Por Altamiro Borges
Em entrevista à Folha - um jornal que ainda ilude muita gente com o seu falso ecletismo e que adora fazer intrigas contra as esquerdas -, o presidente nacional do PSOL, Luiz Araújo, afirmou de forma categórica: "Começamos a ocupar o espaço do PT". A declaração foi dada um dia antes do segundo turno das eleições municipais e o dirigente da sigla se encontrava na capital paraense, sua terra natal, para acompanhar a apertada disputa pela prefeitura. Na sequência, como todos sabem, a direita voltou a esbanjar força nas urnas e o PSOL infelizmente perdeu nas três cidades em que disputava o pleito - Belém, Rio de Janeiro e Sorocaba (SP). A legenda fez campanhas empolgantes, que mobilizaram os setores progressistas, mas não dá para concluir, de forma ufanista e até arrogante, que ela vai "ocupar o espaço do PT". A realidade não está fácil para nenhuma corrente de esquerda no país!
Um balanço mais frio, menos partidista e sectário, revela que o partido estagnou na comparação com as eleições municipais de 2012. Ele até teve mais visibilidade, mas não ampliou seu espaço no campo institucional - uma das prioridades da sigla. No pleito anterior, o PSOL elegeu dois prefeitos: um na capital do Amapá, Macapá, e outro na cidade de Itaocara, no interior do Rio do Janeiro. Desta vez, a sigla conquistou novamente duas prefeituras, mas nos pequenos municípios de Janduís e Jaçanã, no Rio Grande do Norte. Em 2012, o PSOL elegeu 49 vereadores; agora, elegeu 51. No computo geral da disputa para prefeito, a sigla teve 291.078 votos a menos do que nas eleições passadas. Com esses números, que revelam apenas o aspecto quantitativo do pleito, não dá para arrotar muita valentia!
Mas mesmo no Rio de Janeiro, a principal vitrine da sigla - dos seis deputados federais, três são deste Estado -, o resultado não permite triunfalismo. A campanha de Marcelo Freixo foi vibrante, mas não conseguiu conter a onda conservadora que corrói o país. No primeiro turno, inclusive, ele teve menos votos do que em 2012 - 18% contra 28%. Já no segundo, com o apoio de todas as forças de esquerda e uma campanha que agitou a sociedade carioca, Marcelo Freixo obteve 41% dos votos válidos, mas foi derrotado pelo fundamentalista Marcelo Crivella. Nem os petardos disparados pela Globo e Veja contra o bispo da Rede Record foram suficientes para evitar a derrota. O candidato do PSOL e das esquerdas perdeu em todas as regiões populares do Rio de Janeiro. O mapa da eleição é dramático!
Sandálias da humildade
A surra nas urnas em 2016 - que só agrava o cenário político derivado da consumação do "golpe dos corruptos" liderado por Michel Temer - indica que as forças de esquerda precisam vestir as sandálias da humildade. Visões sectárias e posturas fratricidas, que estimulam a cisão deste campo, não ajudam em nada neste quadro adverso. Afinal, todos os partidos de esquerda têm os seus problemas. O PSOL não está imune. Como uma frente partidária, que agrupa cerca de dez correntes organizadas no seu interior, ele vive em permanente tensão. Na semana passada, por exemplo, um comentário infeliz do deputado Jean Wyllys sobre a complexa situação da Venezuela atiçou as divergências na sigla. Nos temas nacionais, como na difícil questão das alianças, a unidade interna também é bem frágil.
Clécio Luis, prefeito reeleito do Macapá, deixou o PSOL e ingressou na Rede exatamente devido às divergências neste ponto. Para viabilizar seus projetos na Câmara Municipal, ele ampliou as alianças, atraindo vereadores da direita - o que gerou duras críticas da direção da sigla. Nas eleições deste ano, ele ingressou no partido da "pura" Marina Silva e construiu uma frente heterodoxa, cedendo o cargo de vice na chapa ao DEM, para vencer a disputa na capital do Amapá. A aliança garantiu mais tempo no horário "gratuito" de televisão e mais recursos financeiros - parte deles (R$ 1,2 milhão) do fundo partidário dos demos. Mesmo assim, a vitória no segundo turno foi apertada.
