Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:
Follow the money.
De vez em quando a frase, pronunciada pelo "Garganta Profunda", a fonte secreta de um dos repórteres do Watergate, badala como um sino em minha cabeça. Siga o dinheiro.
Eu vejo a economia brasileira ir para o buraco, arrastada pela instabilidade política, pela especulação desenfreada, pelo desemprego galopante, pela desinformação caótica promovida pela mídia, e não paro de me perguntar: a quem interessa tudo isso?
A capa da última Exame, dizendo que "Os bons tempos voltaram", por outro lado, me fez lembrar um belíssimo livro que eu possuía sobre a revolução russa.
O livro se inicia com uma descrição vívida e ilustrada de um baile incrivelmente luxuoso promovido pela aristocracia, pouco antes da revolução bolchevique.
Follow the money.
Em junho do ano passado, a Globo realizou uma operação de crédito de US$ 325 milhões, ou R$ 1 bilhão, em moeda nacional. Em vocabulário leigo, digamos que a Globo conseguiu, bem no meio de uma terrível crise econômica vivida pelo país, rolar boa parte de sua dívida no exterior, estendendo seu vencimento de 2022 para 2025.
No Brasil, no entanto, a informação mereceu apenas discreta notinha no site Meio & Mensagem, um satélite da própria Globo, e uma matéria ainda mais tímida - igualmente laudatória à Globo - na revista Exame.
A própria Globo, mesmo ocultando a informação em seus veículos, comunicou a operação em seu site corporativo. A emissão dos títulos (bonds, em inglês) se deu no dia 8 de junho de 2015.
No site da Merril Lynch, um post de 1 de junho de 2015, traz mais informações. A Globo usou uma offshore nas Ilhas Cayman, a Pontis III, para fazer uma "engenharia financeira" qualquer para melhorar o perfil de sua dívida.
Os bancos que operaram a engenharia foram o Santander, o Itaú e o Bank of America.
Follow the money.
Eu pesquisei quem são os controladores do Bank of America. O principal deles é a Blackrock, o maior fundo de investimento do mundo.
A Blackrock movimentava diretamente, ao fim do terceiro trimestre de 2016, um total de 5,1 trilhões de dólares. Se somados os fundos sobre os quais o grupo tem influência indireta, na forma de consultoria financeira, o montante chega a mais de 15 trilhões de dólares. A economia brasileira em 2015 gerou 1,77 trilhão de dólares. O PIB dos Estados Unidos em 2015 foi de US$ 17,5 trilhões, e do mundo, US$ 73,5 trilhões, segundo o Banco Mundial.
Este fundo é um dos Leviatãs que surgiram das cinzas da última grande crise do capitalismo. É um fundo jovem, nascido ao final da década de 80, mas que ganha musculatura na esteira da devastação causada pelos subprimes, tornando-se o principal ou um dos principais acionistas de quase todas as grandes empresas norte-americanas. Não é exagero. A empresa é uma das principais acionistas de firmas como General Motors, General Eletric, JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of America, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Ford, AT&T, Verizon, Google, Facebook, Apple, Exxon Mobil and Chevron.
Os teóricos da conspiração encontrarão aqui um prato cheio. Os judeus do Protocolo dos Sábios de Sião pareceriam barnabés inofensivos diante do poderio da Blackrock, considerada por alguns analistas como um dos quatro grupos que controlam o mundo: os outros seriam State Street, Vanguard e Fidelity.
A Blackrock, de fato, está por trás de tudo, e se alguém procura uma força interessada no golpe, encontrou um suspeito forte. A Blackrock é acionista majoritária da Chevron e da Exxon Mobil, dentre inúmeras outras companhias do setor de petróleo e infra-estrutura interessadas no desmonte da indústria petroquímica brasileira, na privatização da Petrobrás, quebra do monopólio estatal e desregulamentação do mercado.
O fundo tem importante participação acionária no Nasper, empresa de mídia sul-africana que comprou 30% da Abril.
Sob suas asas estão ainda alguns dos maiores players do universo da mídia e do entretenimento: Time Warner, Walt Disney, Viacom, Rupert Murdoch's News Corporation., CBS Corporation, NBC Universal.
No Brasil, a Blackrock tem participação em todas as principais empresas nacionais, incluindo as mais estratégicas, como Petrobrás, Vale, Embraer, Itaú, Gerdal, Globo.
