita de irregularidades não são novas. No início deste ano, quando seu marido já despontava como candidato de Geraldo Alckmin à prefeitura de São Paulo – o que causou sangrentas bicadas no ninho tucano – surgiram as primeiras denúncias. A mesma Folha, que mantém íntimas ligações com José Serra, rival do governador, especulou que o falso moralista João Doria interferiu politicamente na obtenção de recursos com base na Lei Rouanet. Alguns analistas até apostaram que se tratava do famoso “fogo amigo” no PSDB.

Em reportagem venenosa publicada em janeiro, a Folha revelou como Bia Doria conseguia os recursos para os seus projetos artísticos. Vale relembrar alguns trechos da matéria, assinada pela jornalista Daniela Lima:

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Fim de semana em uma luxuosa casa em Campos do Jordão (SP), com direito a spa e massagens na recepção, aperitivos diante da lareira e até jantar de aniversário de um cantor famoso. Foi essa a programação que o empresário João Doria Júnior, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, ofereceu a autoridades públicas em 2015.

A pelo menos um dos seus convidados, Doria também fez pedidos de favores pessoais. Os registros do convescote estão em e-mails enviados por funcionários de Doria aos integrantes da comitiva, em julho do ano passado. Entre os destinatários das mensagens do tucano estava David Barioni, presidente da Apex Brasil, agência do governo federal responsável pelo fomento à exportação.

Meses antes, Barioni havia recebido outra mensagem. A mulher do pré-candidato tucano à prefeitura, Bia Doria, enviou, em abril, um pedido para que a Apex patrocinasse uma exposição de suas obras no exterior. Ela é artista plástica e, no e-mail, diz ter obtido incentivo da Lei Rouanet para captar até R$ 1,7 milhão. Na mensagem, Bia diz que seguiria “em busca de empresas”. “Mas está difícil alguma me falar sim”, conclui na comunicação. Ela ainda ressalta que o marido estava copiado na mensagem e poderia expressar, portanto, alguma contrariedade, se houvesse, ao pedido de patrocínio.

A sequência da conversa, obtida pela Folha, mostra que Doria se manifestou em seguida, dando aval à investida. “Nenhuma objeção. Pelo contrário”, escreve o empresário. “Barioni, aqui ao meu lado, vai avançar neste tema com você”, arremata. Procurada pela reportagem, as assessorias da Apex Brasil e do Grupo Doria confirmaram o pedido de patrocínio feito por Bia Doria, mas disseram que o valor solicitado pela artista acabou não sendo liberado.


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No mesmo período, o jornalista Kiko Nogueira, do imperdível blog Diário do Centro do Mundo, postou uma matéria hilária sobre as movimentações do privatista João Doria, que adora mamar nas tetas do Estado. Também vale conferir:

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A mulher de João Doria, a meritocracia e a Lei Rouanet

Por Kiko Nogueira – 26/01/2016

Assim como Carlos Sampaio acha que o impeachment é remédio para dor de cabeça, seborreia e hérnia de disco, João Doria Jr, o pré-candidato à prefeitura de SP pelo PSDB, acredita que a solução para os problemas da cidade é a privatização.

Protegé de Alckmin, eterno fundador do movimento Cansei e organizador de gincanas de empresários e políticos em resorts da Bahia, Doria se declara um “defensor do Estado eficiente e suficiente. Estado inchado quem gosta é o PT, coisa da política maldita deles”.

Emulando o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, um dos homens mais ricos dos EUA, Doria afirma que vai abdicar do salário.

É mais uma palhaçada de um homem acostumado a viver pesadamente de favores governamentais e conchavos.

Recentemente, veio a público uma troca de e-mails entre João, sua mulher Bia Doria e o presidente da Apex Brasil, David Barioni, agência do governo federal que promove produtos e serviços nacionais no exterior e atrai investimentos estrangeiros.

Segundo a Folha, Bia, que é artista plástica, havia pedido patrocínio a Barioni para uma exposição no exterior. Teve autorização da Lei Rouanet para captar até 1,7 milhão de reais.

