Por Altamiro Borges
Durante o governo Dilma, o marqueteiro Nizan Guanaes virou colunista da Folha e escreveu apenas platitudes sobre publicidade e comunicação. Ele evitou entrar em bolas divididas, inclusive no período das marchas fascistas pelo impeachment – talvez para preservar seus negócios neste milionário setor. Agora, com a concretização do golpe dos corruptos, o publicitário ricaço resolveu escrachar as suas posições elitistas. Convidado pela governo ilegítimo para integrar o chamado “Conselhão” – que reúne vários financiadores da conspiração golpista –, ele fez questão de bajular o Judas Michel Temer e defendeu a urgência do seu pacote de maldades contra os trabalhadores.
Entre outros absurdos, Nizan Guanaes disse que o empresariado “não pode mais competir no mundo com leis da época de Getúlio Vargas” e pregou a necessidade das reformas trabalhista e previdenciária. Animado com suas próprias besteiras, ele afirmou: “Aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça as medidas amargas que são necessárias... Ninguém faz coisas contundentes com alta popularidade. Popularidade é uma jaula. O senhor tem que puxar isso para o senhor e falar à nação”. E concluiu, no alto da sua sabedoria e da sua fortuna, que “o grande desafio das democracias do mundo é como fazer coisas impopulares”.
No dia seguinte, diante da saraivada de críticas, o marqueteiro ainda tentou justificar as suas posições em mais um artigo na Folha golpista. “Participei nesta segunda-feira (21) de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o Conselhão) como representante da propaganda brasileira – um setor vital no qual cada R$ 1 investido gera R$ 10 para o conjunto da economia. A contribuição da propaganda para a construção da sociedade brasileira é imensa. Muitos empresários que estão no Conselhão tiveram seus negócios erguidos com a ajuda indispensável da propaganda na formação de marcas e mercados. Foi isto o que fui dizer ontem na reunião em Brasília: presente”.
“O grande desafio do Brasil e das democracias modernas é fazer com que as pessoas entendam a necessidade e a pertinência de medidas amargas, mas necessárias. Não adianta buscar só popularidade. A popularidade pode ser uma jaula. Ninguém gosta de coisas amargas. Lembra a cara feia que você fazia quando sua mãe lhe dava xarope ruim? Sua mãe criou você com medidas amargas. Vá tomar banho, sente para estudar, desligue a TV. E, para ser boa mãe, ela precisou ter competência para comunicar essas medidas. É nisso que a propaganda pública pode ajudar a nossa sociedade, a sociedade americana, a sociedade britânica... Esta é a comunicação do mundo político hoje: ajudar as democracias a sobreviver bem com medidas duras, porque este é um mundo de medidas duras (e necessárias)”.
Talvez para embelezar seus negócios de mercador de ilusões, Nizan Guanaes concluiu: “Não sou um político, sou um empresário. E, toda vez que um presidente da República me chamar, estarei presente, pronto para ajudar, porque o meu partido, antes de tudo, é o partido do Brasil... É preciso se comunicar com todos, principalmente com dona Maria, que conhece muito bem a realidade de um orçamento apertado e a necessidade de racionar e planejar gastos. A população precisa entender que os remédios amargos são necessários. E os investidores precisam entender que o Brasil, remediado, estará pronto para retomar seu desenvolvimento, tendo passado por um aprendizado enorme e chocante sobre o que pode e não pode fazer em vários níveis e áreas. A comunicação brasileira, como sempre, estará à altura dos desafios”.
