Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:
A teletela que permitiria ao governo mandar mensagens e vigiar o comportamento das pessoas, imaginada por George Orwell e descrita no livro 1984, lançado em 1949, ainda não se realizou totalmente, mas estamos chegando perto. Nossos hábitos de consumo já são ostensivamente acompanhados na internet. Basta clicar numa possibilidade qualquer de compra para chover em nossos aparelhos ofertas similares vindas de todos os lados.
Mas isso é feito de forma quase explícita e, com pequena habilidade, podemos nos defender. O perigo maior que nos aproxima das previsões de Orwell está no bombardeio de mensagens veiculadas pela televisão – seja pelas tradicionais, seja por serviços audiovisuais específicos oferecidos, por exemplo, nos transportes públicos. Contra esses ataques praticamente não há defesa.
Quantos de nós já tentamos ler um livro numa sala de espera de um consultório médico, num hospital ou num laboratório, e fomos impedidos pela concorrência do vozerio vindo da televisão, invariavelmente sintonizada na Globo? Ou, em menor escala, na Record? Outro dia, uma psicóloga, ao passar por esse tipo de experiência, dirigiu-se ao setor de reclamações de um hospital de São Paulo para pedir o desligamento dos televisores. Recebida a portas fechadas, a funcionária encarregada de ouvi-la temia receber uma grave reclamação contra um médico ou atendente e, por isso, muniu-se de toda a seriedade que o momento exigia. Ouvida a queixa com certa surpresa, aliviou-se e não deu muita bola. Afinal, televisores ligados em todos os cantos é tão natural que uma reclamação isolada não mudaria a situação. E ficou por isso mesmo.
O incômodo de não poder ler ou simplesmente ficar sossegado, sem ser obrigado a ver e ouvir o que as TVs nos impõem é desagradável, mas ainda não é o pior. O que realmente nos aproxima das previsões de Orwell é o conteúdo das mensagens que nos bombardeiam de todos os lados. Naturalizam o consumismo, a frivolidade, o apelo à violência e, principalmente, a adesão ao conservadorismo político nivelando o público segundo os interesses dos setores hegemônicos da sociedade.
Orwell previa que as rédeas desse sistema estariam nas mãos de um Estado totalitário, controlador através das telas da vida dos cidadãos. No caso brasileiro, as rédeas estão nas mãos dos grupos privados de comunicação, críticos ferozes dos governos populares e dóceis aliados dos conservadores, como é o caso do momento atual. Deles dificilmente escapamos porque, mesmo desligando os aparelhos de TV em casa, eles nos cercam no táxi, no ônibus, no metrô, nos bares, restaurantes, padarias e nas mais diferentes salas de espera.
A dificuldade é tão grande que começa a despertar atitudes de enfrentamento indo além das reclamações pontuais, como a da psicóloga. Em Porto Alegre, a vereadora reeleita Sofia Cavedon (PT) apresentou à Câmara Municipal um projeto de lei definindo o tipo de emissoras que podem ser sintonizadas em ambientes de alguma forma relacionados com o poder público. Pela proposta, só televisões públicas ou comunitárias seriam admitidas em salas de espera de repartições públicas, bancos, unidades de saúde e assistência social, escolas e instituições conveniadas com a prefeitura.
"Cada vez mais a programação das emissoras de televisão é voltada para temas como sexo, violência e conflitos pessoais e familiares. Uma criança que aguarda atendimento em um hospital conveniado com o SUS está exposta a assistir cenas de sexo, tiroteios e brigas, sem que os pais possam fazer nada", justifica Sofia. Ainda assim, ler continuará difícil. Pelo menos deixaríamos de ser obrigados a aguentar, em esperas públicas, as Anas Marias e os Datenas da vida.
Mas isso é feito de forma quase explícita e, com pequena habilidade, podemos nos defender. O perigo maior que nos aproxima das previsões de Orwell está no bombardeio de mensagens veiculadas pela televisão – seja pelas tradicionais, seja por serviços audiovisuais específicos oferecidos, por exemplo, nos transportes públicos. Contra esses ataques praticamente não há defesa.
Quantos de nós já tentamos ler um livro numa sala de espera de um consultório médico, num hospital ou num laboratório, e fomos impedidos pela concorrência do vozerio vindo da televisão, invariavelmente sintonizada na Globo? Ou, em menor escala, na Record? Outro dia, uma psicóloga, ao passar por esse tipo de experiência, dirigiu-se ao setor de reclamações de um hospital de São Paulo para pedir o desligamento dos televisores. Recebida a portas fechadas, a funcionária encarregada de ouvi-la temia receber uma grave reclamação contra um médico ou atendente e, por isso, muniu-se de toda a seriedade que o momento exigia. Ouvida a queixa com certa surpresa, aliviou-se e não deu muita bola. Afinal, televisores ligados em todos os cantos é tão natural que uma reclamação isolada não mudaria a situação. E ficou por isso mesmo.
O incômodo de não poder ler ou simplesmente ficar sossegado, sem ser obrigado a ver e ouvir o que as TVs nos impõem é desagradável, mas ainda não é o pior. O que realmente nos aproxima das previsões de Orwell é o conteúdo das mensagens que nos bombardeiam de todos os lados. Naturalizam o consumismo, a frivolidade, o apelo à violência e, principalmente, a adesão ao conservadorismo político nivelando o público segundo os interesses dos setores hegemônicos da sociedade.
Orwell previa que as rédeas desse sistema estariam nas mãos de um Estado totalitário, controlador através das telas da vida dos cidadãos. No caso brasileiro, as rédeas estão nas mãos dos grupos privados de comunicação, críticos ferozes dos governos populares e dóceis aliados dos conservadores, como é o caso do momento atual. Deles dificilmente escapamos porque, mesmo desligando os aparelhos de TV em casa, eles nos cercam no táxi, no ônibus, no metrô, nos bares, restaurantes, padarias e nas mais diferentes salas de espera.
A dificuldade é tão grande que começa a despertar atitudes de enfrentamento indo além das reclamações pontuais, como a da psicóloga. Em Porto Alegre, a vereadora reeleita Sofia Cavedon (PT) apresentou à Câmara Municipal um projeto de lei definindo o tipo de emissoras que podem ser sintonizadas em ambientes de alguma forma relacionados com o poder público. Pela proposta, só televisões públicas ou comunitárias seriam admitidas em salas de espera de repartições públicas, bancos, unidades de saúde e assistência social, escolas e instituições conveniadas com a prefeitura.
"Cada vez mais a programação das emissoras de televisão é voltada para temas como sexo, violência e conflitos pessoais e familiares. Uma criança que aguarda atendimento em um hospital conveniado com o SUS está exposta a assistir cenas de sexo, tiroteios e brigas, sem que os pais possam fazer nada", justifica Sofia. Ainda assim, ler continuará difícil. Pelo menos deixaríamos de ser obrigados a aguentar, em esperas públicas, as Anas Marias e os Datenas da vida.
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