terça-feira, 15 de novembro de 2016

Factoide sobre piscina fortalece Lula

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

A esta altura, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve estar esfregando as mãos de satisfação por conta de matéria da Folha de São Paulo deste domingo (13/11) que acusa o ex-presidente de ter recebido inusitada forma de propina: obra feita por uma empreiteira em patrimônio público. Essa matéria ajudará a provar que Lula é vítima de perseguição.

A manchete principal de capa daquele veículo diz que a Polícia Federal investiga se “Odebrecht fez reforma de piscina para Lula”.

A manchete induz as pessoas a acharem que a empreiteira reformou piscina de alguma propriedade de Lula, apesar de as propriedades que é possível provar que são dele não têm – e não comportariam – piscinas que precisam ser reformadas por empreiteiras.

Uma reportagem séria teria dito na manchete que “PF investiga obra da Odebrecht em piscina do Alvorada em 2008”. Ao dizer que a obra atribuída à empreiteira foi feita “para Lula”, o jornal mentiu, a menos que o veículo prove que o ex-presidente é o dono oculto do Palácio da Alvorada.

Detalhe: lendo a matéria descobre-se que aquilo que o jornal chama de “obra” é, na verdade, uma simples troca de piso no entorno da piscina.

Porém, para chamar a obra de “propina” seria necessário que os investigadores justificassem o bom, velho e incômodo MOTIVO para Lula receber como propina uma obra que ele poderia ter mandado fazer oficialmente sem questionamento algum, pois a benfeitora seria em patrimônio público.

Um presidente da República precisa cometer um ato de corrupção (receber propina) para mandar fazer uma pequena reforma em um prédio público?

A reportagem diz que a reforma foi feita sem licitação e por isso a Polícia Federal investiga. É mesmo? Como fazer licitação em uma obra que pode ser feita em um ou dois dias no máximo e que obviamente foi doada ao povo brasileiro, já que o Palácio do Alvorada é patrimônio público?

No máximo, a Odebrecht fez uma doação ao patrimônio público ao fazer uma reforma no piso do entorno da piscina da residência oficial do presidente da República. Se a reforma tivesse sido em uma propriedade de Lula, vá lá.

Mas chamar isso de propina é simplesmente ridículo. Seria a primeira propina em que o corrupto pede ao corruptor para fazer um bem ao povo (consertar um prédio público) em troca de algum ato de corrupção – porque para a reforma da piscina ter sido propina Lula teria que pagar cometendo algum ato de corrupção em favor da empreiteira.

A má-intenção da matéria e a falta de motivo racional para Lula se corromper em troca de benfeitoria em patrimônio público sustentam queixa que o ex-presidente levou ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, de que é alvo de perseguição por parte de um consórcio de entes públicos e privados do qual os dois autores dessa matéria (a Polícia Federal e a mídia) fazem parte.

Mas quero oferecer uma sugestão ao ex-presidente e à sua defesa. Ao levar esse fato ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, Lula deve mostrar como a mesma Polícia Federal e a mesma imprensa agiam em relação ao seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Lula vai parar na capa do maior jornal do país sendo acusado de corrupção por uma empreiteira ter feito uma pequena reforma em um prédio público. Parece absurdo? Pois você não viu nada, leitor.

Imagine você se Lula, ainda presidente, tivesse oferecido a empreiteiros e banqueiros um jantar (pago com dinheiro público) em algum palácio do governo federal e, durante esse jantar, tivesse pedido a eles que lhe dessem dinheiro (milhões de reais).

Note bem, leitor: o pedido de dinheiro não seria para consertar algum prédio público danificado, mas para uso pessoal e exclusivo do presidente.

Imaginou o que aconteceria se alguém descobrisse fque Lula fez isso? A esta altura, a mídia estaria discutindo qual seria a melhor forma de executar uma pena de morte que ela mesma decretaria contra o ex-presidente – se através de injeção letal, cadeira elétrica ou enforcamento.

Mas se puder colaborar com esse adendo que o ex-presidente Lula pode apor à queixa feita à ONU há alguns meses, quero oferecer uma lembrança de que quando o poder está nas mãos que são consideradas “certas”, esse furor investigatório cede lugar a uma leniência criminosa.

Alguém pode até acusar Lula de ter pedido dinheiro a empreiteiros e banqueiros, mas nem o antipetista mais empedernido seria capaz de acusá-lo de fazer uma coisa dessas DENTRO DO PALÁCIO DO PLANALTO em evento público e com a imprensa presente.

No Brasil, o que é crime para alguns não é crime para outros.

Por exemplo: um presidente da República no exercício do cargo reunir empresários que têm fartas relações com o governo e pedir a eles dinheiro para si mesmo seria crime?

Depende. Se o presidente fosse Lula, seria crime punível com a pena capital. Agora, se o presidente for do clube da elite branca do eixo Rio – São Paulo, não existe nenhum impedimento. E a imprensa ainda faz cobertura em tom de coluna social.

A edição 234 da revista Época, datada de 11 de novembro de 2002, abordou na capa o crime bárbaro de Suzane Von Richthofen, mas, escondida nas páginas internas, reportagem do jornalista Gerson Camarotti revelava outro crime grave cometido contra o povo brasileiro.

No índice interno da revista, a notícia de que FHC conseguira R$ 7 milhões para ONG em que iria atuar quando deixasse o Palácio do Planalto dali a pouco mais de um mês.

Deixemos que a matéria fale por si.



Você, antipetista fanático, substitua o nome do presidente que figura nessa matéria. Troque FHC por Lula e entenda como é absurda a matéria da Folha de São Paulo de domingo, 13 de novembro de 2016.

A nova “denúncia” contra Lula está sendo feita 14 anos e dois dias após FHC pedir pra si R$ 7 milhões dentro do Planalto e 8 anos após o mesmo Lula deixar que a piscina do Alvorada recebesse doação de, vá lá, algumas dezenas de milhares de reais. Nem a mídia nem a PF jamais se incomodaram com o que fez FHC. O negócio delas é Lula.

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