Ela mandou um e-mail a Barioni, com o marido copiado, contando que seguiria “em busca de empresas”. Doria poderia se manifestar caso tivesse algo contra a iniciativa.

Doria, o campeão da meritocracia e do estado mínimo, dá um OK. “Nenhuma objeção. Pelo contrário”, escreve. “Barioni, aqui ao meu lado, vai avançar neste tema com você”.

Não foi um caso isolado e nem a primeira vez de Bia Doria, casada com um sujeito que se orgulha de usar um relógio de 15 mil euros –presente de um cantor sertanejo, afirma ele –, em busca de dinheiro público.

Em novembro de 2014, ela lançou o livro “Raízes do Brasil”. De acordo com o release, são esculturas “a partir de árvores recolhidas no fundo da represa da Hidroelétrica de Balbina, no Amazonas”, no que teria sido “o maior desastre ambiental do Brasil pelo alto custo, baixa geração em relação à área inundada e alta emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global”. Bia tem essa pegada “sustentável” em seu trabalho, como se vê.

Ainda segundo o texto de divulgação, a obra “contou com o incentivo da Lei Rouanet para ser publicado e estará a venda nas livrarias Cultura de todo o Brasil”. O Ministério da Cultura aprovou que ela captasse 302 mil reais.

Um outro projeto, chamado “Preto no Branco”, solicitava 373.320 reais. Trata-se de um “livro bilíngue, contendo aproximadamente 320 páginas”, com 140 esculturas da artista plástica Bia Doria, acompanhadas de um texto conceitual (!?) do escritor e curador Marcio Pitliuk.

A tiragem será de 1 500 exemplares e “irá documentar um conjunto de obras de Bia Doria, em madeira, mármore e bronze, realçando as luzes e sombras, as formas e texturas.” Foram aprovados 300 mil. Se o cronograma for respeitado, “Preto no Branco” sai em outubro de 2016.

Você precisa ser um completo inocente para acreditar que a papagaiada liberal de João Doria é para valer. Para ficar apenas em um exemplo recente de sua própria relação promíscua com o governo, Geraldo Alckmin liberou meio milhão em publicidade para sua editora de revistas fantasmas.

A meritocracia de Doria, bem como sua moral, é relativa. Quando se trata de seus negócios e da sua família, o dinheiro público serve para ser privatizado.


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A desastrosa entrevista da madame

Caso a convocação de Bia Doria seja aprovada na CPI da Lei Rouanet, ela terá que compatibilizar sua agenda com outras tarefas. Ainda segundo a Folha serrista, cupinchas de João Doria estão sugerindo que sua esposa faça rapidamente um treinamento para lidar com a imprensa – o chamado “media training”. Neste domingo (9), a ricaça deu uma entrevista desastrada ao jornal da famiglia Frias, no qual esbanjou seu elitismo e visão preconceituosa. Suas patéticas declarações bombaram nas redes sociais. Os internautas não perdoaram a madame que não sabe para que serve o “Minhocão” – “é tipo um viaduto, né?” – e que se jacta de "apertar a mão e dar abraços" em seus empregados.

Temendo futuros desastres, “aliados do prefeito eleito em São Paulo sugeriram que a sua mulher, Bia Doria, deveria se submeter a um treinamento para lidar com a imprensa. O conselho, passado diretamente a João Doria, foi dado após a repercussão da entrevista que a artista plástica com quem ele é casado há mais de 20 anos concedeu à Folha... As declarações da futura primeira-dama criaram forte constrangimento na equipe de Doria, que foi aconselhado a reduzir ele próprio, inclusive, o número de declarações públicas. Desde que foi eleito, o tucano concedeu entrevistas praticamente todos os dias”.

"Media training" de como trair os eleitores

O próprio “João Dólar”, que ganhou visibilidade como apresentador de tevê, poderia aproveitar o “media training” da esposa para se atualizar sobre as técnicas de como trair seus eleitores e permanecer imune. Durante a campanha eleitoral, ele fez várias promessas demagógicas e irresponsáveis. Entre outras, o amante de automóveis de luxo garantiu que aumentaria a velocidade dos veículos nas avenidas marginais da capital paulista. A mídia chapa-branca, que não incomodou o candidato do PSDB quando ele disparava estas e outras barbaridades, agora já aponta que a medida é temerária e sinaliza que o novo prefeito poderá recuar na sua promessa.

