Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Empregando as palavras como elas são, é preciso dizer que o fascismo age exatamente como fizeram 50 pessoas que invadiram o plenário da Câmara ontem. Quebraram vidros, ameaçaram parlamentares. Pediram o retorno à ditadura militar, saudaram Sérgio Moro. E foram embora, sem serem incomodados. Parecem loucos descontrolados. São criminosos políticos.
O fascismo não existe sem o silêncio cúmplice e a passividade de quem tem o dever legal de combater a desordem, arruaça, e violência e dar ordem de prisão em casos dessa natureza, em que uma instituição é humilhada, ofendida. E foi exatamente isso que se viu, ontem: tolerância com um ataque a democracia -- se não foi coisa pior.
Um Congresso que possui uma polícia legislativa treinada, bem paga, equipada em pé de igualdade à Polícia Federal, assistiu a tudo de braços cruzados. Habituada a demonstrações cotidianas de autoridade e mesmo truculência, sumiu de cena, rabo entre as pernas. A mesma polícia legislativa acusada de extrapolar suas funções em vários momentos, que impediu o ingresso de jornalistas documentados e reconhecidos, nos dias de votação do impeachment -- eu estava lá e vi -- agora abaixou a cabeça, ficou quietinha. Tinha o dever de arrancar os invasores no tapa, impedindo sua presença no local por um minuto sequer. A cena lamentável, traumática, deprimente, simplesmente não poderia ter ocorrido.
A ocupação do plenário da Câmara, seu centro de decisões, local sagrado do ponto de vista da democracia, pois ali só pode ter acesso quem representa o voto popular, por uma turba embriagada pela própria truculência, por um poder perigoso, subitamente revelado em sua infinita boçalidade, é um novo passo na degradação da ordem publica, no esforço consciente e deliberado de paralisação e desmoralização de um dos apoios no tripé da democracia. O ataque pode ser e é obra de imbecis. Mas vamos reconhecer que tem sentido de direção. O alvo é o elo mais fraco, aquele que é massacrado todos os dias, pelo comportamento irresponsável de muitos que estão do lado de dentro -- e campanhas permanentes, injustas, direcionadas, contra os adversários autoritários de fora, justamente porque torcem por um incêndio incontrolável.
Não há como negar. O longo e criminoso ataque à democracia começou de cima para baixo, com a deposição de uma presidente eleita, sem prova de crime de responsabilidade. O que veio a seguir é consequência. Começa pela fragilidade estrutural de um sucessor marcado para morrer -- com data definida, quando não for possível chamar o eleitor para dizer que pretende, quem prefere, como seria o certo depois de tantos errados.
A ausência de Rodrigo Maia é sintomática. Embora fosse segunda-feira, o presidente da Câmara não estava onde deveria. Está no manual que compõe o cenário das tragédias políticas que à cadeira decisiva, se encontre o destruído Waldir Maranhão. Na dúvida, veja sua expressão nas fotos.
Em 1922, o ministério parlamentar dormia quando Roma caiu nas mãos dos homens de Mussolini. Era madrugada, vamos reconhecer.
Dias antes, quando seria possível fazer alguma coisa, comandantes militares chegaram a aguardar por ordens do gabinete civil. Teria sido possível -- na pior das hipóteses -- pelo menos morrer com dignidade. A ordem não veio. Quando os ministros resolveram pedir a Vitório Emanuel que assinasse o Estado de Sítio, era tarde demais. O Rei se entendera com Mussolini, a quem os mais ponderados consideravam o menos louco. Sua ditadura durou 20 anos.
Empregando as palavras como elas são, é preciso dizer que o fascismo age exatamente como fizeram 50 pessoas que invadiram o plenário da Câmara ontem. Quebraram vidros, ameaçaram parlamentares. Pediram o retorno à ditadura militar, saudaram Sérgio Moro. E foram embora, sem serem incomodados. Parecem loucos descontrolados. São criminosos políticos.
O fascismo não existe sem o silêncio cúmplice e a passividade de quem tem o dever legal de combater a desordem, arruaça, e violência e dar ordem de prisão em casos dessa natureza, em que uma instituição é humilhada, ofendida. E foi exatamente isso que se viu, ontem: tolerância com um ataque a democracia -- se não foi coisa pior.
Um Congresso que possui uma polícia legislativa treinada, bem paga, equipada em pé de igualdade à Polícia Federal, assistiu a tudo de braços cruzados. Habituada a demonstrações cotidianas de autoridade e mesmo truculência, sumiu de cena, rabo entre as pernas. A mesma polícia legislativa acusada de extrapolar suas funções em vários momentos, que impediu o ingresso de jornalistas documentados e reconhecidos, nos dias de votação do impeachment -- eu estava lá e vi -- agora abaixou a cabeça, ficou quietinha. Tinha o dever de arrancar os invasores no tapa, impedindo sua presença no local por um minuto sequer. A cena lamentável, traumática, deprimente, simplesmente não poderia ter ocorrido.
A ocupação do plenário da Câmara, seu centro de decisões, local sagrado do ponto de vista da democracia, pois ali só pode ter acesso quem representa o voto popular, por uma turba embriagada pela própria truculência, por um poder perigoso, subitamente revelado em sua infinita boçalidade, é um novo passo na degradação da ordem publica, no esforço consciente e deliberado de paralisação e desmoralização de um dos apoios no tripé da democracia. O ataque pode ser e é obra de imbecis. Mas vamos reconhecer que tem sentido de direção. O alvo é o elo mais fraco, aquele que é massacrado todos os dias, pelo comportamento irresponsável de muitos que estão do lado de dentro -- e campanhas permanentes, injustas, direcionadas, contra os adversários autoritários de fora, justamente porque torcem por um incêndio incontrolável.
Não há como negar. O longo e criminoso ataque à democracia começou de cima para baixo, com a deposição de uma presidente eleita, sem prova de crime de responsabilidade. O que veio a seguir é consequência. Começa pela fragilidade estrutural de um sucessor marcado para morrer -- com data definida, quando não for possível chamar o eleitor para dizer que pretende, quem prefere, como seria o certo depois de tantos errados.
A ausência de Rodrigo Maia é sintomática. Embora fosse segunda-feira, o presidente da Câmara não estava onde deveria. Está no manual que compõe o cenário das tragédias políticas que à cadeira decisiva, se encontre o destruído Waldir Maranhão. Na dúvida, veja sua expressão nas fotos.
Em 1922, o ministério parlamentar dormia quando Roma caiu nas mãos dos homens de Mussolini. Era madrugada, vamos reconhecer.
Dias antes, quando seria possível fazer alguma coisa, comandantes militares chegaram a aguardar por ordens do gabinete civil. Teria sido possível -- na pior das hipóteses -- pelo menos morrer com dignidade. A ordem não veio. Quando os ministros resolveram pedir a Vitório Emanuel que assinasse o Estado de Sítio, era tarde demais. O Rei se entendera com Mussolini, a quem os mais ponderados consideravam o menos louco. Sua ditadura durou 20 anos.
COXINHAS INVADIRAM A CÂMARA DOS DEPUTADOS, CUSPIRAM NO ROSTO DOS SEGURANÇAS, QUEBRARAM PORTAS, SUBIRAM NA BANCADA DOS DEPUTADOS, PEDIRAM A VOLTA DOS MILITARES E PRONTO.
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