Já o prefeito de Itaocara, Gelsimar Gonzaga, não conseguiu a reeleição. Com apenas um vereador na Câmara Municipal, ele foi totalmente sabotado durante sua gestão - o que gerou atraso nos salários dos servidores, suspensão de obras e outros traumas no pequeno município do Rio de Janeiro. Em 2013, o ex-cortador de cana quase sofreu impeachment. Em fevereiro passado, ele foi afastado do cargo "por tentar impedir o funcionamento regular da Câmara". Para piorar, o Tribunal Regional Eleitoral vetou a sua candidatura devido a rejeição das contas de 2013 e 2014, aprovada no legislativo hostil. Apesar do golpe, ele manteve a campanha, mas seus votos foram contabilizados como "nulos". Caso fossem computados, eles também não garantiriam a vitória diante do candidato do PMDB, Manoel Faria.
Estes e outros episódios na curta existência do PSOL revelam que a vida não está fácil para as forças de esquerda e demonstram que posturas ufanistas e sectárias não resolvem os problemas. O momento exige mais sobriedade - e as tais sandálias da humildade - e menos bravatas, partidismos infantis ou apostas na divisão deste campo. Do contrário, toda a esquerda brasileira - e não apenas o PT - poderá ser dizimada - para alegria da mídia golpista e do seu dispositivo partidário.
Em entrevista à Folha - um jornal que ainda ilude muita gente com o seu falso ecletismo e que adora fazer intrigas contra as esquerdas -, o presidente nacional do PSOL, Luiz Araújo, afirmou de forma categórica: "Começamos a ocupar o espaço do PT". A declaração foi dada um dia antes do segundo turno das eleições municipais e o dirigente da sigla se encontrava na capital paraense, sua terra natal, para acompanhar a apertada disputa pela prefeitura. Na sequência, como todos sabem, a direita voltou a esbanjar força nas urnas e o PSOL infelizmente perdeu nas três cidades em que disputava o pleito - Belém, Rio de Janeiro e Sorocaba (SP). A legenda fez campanhas empolgantes, que mobilizaram os setores progressistas, mas não dá para concluir, de forma ufanista e até arrogante, que ela vai "ocupar o espaço do PT". A realidade não está fácil para nenhuma corrente de esquerda no país!
Um balanço mais frio, menos partidista e sectário, revela que o partido estagnou na comparação com as eleições municipais de 2012. Ele até teve mais visibilidade, mas não ampliou seu espaço no campo institucional - uma das prioridades da sigla. No pleito anterior, o PSOL elegeu dois prefeitos: um na capital do Amapá, Macapá, e outro na cidade de Itaocara, no interior do Rio do Janeiro. Desta vez, a sigla conquistou novamente duas prefeituras, mas nos pequenos municípios de Janduís e Jaçanã, no Rio Grande do Norte. Em 2012, o PSOL elegeu 49 vereadores; agora, elegeu 51. No computo geral da disputa para prefeito, a sigla teve 291.078 votos a menos do que nas eleições passadas. Com esses números, que revelam apenas o aspecto quantitativo do pleito, não dá para arrotar muita valentia!
Mas mesmo no Rio de Janeiro, a principal vitrine da sigla - dos seis deputados federais, três são deste Estado -, o resultado não permite triunfalismo. A campanha de Marcelo Freixo foi vibrante, mas não conseguiu conter a onda conservadora que corrói o país. No primeiro turno, inclusive, ele teve menos votos do que em 2012 - 18% contra 28%. Já no segundo, com o apoio de todas as forças de esquerda e uma campanha que agitou a sociedade carioca, Marcelo Freixo obteve 41% dos votos válidos, mas foi derrotado pelo fundamentalista Marcelo Crivella. Nem os petardos disparados pela Globo e Veja contra o bispo da Rede Record foram suficientes para evitar a derrota. O candidato do PSOL e das esquerdas perdeu em todas as regiões populares do Rio de Janeiro. O mapa da eleição é dramático!
