domingo, 6 de novembro de 2016

O expressivo ato em apoio ao MST

Por Júlia Dolce, no jornal Brasil de Fato:

A quadra da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, interior paulista, ficou tomada por movimentos populares no ato em solidariedade ao Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) neste sábado (5). A mobilização foi uma resposta à repressão truculenta da polícia, que na sexta-feira (4) demonstrou a criminalização da luta do movimento ao invadir a ENFF e realizar uma série de buscas por lideranças do MST.

A atividade contou também com a participação de políticos e parlamentares como o ex-presidente Lula, o Senador Lindbergh Farias e o Deputado Federal Ivan Valente (PSOL-SP), que realizaram falas em defesa do MST e contra a violação de direitos presente no contexto atual brasileiro. Entre as demais personalidades, movimentos populares, organizações e sindicatos presentes no ato estavam lideranças e representantes do Levante Popular da Juventude, da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e do Coletivo Democracia Corinthiana.

O evento contou também com representação internacional de organizações de 36 países, entre eles África do Sul, Egito, Gana, Índia, Síria, Tunísia, Venezuela, Cuba e Palestina - sendo que os representantes dos dois últimos países foram ovacionados pelo público. O ato teve início com intervenções artísticas musicais do MST e de representantes do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA) e foi seguido por falas das lideranças.

Rosana Fernandes, integrante da Direção Nacional do MST e integrante da coordenação da ENFF, deu início a apresentação dos presentes. “Para muito mais do que prestar solidariedade, esse é o momento de dizer que a classe trabalhadora está viva. Nesse lugar simbólico reafirmamos nosso compromisso e afirmamos que estamos resistentes, esperançosos e solidários com a causa maior: a liberação da classe trabalhadora em todas as dimensões”.

Em sua fala, que encerrou a manifestação, o ex-presidente Lula destacou sua lembrança do velório de Florestan Fernandes e da presença da violência policial. "Eu lembro que no velório dele eu recebi a notícia do massacre da Vila Columbiária, 11 manifestantes do MST assassinados em Rondônia. Fomos lá ver o estrago que a polícia tinha feito. Eu sinceramente já acho que passou da hora da gente viajar pelo Brasil fazendo atos solidários às vítimas dessas desgraças", afirmou.

Lula destacou também a importância da união dos movimentos populares no contexto político atual. "Eu vim aqui hoje para ser solidário e tentar discutir com vocês o que está acontecendo no Brasil, que é muito grave e eu não sei se já construímos uma teoria para entender. (…) Existe uma coisa estranha acontecendo no momento em que o Brasil cismou em ser protagonista internacional. Bem quando esse país aprendeu a empinar um pouco o pescoço de forma modesta e dizer "eu existo", de dizer que temos uma dívida mais importante com os africanos, que não pode ser mensurada, e que não podemos olhar para a Europa sem olhar para a África", disse.

"Nós já ganhamos e já perdemos, precisamos construir um movimento que seja capaz de unir todos e fazer uma proposta para o futuro do país nos próximos 20 ou 30 anos. Está na hora de construir algo mais sólido, não um partido, mas um movimento para restabelecer a democracia nesse país", completou o ex-presidente.

O senador Lindbergh Farias iniciou seu discurso afirmando que também acredita na união dos movimentos populares. “Não acredito que esse seja um ato isolado, nós não estamos mais vivendo um Estado de Direito. Estão dando um novo golpe no país, um golpe continuado que usa a repressão a qualquer mobilização social, o ataque e a criminalização de movimentos sociais como o MST, a perseguição ao Lula. Temos uma justiça seletiva que persegue organizações e partidos populares. Este ato, mais do que de solidariedade, é um ato de coragem. Não vamos nos intimidar, vamos resistir à restauração do neoliberalismo”, afirmou.

Já o deputado federal Ivan Valente indignou-se, em sua fala, com a repressão imposta pela polícia. “Este ato e o que aconteceu ontem na ENFF é um momento muito sério da política brasileira, muita ousadia do conservadorismo brasileiro atacar um símbolo da resistência à ditadura militar e da reforma agrária, pular a cerca dando tiros aqui. Temos que dizer que não aceitamos repressão no Brasil, vamos lutar de cabeça erguida!”.

Jandyra Uehara, secretária nacional de políticas sociais e direitos humanos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), também questionou o Estado de direito da democracia brasileira, defendendo a mobilização continuada dos movimentos populares. “ Estamos vivendo um Estado de exceção e não tenho dúvida de que temos que defender nossas organizações. Temos que ter solidariedade cotidiana e construção coletiva. O ato do convocado para o dia 10 é muito importante para dizer que não aceitamos esse retrocesso. Temos que ter uma agenda de luta, que seja um novembro vermelho. Nós estamos vivos e nós resistiremos”.

A presidenta afastada Dilma Rousseff foi uma das inúmeras pessoas e organizações que mandaram sua solidariedade ao MST depois do ocorrido de ontem. “É assustador que o retrocesso que vem ocorrendo no Brasil, iniciado com o Golpe, mantenha o perigoso curso de construção de um Estado de exceção no País. A invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes, ligada ao MST, é um precedente grave. Não há porque admitir ações policiais repressivas que resultem em tiros e ameaças letais, ainda mais em uma escola. Tampouco é aceitável que se criminalize o MST. Não vamos ficar calados diante da banalização da violência do Estado contra quem quer que seja", afirmou em nota.

O ato foi finalizado com falas de demais lideranças e a canção coletiva do hino do MST, que reverberou pela quadra ocupada.

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