A cantilena elitista surpreendeu até alguns dos presentes na reunião do servil Conselhão. Quem melhor a interpretou foi o secretário-geral da Força Sindical, João Gonçalves Juruna. Para ele, a bravata do publicitário “tem cara de ter sido encomendada e muito bem paga”. De fato, parece que Nizan Guanaes está pronto para defender as “medidas amargas” para os outros, mas adora receber bondades. Maldade no dos outros é refresco. Uma notinha bem minúscula postada na semana passada na revista Época talvez ajude a entender o seu amor pelo Brasil. “As gigantes do mercado publicitário estão ouriçadas com as licitações do Ministério da Saúde, da Secretaria de Comunicação e do Banco do Brasil, que ocorrerão até o começo do ano. Somados, os contratos chegarão a mais de R$ 1 bilhão”, informou o jornalista Murilo Ramos.
Ainda sobre as patacadas do publicitário, reproduzo abaixo artigo de Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
*****
O mundo bizarra de Nizan Guanaes e dos presidentes impopulares que podem tudo
O discurso de Nizan Guanaes no “Conselhão” de Temer é, por um lado, constrangedor, e por outro, aterrorizante.
Microfone em punho, depois de alguns pães de queijo e café com leite, tudo pago pelo erário, Nizan deu ordens a Carlos Magno, na cabeceira da távola retangular.
Segundo ele, o empresariado nacional “não pode mais competir no mundo com leis da época de Getúlio Vargas”.
E então pôs-se a jogar na cara de Michel, basicamente, que ele tem de tirar vantagem do fato de ser um usurpador (estou sendo gentil).
“Aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça as medidas amargas que são necessárias”, falou o publicitário (destaque para “ainda”).
“Ninguém faz coisas contundentes com alta popularidade”, prosseguiu. “Popularidade é uma jaula. O senhor tem que puxar isso para o senhor e falar à nação”.
Para Nizan, Temer deve “tomar medidas amargas”. Este, diz ele, “é o grande desafio das democracias do mundo: como fazer coisas impopulares.”
Ao final, Michel bateu palmas desanimadas, acompanhando a plateia, até cruzar os braços. Mesmo para um fantoche como ele, não é agradável alguém ficar durante longos minutos exaltando um defeito, especialmente se estamos numa democracia representativa.
Ou não estamos?
No mundo de Nizan, que é o mesmo de Temer, aparentemente o voto é um problema. É uma inversão fenomenal. Um chefe de estado tem mais legitimidade para aprovar “medidas amargas” (até quando esses velhos jargões idiotas?) com apoio popular, e não o contrário.
A não ser numa ditadura.
Você não precisa ser muito esperto para saber que o amargor não virá para Nizan e seus pares.
O discurso abstruso dele é uma versão mais crua das diatribes de Flávio Rocha sobre o “estado mínimo”. Pedante, jeca de banho tomado, o dono das Lojas Riachuelo gosta de usar expressões como “crony capitalist” e de se vender como um empreendedor moderno e antenado.
Tão moderno que, em janeiro, sua Riachuelo foi condenada a pagar pensão vitalícia a uma costureira que era obrigada a produzir cerca de mil peças de bainha por jornada, sendo que sua meta era colocar elástico em 500 calças ou costurar 300 bolsos por hora. Na ação, ela diz que evitava beber água para diminuir suas idas ao banheiro, controladas por um sujeito mediante fichas.
Em 2015, Flávio defendeu o golpe dizendo que havia “dois cenários”. “Um é o de uma agonia curta, com impeachment. O outro de agonia longa, cumprindo três anos e meio de mandato”, mandou ver no Estadão.
Deu no que deu: aprofundamento da recessão e um cenário de conflagração em estados como o Rio de Janeiro. Ele deveria estar ciente de que não existe almoço grátis, como avisou Milton Friedman.
Todos querem o “estado mínimo”, desde que continuem mamando nele. Tenho certa aversão à fórmula de culpar as “zelites” por nosso atraso — mas como negar, diante desse espetáculo?
Flávio Rocha, misteriosamente, não faz parte do Conselho, mas não precisa. Está bem representado. A perspectiva de futuro que essa turma conseguiu produzir, por enquanto, é Roberto Justus 2018.