A notícia da Merril Lynch (que agora pertence ao Bank of America) sobre a Globo deixa bem claro que ela conseguiu financiamentos tão generosos por causa de seus números no mercado e do ambiente de regulamentação jurídica favorável ao monopólio.
Segundo a Lynch, nos últimos 12 meses, a Globo teve audiência média de 37%, chegando a 41% em alguns horários.
A receita líquida da Globo em 2015, segundo relatório oficial do próprio grupo, foi de R$ 16,0 bilhões em 2015, contra R$ 16,24 bilhões no ano anterior.
O lucro líquido da Globo em 2015 ficou em R$ 3,06 bilhões, contra R$ 2,35 bilhões no ano anterior, um crescimento de 30%.
Deste lucro, vale ressaltar que praticamente tudo fica em mãos dos controladores, a família Marinho.
Para efeito de comparação, o Blackrock, que, como já disse, é o maior fundo de investimento do mundo, registrou lucro de US$ 2,36 bilhões no acumulado dos nove primeiros meses de 2016, ou R$ 7,63 bilhões, para distribuir para um monte de gente.
Considerando os interesses das companhias internacionais no mercado brasileiro, mais o poder financeiro da Globo, que conseguiu elevar seus lucros durante a crise econômica e política que ela mesmo ajudou a criar, entende-se porque o desemprego, a queda no PIB e a destruição das grandes empresas nacionais de engenharia, não incomodaram a cumeeira, a pontinha no alto da pirâmide, da nossa elite.
A Globo não precisa de hidrelétricas, estradas, submarino nuclear. Quanto mais crise, mais os brasileiros terão de ficar em casa assistindo TV, sem nem mesmo poder assinar tvs fechadas ou Netflix, e mais a Globo vai lucrar.
Delfim Neto cunhou a famosa frase, de que é preciso deixar o bolo crescer, para depois repartir com o povo. Alguns setores da elite brasileira, no entanto, inventaram uma fórmula muito mais diabólica: não é preciso fazer o bolo crescer; basta pegar uma fatia maior.
As castas do serviço público ganharam fortes aumentos salariais, os rentistas estão com seu dinheiro assegurado, o imperialismo está bem servido. A mídia corporativa nunca ganhou tanto dinheiro.
O povo que se dane.
Follow the money.
De vez em quando a frase, pronunciada pelo "Garganta Profunda", a fonte secreta de um dos repórteres do Watergate, badala como um sino em minha cabeça. Siga o dinheiro.
Eu vejo a economia brasileira ir para o buraco, arrastada pela instabilidade política, pela especulação desenfreada, pelo desemprego galopante, pela desinformação caótica promovida pela mídia, e não paro de me perguntar: a quem interessa tudo isso?
A capa da última Exame, dizendo que "Os bons tempos voltaram", por outro lado, me fez lembrar um belíssimo livro que eu possuía sobre a revolução russa.
O livro se inicia com uma descrição vívida e ilustrada de um baile incrivelmente luxuoso promovido pela aristocracia, pouco antes da revolução bolchevique.
Follow the money.
Em junho do ano passado, a Globo realizou uma operação de crédito de US$ 325 milhões, ou R$ 1 bilhão, em moeda nacional. Em vocabulário leigo, digamos que a Globo conseguiu, bem no meio de uma terrível crise econômica vivida pelo país, rolar boa parte de sua dívida no exterior, estendendo seu vencimento de 2022 para 2025.
No Brasil, no entanto, a informação mereceu apenas discreta notinha no site Meio & Mensagem, um satélite da própria Globo, e uma matéria ainda mais tímida - igualmente laudatória à Globo - na revista Exame.
A própria Globo, mesmo ocultando a informação em seus veículos, comunicou a operação em seu site corporativo. A emissão dos títulos (bonds, em inglês) se deu no dia 8 de junho de 2015.
No site da Merril Lynch, um post de 1 de junho de 2015, traz mais informações. A Globo usou uma offshore nas Ilhas Cayman, a Pontis III, para fazer uma "engenharia financeira" qualquer para melhorar o perfil de sua dívida.
Os bancos que operaram a engenharia foram o Santander, o Itaú e o Bank of America.
Follow the money.
Eu pesquisei quem são os controladores do Bank of America. O principal deles é a Blackrock, o maior fundo de investimento do mundo.