Sandálias da humildade
A surra nas urnas em 2016 - que só agrava o cenário político derivado da consumação do "golpe dos corruptos" liderado por Michel Temer - indica que as forças de esquerda precisam vestir as sandálias da humildade. Visões sectárias e posturas fratricidas, que estimulam a cisão deste campo, não ajudam em nada neste quadro adverso. Afinal, todos os partidos de esquerda têm os seus problemas. O PSOL não está imune. Como uma frente partidária, que agrupa cerca de dez correntes organizadas no seu interior, ele vive em permanente tensão. Na semana passada, por exemplo, um comentário infeliz do deputado Jean Wyllys sobre a complexa situação da Venezuela atiçou as divergências na sigla. Nos temas nacionais, como na difícil questão das alianças, a unidade interna também é bem frágil.
Clécio Luis, prefeito reeleito do Macapá, deixou o PSOL e ingressou na Rede exatamente devido às divergências neste ponto. Para viabilizar seus projetos na Câmara Municipal, ele ampliou as alianças, atraindo vereadores da direita - o que gerou duras críticas da direção da sigla. Nas eleições deste ano, ele ingressou no partido da "pura" Marina Silva e construiu uma frente heterodoxa, cedendo o cargo de vice na chapa ao DEM, para vencer a disputa na capital do Amapá. A aliança garantiu mais tempo no horário "gratuito" de televisão e mais recursos financeiros - parte deles (R$ 1,2 milhão) do fundo partidário dos demos. Mesmo assim, a vitória no segundo turno foi apertada.
Já o prefeito de Itaocara, Gelsimar Gonzaga, não conseguiu a reeleição. Com apenas um vereador na Câmara Municipal, ele foi totalmente sabotado durante sua gestão - o que gerou atraso nos salários dos servidores, suspensão de obras e outros traumas no pequeno município do Rio de Janeiro. Em 2013, o ex-cortador de cana quase sofreu impeachment. Em fevereiro passado, ele foi afastado do cargo "por tentar impedir o funcionamento regular da Câmara". Para piorar, o Tribunal Regional Eleitoral vetou a sua candidatura devido a rejeição das contas de 2013 e 2014, aprovada no legislativo hostil. Apesar do golpe, ele manteve a campanha, mas seus votos foram contabilizados como "nulos". Caso fossem computados, eles também não garantiriam a vitória diante do candidato do PMDB, Manoel Faria.
Estes e outros episódios na curta existência do PSOL revelam que a vida não está fácil para as forças de esquerda e demonstram que posturas ufanistas e sectárias não resolvem os problemas. O momento exige mais sobriedade - e as tais sandálias da humildade - e menos bravatas, partidismos infantis ou apostas na divisão deste campo. Do contrário, toda a esquerda brasileira - e não apenas o PT - poderá ser dizimada - para alegria da mídia golpista e do seu dispositivo partidário.
muito bom o texto, como sempre... O "espaço" do PT foi tomado pela reação e a esquerda em seu conjunto, demonizada. Poucos têm compreendido o peso e a seriedade do revés desse golpe que avança cada vez mais para uma ditadura pura e simples. Os oportunismo (à esquerda e à direita) são mais nocivos ainda para nós. Ainda que tenham pouco membros, as organizações que padecem da doença infantil do esquerdismo auxiliam largamente a legitimação desse golpe. De outro lado, é necessário que os partidos maiores do campo da esquerda saibam rever práticas oportunistas, como pudemos perceber na coligação eleitoral com partidos da direita golpista em grandes e pequenas cidades do Brasil. É tempo de autocrítica e de reordenar a tática: nem o sectarismo que isola os agrupamentos da esquerda; nem essa versão tupiniquim de "eurocomunismo".
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