O problema é que os eleitores do tucano, adestrados com seus discursos rancorosos contra o petista Fernando Haddad, já perceberam que podem ser traídos e estão furiosos. Nas redes sociais, a mãe de João Doria está sendo lembrada. Os famosos “coxinhas”, que amam seus automóveis e desprezam a vida, exigem o aumento da velocidade, o fim das ciclovias, a extinção dos corredores de ônibus e outras barbáries. Muitos já se mostram arrependidos do voto e até falam em “estelionato eleitoral”. Bem que os “midiotas” poderiam promover algumas marchas na Avenida Paulista, com a ajuda da Fiesp, para exigir o impeachment de “João Dólar”. Seria divertido!

Em tempo: Reproduzo abaixo a citada entrevista de Bia Doria só para irritar os inocentes – úteis e inúteis – que votaram no marido dela. Boa digestão!

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‘Me sinto do povo’, diz Bia Doria, a nova primeira-dama de SP

Por Silas Martí – 09/10/2016

"Seu Eli, é a dona Bia. Dá para entrar em casa ou tem gente na frente?". No volante de seu Porsche Cayenne, a futura primeira-dama de São Paulo ligava para casa aflita. Queria saber como avançava o protesto de ativistas que se deitaram no asfalto em frente à residência dos Doria na semana passada contra possíveis mudanças nas ciclovias.

Quarenta minutos antes, Bia, 56, que é artista plástica, deixara seu ateliê na Vila Nova Conceição, a três quilômetros de sua casa no Jardim Europa. Entrou no SUV preto fazendo o gesto de "acelera" do marido para os vizinhos.

Ela, aliás, não sai muito dos bairros onde vive e trabalha. Lugares como o Minhocão ou o Baixo Augusta estão fora de seu radar. "O Minhocão hoje para que serve? Quase nunca fui lá. É tipo um viaduto, né?", pergunta a nova primeira-dama, que elogia os parques "lindos" de Sydney e as ciclovias de Cingapura —as de São Paulo ela acha perigosas demais e não se atreve a usar.

Também não se aventura pelo centro e desconhece a briga pela criação do parque Augusta, lembrando sua "boa relação com a Cyrela", uma das construtoras donas do terreno. "Onde é isso? Não conheço. Imagina quem tem filhos no centro. Vão passear onde? Vou falar para o João que lá tem que ser parque."

Ali perto, Bia só conhece a rua Avanhandava, que chama de "aquela vielinha tortinha onde fica a Famiglia Mancini". Na visão dela, é o único lugar na cidade onde é possível "andar a pé, igual em Nova York".

"Até com o trânsito eu me acostumei", afirma, num sinal fechado. "Coloco o telefone aqui e vou respondendo WhatsApp. Olha como a vida é bela no Instagram", diz, mostrando no iPhone branco a imagem de uma amiga rodeada de sacolas da Hermès, uma taça de champanhe na mão.

DENTES

"No Morumbi tem aquela favela, né? Paraisópolis. Ali é a Etiópia, mas eles respiram o mesmo ar, sentem o mesmo frio que a gente. Essa desigualdade tem que diminuir. Não adianta ter uma funcionária que chega no ateliê e tem problemas de nutrição."

"Imagina como eu ficaria feliz se chegasse uma arrumadeira já sabendo fazer as coisas. Pouquíssimas delas sabem, a não ser as que já passaram por várias casas, mas aí elas vêm cheias de manias."

Em seu ateliê, onde faz esculturas de madeira, mármore e bronze que pesam até 20 toneladas, Bia se orgulha de ter transformado a vida dos assistentes. "Todos moravam em barracos e nem tinham dentes. Consegui casa para todos eles, dei dentes para eles, dei um plano de saúde bom. Hoje eles se sentem felizes, até se acham artistas porque são meus assistentes."

