Por Darlan Montenegro, no site Outras Palavras:
Ao longo do dia, um bocado de amigos defendeu o compartilhamento da cena de humilhação do Garotinho, usando quase sempre argumentos do tipo “ah, mas quando são as mulheres que sofrem, vocês não falam nada”, ou “ah, mas quando são os negros que sofrem, vocês não falam nada”, ou, ainda, “ah, mas quando são os pobres que sofrem, vocês não falam nada”.
Esse argumento é ruim. Por várias razões, mas por duas, principalmente. A primeira é porque isso simplesmente não é verdade. Vários de nós temos por hábito repercutir as mais diversas formas de arbítrio e de opressão contra os mais diversos grupos sociais. E não temos com Garotinho nenhuma afinidade, ao contrário do que acontece em relação a todas essas causas. Mas a segunda é mais séria e mais preocupante.
O que essas pessoas parecem não perceber é que aceitar o desrespeito à dignidade do Garotinho por parte da imprensa e da polícia não significa avanço nenhum no sentido da promoção da igualdade no Brasil. Significa justamente o seu oposto. Quando agentes do Estado expandem o alcance do arbítrio, isso não significa de maneira nenhuma que as coisas vão melhorar pro “andar de baixo” ou para os oprimidos, de uma maneira geral. Não significa nem mesmo que as coisas vão continuar como sempre foram para esses segmentos, sendo a única diferença o fato de que, “pelo menos”, agora, “alguns graúdos também são atingidos”. Não. A escalada significa que as coisas vão piorar para os de baixo.
A liberdade com que agentes do Estado (o MP, o judiciário e a polícia) partem para cima de segmentos selecionados da elite política mostra que esses agentes estão sendo fortalecidos e se tornaram atores políticos da maior relevância. Mas a seletividade revela que esse empoderamento não traduz o fortalecimento das instituições democráticas ou o unicórnio no qual as pessoas queiram acreditar. A seletividade traduz o caráter de classe do domínio sobre o Estado e a velha associação entre este Estado e certos segmentos das elites econômicas e sociais.
Garotinho provavelmente cometeu crimes (e deve pagar por eles). Mas não é isso que move essa gente. Essa associação não está sendo promovida para acabar com a corrupção, nem para colocar corruptos na cadeia. Essa associação está se aprofundando com o objetivo de reverter todos os avanços sociais e democráticos obtidos nos últimos trinta anos.
O fato de que políticos vinculados às elites estão sendo atingidos por essa avalanche judicial e midiática não significa que a lei agora é “realmente para todos”. Significa, apenas, que as elites, hoje como sempre, são divididas e possuem interesses contraditórios.
A mesmíssima avalanche que expôs Garotinho ao ridículo e à humilhação é aquela que invadiu ilegalmente a Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, duas semanas atrás. É a mesma avalanche que tentou prender Lula, meses atrás.
Não pode, nesse momento, haver qualquer tergiversação diante do arbítrio. A falta de cerimônia do Estado em violar os direitos de Garotinho é a tradução do empoderamento de procuradores, juízes, policiais e meios de comunicação dedicados à promoção do arbítrio. Se essa gente vence, a violência e o desrespeito dos direitos dos oprimidos não avança um centímetro. Pelo contrário. O Garotinho na maca somos todos nós amanhã.
Esse argumento é ruim. Por várias razões, mas por duas, principalmente. A primeira é porque isso simplesmente não é verdade. Vários de nós temos por hábito repercutir as mais diversas formas de arbítrio e de opressão contra os mais diversos grupos sociais. E não temos com Garotinho nenhuma afinidade, ao contrário do que acontece em relação a todas essas causas. Mas a segunda é mais séria e mais preocupante.
O que essas pessoas parecem não perceber é que aceitar o desrespeito à dignidade do Garotinho por parte da imprensa e da polícia não significa avanço nenhum no sentido da promoção da igualdade no Brasil. Significa justamente o seu oposto. Quando agentes do Estado expandem o alcance do arbítrio, isso não significa de maneira nenhuma que as coisas vão melhorar pro “andar de baixo” ou para os oprimidos, de uma maneira geral. Não significa nem mesmo que as coisas vão continuar como sempre foram para esses segmentos, sendo a única diferença o fato de que, “pelo menos”, agora, “alguns graúdos também são atingidos”. Não. A escalada significa que as coisas vão piorar para os de baixo.
A liberdade com que agentes do Estado (o MP, o judiciário e a polícia) partem para cima de segmentos selecionados da elite política mostra que esses agentes estão sendo fortalecidos e se tornaram atores políticos da maior relevância. Mas a seletividade revela que esse empoderamento não traduz o fortalecimento das instituições democráticas ou o unicórnio no qual as pessoas queiram acreditar. A seletividade traduz o caráter de classe do domínio sobre o Estado e a velha associação entre este Estado e certos segmentos das elites econômicas e sociais.
Garotinho provavelmente cometeu crimes (e deve pagar por eles). Mas não é isso que move essa gente. Essa associação não está sendo promovida para acabar com a corrupção, nem para colocar corruptos na cadeia. Essa associação está se aprofundando com o objetivo de reverter todos os avanços sociais e democráticos obtidos nos últimos trinta anos.
O fato de que políticos vinculados às elites estão sendo atingidos por essa avalanche judicial e midiática não significa que a lei agora é “realmente para todos”. Significa, apenas, que as elites, hoje como sempre, são divididas e possuem interesses contraditórios.
A mesmíssima avalanche que expôs Garotinho ao ridículo e à humilhação é aquela que invadiu ilegalmente a Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, duas semanas atrás. É a mesma avalanche que tentou prender Lula, meses atrás.
Não pode, nesse momento, haver qualquer tergiversação diante do arbítrio. A falta de cerimônia do Estado em violar os direitos de Garotinho é a tradução do empoderamento de procuradores, juízes, policiais e meios de comunicação dedicados à promoção do arbítrio. Se essa gente vence, a violência e o desrespeito dos direitos dos oprimidos não avança um centímetro. Pelo contrário. O Garotinho na maca somos todos nós amanhã.
Brilhante. Vivemos um desmonte generalizado da economia e das instituições, para favorecer interesses estrangeiros e seus testa de ferro. Mas a burguesia ignorante, egoísta, cínica e colonizada só pensa em compras em Miami. Não vê que o país está se desmanchando.
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