Durante o governo Dilma, o marqueteiro Nizan Guanaes virou colunista da Folha e escreveu apenas platitudes sobre publicidade e comunicação. Ele evitou entrar em bolas divididas, inclusive no período das marchas fascistas pelo impeachment – talvez para preservar seus negócios neste milionário setor. Agora, com a concretização do golpe dos corruptos, o publicitário ricaço resolveu escrachar as suas posições elitistas. Convidado pela governo ilegítimo para integrar o chamado “Conselhão” – que reúne vários financiadores da conspiração golpista –, ele fez questão de bajular o Judas Michel Temer e defendeu a urgência do seu pacote de maldades contra os trabalhadores.
Entre outros absurdos, Nizan Guanaes disse que o empresariado “não pode mais competir no mundo com leis da época de Getúlio Vargas” e pregou a necessidade das reformas trabalhista e previdenciária. Animado com suas próprias besteiras, ele afirmou: “Aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça as medidas amargas que são necessárias... Ninguém faz coisas contundentes com alta popularidade. Popularidade é uma jaula. O senhor tem que puxar isso para o senhor e falar à nação”. E concluiu, no alto da sua sabedoria e da sua fortuna, que “o grande desafio das democracias do mundo é como fazer coisas impopulares”.
No dia seguinte, diante da saraivada de críticas, o marqueteiro ainda tentou justificar as suas posições em mais um artigo na Folha golpista. “Participei nesta segunda-feira (21) de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o Conselhão) como representante da propaganda brasileira – um setor vital no qual cada R$ 1 investido gera R$ 10 para o conjunto da economia. A contribuição da propaganda para a construção da sociedade brasileira é imensa. Muitos empresários que estão no Conselhão tiveram seus negócios erguidos com a ajuda indispensável da propaganda na formação de marcas e mercados. Foi isto o que fui dizer ontem na reunião em Brasília: presente”.
“O grande desafio do Brasil e das democracias modernas é fazer com que as pessoas entendam a necessidade e a pertinência de medidas amargas, mas necessárias. Não adianta buscar só popularidade. A popularidade pode ser uma jaula. Ninguém gosta de coisas amargas. Lembra a cara feia que você fazia quando sua mãe lhe dava xarope ruim? Sua mãe criou você com medidas amargas. Vá tomar banho, sente para estudar, desligue a TV. E, para ser boa mãe, ela precisou ter competência para comunicar essas medidas. É nisso que a propaganda pública pode ajudar a nossa sociedade, a sociedade americana, a sociedade britânica... Esta é a comunicação do mundo político hoje: ajudar as democracias a sobreviver bem com medidas duras, porque este é um mundo de medidas duras (e necessárias)”.
Talvez para embelezar seus negócios de mercador de ilusões, Nizan Guanaes concluiu: “Não sou um político, sou um empresário. E, toda vez que um presidente da República me chamar, estarei presente, pronto para ajudar, porque o meu partido, antes de tudo, é o partido do Brasil... É preciso se comunicar com todos, principalmente com dona Maria, que conhece muito bem a realidade de um orçamento apertado e a necessidade de racionar e planejar gastos. A população precisa entender que os remédios amargos são necessários. E os investidores precisam entender que o Brasil, remediado, estará pronto para retomar seu desenvolvimento, tendo passado por um aprendizado enorme e chocante sobre o que pode e não pode fazer em vários níveis e áreas. A comunicação brasileira, como sempre, estará à altura dos desafios”.
A cantilena elitista surpreendeu até alguns dos presentes na reunião do servil Conselhão. Quem melhor a interpretou foi o secretário-geral da Força Sindical, João Gonçalves Juruna. Para ele, a bravata do publicitário “tem cara de ter sido encomendada e muito bem paga”. De fato, parece que Nizan Guanaes está pronto para defender as “medidas amargas” para os outros, mas adora receber bondades. Maldade no dos outros é refresco. Uma notinha bem minúscula postada na semana passada na revista Época talvez ajude a entender o seu amor pelo Brasil. “As gigantes do mercado publicitário estão ouriçadas com as licitações do Ministério da Saúde, da Secretaria de Comunicação e do Banco do Brasil, que ocorrerão até o começo do ano. Somados, os contratos chegarão a mais de R$ 1 bilhão”, informou o jornalista Murilo Ramos.