Bia, uma entre os 11 filhos de uma família que tinha uma fábrica de vassouras em Santa Catarina, também se diz próxima da população por causa de seu trabalho. Conta que tem contato direto com agricultores que cedem os troncos usados em suas obras.

"Sempre me senti uma Evita Perón, porque eu sou mais do povo, eu me sinto do povo", diz a artista, casada há mais de duas décadas com o prefeito eleito e mãe de seus três filhos. "Eu me dou muito bem com pessoas mais humildes. Às vezes é só um aperto de mão, às vezes elas querem um abraço. É tão pouco o que elas querem."

ARTE ARTE

Artista plástica, ela lamenta que São Paulo tenha acervos muito "pobres" e se surpreende ao saber a situação das instituições municipais, como o Museu da Cidade, que não tem espaço físico.

Mesmo a Bienal de São Paulo, a mais tradicional do mundo depois da de Veneza, desagradou Bia Doria. "Não gostei de nada lá. A gente está fazendo campanha para não ter pneu em casa por causa dos pernilongos, e os caras vão lá e põem pneu", diz sobre a obra da portuguesa Carla Filipe, que criou uma horta com rodas de trator. "É que eu gosto de arte arte, telas e esculturas. Não gosto daquelas instalações muito modernas, qual é o nome disso mesmo?"

Nesse sentido, a coleção que acumulou ao lado do marido tem Di Cavalcanti, Portinari, as gordinhas de Botero e um generoso conjunto de telas de Romero Britto, que já retratou toda a família Doria e fez pelo menos cinco pinturas da primeira-dama.

"Tenho vários quadros dele", diz Bia. "O que eu aprecio no Romero é essa versatilidade que ele teve de fazer um marketing em cima de seu trabalho. Aquela coisa colorida é uma felicidade para os olhos."

Mas Bia não sente a mesma sintonia com artistas contemporâneos, em especial os que lideraram os gritos de "fora, Temer" na inauguração da Bienal agora em cartaz. "A gente está parado há dois anos e, se tirar o Temer, o país vai ficar parado mais dois anos. Esses artistas têm que ficar quietinhos e deixar o Temer trabalhar. O Brasil tem que andar agora."

Ou, como quer seu marido, acelerar. Na família, Bia diz ser a única que tinha certeza de que Doria seria eleito já no primeiro turno. Apostou R$ 5.000 contra R$ 100 de um dos filhos, que achava que seu pai não se elegeria.

Na pele de primeira-dama, Bia sonha com uma cidade em que os parques e praças tenham mais esculturas, mas não as suas. "Isso não vai acontecer, porque o João é uma pessoa muito correta", diz. "Se for para colocar esculturas, vão ser de outros artistas, porque senão seria... Como chama isso? Nepotismo?"

Sem ter abusado de seus contatos em Brasília, diz ela, Bia se orgulha de que obras suas estavam no Salão Negro da Câmara dos Deputados durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff. Ficou feliz com o fato de as peças servirem muitas vezes de pano de fundo das reportagens na televisão.

Nesse ponto, tanto a saída de Dilma quanto a vitória de seu marido em São Paulo parecem ter sido um desfecho triunfal para a derrocada do PT que ela tanto desejou.

"Fiquei muito triste quando o Lula se elegeu. Até chorei no dia em que ele tomou posse porque tinha certeza que eles iam desfalcar todas as empresas como fizeram", diz Bia. "Quando Eduardo Cunha levantou a hipótese de impeachment, dei graças a Deus. Não defendo o Cunha, mas ele tem atitude."

MODERNOSO CASUAL

Bia também aprovou a troca do terno do marido pelo suéter apoiado sobre os ombros, que chama de estilo "modernoso casual", e diz que ele é "perfeito, chique".

Ela ainda não pensou no vestido que usará na posse, mas afirma que não vai destoar de seu estilo. "Eu me sinto poderosa porque me dou bem na favela e me sinto bem de salto alto num jantar chiquérrimo da sociedade com talher de prata. Se me der uma enxada, eu me saio muito bem. Se me der um salto alto, também me saio muito bem."


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