A Blackrock movimentava diretamente, ao fim do terceiro trimestre de 2016, um total de 5,1 trilhões de dólares. Se somados os fundos sobre os quais o grupo tem influência indireta, na forma de consultoria financeira, o montante chega a mais de 15 trilhões de dólares. A economia brasileira em 2015 gerou 1,77 trilhão de dólares. O PIB dos Estados Unidos em 2015 foi de US$ 17,5 trilhões, e do mundo, US$ 73,5 trilhões, segundo o Banco Mundial.
Este fundo é um dos Leviatãs que surgiram das cinzas da última grande crise do capitalismo. É um fundo jovem, nascido ao final da década de 80, mas que ganha musculatura na esteira da devastação causada pelos subprimes, tornando-se o principal ou um dos principais acionistas de quase todas as grandes empresas norte-americanas. Não é exagero. A empresa é uma das principais acionistas de firmas como General Motors, General Eletric, JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of America, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Ford, AT&T, Verizon, Google, Facebook, Apple, Exxon Mobil and Chevron.
Os teóricos da conspiração encontrarão aqui um prato cheio. Os judeus do Protocolo dos Sábios de Sião pareceriam barnabés inofensivos diante do poderio da Blackrock, considerada por alguns analistas como um dos quatro grupos que controlam o mundo: os outros seriam State Street, Vanguard e Fidelity.
A Blackrock, de fato, está por trás de tudo, e se alguém procura uma força interessada no golpe, encontrou um suspeito forte. A Blackrock é acionista majoritária da Chevron e da Exxon Mobil, dentre inúmeras outras companhias do setor de petróleo e infra-estrutura interessadas no desmonte da indústria petroquímica brasileira, na privatização da Petrobrás, quebra do monopólio estatal e desregulamentação do mercado.
O fundo tem importante participação acionária no Nasper, empresa de mídia sul-africana que comprou 30% da Abril.
Sob suas asas estão ainda alguns dos maiores players do universo da mídia e do entretenimento: Time Warner, Walt Disney, Viacom, Rupert Murdoch's News Corporation., CBS Corporation, NBC Universal.
No Brasil, a Blackrock tem participação em todas as principais empresas nacionais, incluindo as mais estratégicas, como Petrobrás, Vale, Embraer, Itaú, Gerdal, Globo.
A notícia da Merril Lynch (que agora pertence ao Bank of America) sobre a Globo deixa bem claro que ela conseguiu financiamentos tão generosos por causa de seus números no mercado e do ambiente de regulamentação jurídica favorável ao monopólio.
Segundo a Lynch, nos últimos 12 meses, a Globo teve audiência média de 37%, chegando a 41% em alguns horários.
A receita líquida da Globo em 2015, segundo relatório oficial do próprio grupo, foi de R$ 16,0 bilhões em 2015, contra R$ 16,24 bilhões no ano anterior.
O lucro líquido da Globo em 2015 ficou em R$ 3,06 bilhões, contra R$ 2,35 bilhões no ano anterior, um crescimento de 30%.
Deste lucro, vale ressaltar que praticamente tudo fica em mãos dos controladores, a família Marinho.
Para efeito de comparação, o Blackrock, que, como já disse, é o maior fundo de investimento do mundo, registrou lucro de US$ 2,36 bilhões no acumulado dos nove primeiros meses de 2016, ou R$ 7,63 bilhões, para distribuir para um monte de gente.
Considerando os interesses das companhias internacionais no mercado brasileiro, mais o poder financeiro da Globo, que conseguiu elevar seus lucros durante a crise econômica e política que ela mesmo ajudou a criar, entende-se porque o desemprego, a queda no PIB e a destruição das grandes empresas nacionais de engenharia, não incomodaram a cumeeira, a pontinha no alto da pirâmide, da nossa elite.
A Globo não precisa de hidrelétricas, estradas, submarino nuclear. Quanto mais crise, mais os brasileiros terão de ficar em casa assistindo TV, sem nem mesmo poder assinar tvs fechadas ou Netflix, e mais a Globo vai lucrar.
Delfim Neto cunhou a famosa frase, de que é preciso deixar o bolo crescer, para depois repartir com o povo. Alguns setores da elite brasileira, no entanto, inventaram uma fórmula muito mais diabólica: não é preciso fazer o bolo crescer; basta pegar uma fatia maior.
As castas do serviço público ganharam fortes aumentos salariais, os rentistas estão com seu dinheiro assegurado, o imperialismo está bem servido. A mídia corporativa nunca ganhou tanto dinheiro.
O povo que se dane.
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