Ainda sobre as patacadas do publicitário, reproduzo abaixo artigo de Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
*****
O mundo bizarra de Nizan Guanaes e dos presidentes impopulares que podem tudo
O discurso de Nizan Guanaes no “Conselhão” de Temer é, por um lado, constrangedor, e por outro, aterrorizante.
Microfone em punho, depois de alguns pães de queijo e café com leite, tudo pago pelo erário, Nizan deu ordens a Carlos Magno, na cabeceira da távola retangular.
Segundo ele, o empresariado nacional “não pode mais competir no mundo com leis da época de Getúlio Vargas”.
E então pôs-se a jogar na cara de Michel, basicamente, que ele tem de tirar vantagem do fato de ser um usurpador (estou sendo gentil).
“Aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça as medidas amargas que são necessárias”, falou o publicitário (destaque para “ainda”).
“Ninguém faz coisas contundentes com alta popularidade”, prosseguiu. “Popularidade é uma jaula. O senhor tem que puxar isso para o senhor e falar à nação”.
Para Nizan, Temer deve “tomar medidas amargas”. Este, diz ele, “é o grande desafio das democracias do mundo: como fazer coisas impopulares.”
Ao final, Michel bateu palmas desanimadas, acompanhando a plateia, até cruzar os braços. Mesmo para um fantoche como ele, não é agradável alguém ficar durante longos minutos exaltando um defeito, especialmente se estamos numa democracia representativa.
Ou não estamos?
No mundo de Nizan, que é o mesmo de Temer, aparentemente o voto é um problema. É uma inversão fenomenal. Um chefe de estado tem mais legitimidade para aprovar “medidas amargas” (até quando esses velhos jargões idiotas?) com apoio popular, e não o contrário.
A não ser numa ditadura.
Você não precisa ser muito esperto para saber que o amargor não virá para Nizan e seus pares.
O discurso abstruso dele é uma versão mais crua das diatribes de Flávio Rocha sobre o “estado mínimo”. Pedante, jeca de banho tomado, o dono das Lojas Riachuelo gosta de usar expressões como “crony capitalist” e de se vender como um empreendedor moderno e antenado.
Tão moderno que, em janeiro, sua Riachuelo foi condenada a pagar pensão vitalícia a uma costureira que era obrigada a produzir cerca de mil peças de bainha por jornada, sendo que sua meta era colocar elástico em 500 calças ou costurar 300 bolsos por hora. Na ação, ela diz que evitava beber água para diminuir suas idas ao banheiro, controladas por um sujeito mediante fichas.
Em 2015, Flávio defendeu o golpe dizendo que havia “dois cenários”. “Um é o de uma agonia curta, com impeachment. O outro de agonia longa, cumprindo três anos e meio de mandato”, mandou ver no Estadão.
Deu no que deu: aprofundamento da recessão e um cenário de conflagração em estados como o Rio de Janeiro. Ele deveria estar ciente de que não existe almoço grátis, como avisou Milton Friedman.
Todos querem o “estado mínimo”, desde que continuem mamando nele. Tenho certa aversão à fórmula de culpar as “zelites” por nosso atraso — mas como negar, diante desse espetáculo?
Flávio Rocha, misteriosamente, não faz parte do Conselho, mas não precisa. Está bem representado. A perspectiva de futuro que essa turma conseguiu produzir, por enquanto, é Roberto Justus 2018.
Restou perguntar ao Nizan Guanaes se ele toparia reduzir o padrão de vida dele para "ajudar o país".
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