Por Altamiro Borges
Na “propaganda” que foi ao ar nesta segunda-feira (14) no “Roda Viva”, da TV Cultura, o Judas Michel Temer disse um bocado de platitudes. A amigável conversa reforçou a sensação de que os entrevistadores formaram uma bancada de puxa-sacos e de que o programa, que já teve um passado mais respeitável, é hoje uma patética “Roda Morta”. O chapa-branquismo foi tão descarado que o próprio usurpador agradeceu pela “propaganda”. Mas, apesar do vexame para o jornalismo nativo, a entrevista serviu ao menos de alerta para os assalariados que aguentaram a chatice. Em determinado momento, o usurpador empolado confirmou que “a reforma da Previdência já está formatada”!
O golpista garantiu que a proposta será enviada ao Congresso Nacional ainda neste ano, logo após a votação da PEC da Morte – que congela por 20 anos os gastos públicos na saúde, educação e em outras áreas sociais essenciais à população. Ele também informou que a proposta será radical, “para perdurar para sempre”, e disse que já prepara “um esclarecimento público por meio da televisão”. O Judas até confessou que será “difícil apoiar [a reforma], mas pelo menos você vai asfaltando o terreno”. Em síntese: a porrada será violenta, como exige a elite empresarial que orquestrou e financiou o “golpe dos corruptos”.
Ou seja: prepare o seu lombo! No caso dos que já estão aposentados, o boato é de que o governo cobrará uma contribuição extraordinária. Já para os que sonham com os dias de descanso, já é certo que o covil golpista proporá a ampliação da idade mínima – ainda não se sabe se para 65 ou 70 anos – e o aumento da contribuição previdenciária. Na entrevista, o Judas confirmou que a reforma vitimará os trabalhadores do setor público e privado, sem distinção. Parece que apenas os militares ficarão de fora da facada – afinal, não é bom provocar os quartéis. Quem ainda duvidava da maldade, o “Roda Morta” serviu para alguma coisa.
Em tempo: Sobre o vexame da entrevista, reproduzo o artigo de Paulo Nogueira, do imperdível blog Diário do Centro do Mundo:
*****
O âncora Willian Correa afundou o Roda Viva sem se dar conta
Por Paulo Nogueira – 15/11/2016
Involuntariamente, o jornalista Willian Correa, âncora do Jornal da Cultura, produziu um dos vídeos mais reveladores sobre o jornalismo brasileiro destes tempos. (Kiko Nogueira falou disso aqui.)
Ao longo de sete minutos, ele retratou a festa brega que se seguiu ao Roda Viva com Temer, gravado no Alvorada e que foi ao ar ontem.
Estavam ali Temer, é claro, autoridades da Cultura e as estrelas da noite — os jornalistas que compuseram a bancada, de Eliane Cantanhede a Sérgio Dávila, e por aí vai. Dávila diz uma frase de grande originalidade: o melhor detergente para a sociedade é a transparência. Não entendi a relação entre transparência e Roda Viva, mas deve ter sido um problema meu.
Eliane em seguida se aproxima da câmara e conta, em tom de segredo, que Temer está escrevendo um romance. “E ele é bom de romance”, sussurra. Eliane deve estar esperando ansiosamente seu exemplar gratuito do livro em construção.
Correa foi extremamente efusivo com os jornalistas — mas ninguém foi tão louvado por ele como ele próprio. Sempre que falou na força da bancada, ele fez questão de se referir a si próprio entre os titãs. “Grandes figuras perguntando, uma grande figura respondendo”: cita alguns e, sem nenhuma cerimônia, se coloca entre as “grandes figuras perguntando”.
O vídeo vale pelos detalhes. Merece ser visto uma, duas, várias vezes para que você não os perca.
O melhor deles foi um em que Correa pega pelo braço Temer. E diz que queria mostrar que Temer é gente como a gente. Deus, ele parecia estar falando de Churchill, ou de Gaulle, ou de Getúlio Vargas, e não de um presidente extremamente impopular.
A melhor maneira de Temer mostrar que é gente como é gente não é pelas mãos de Correa. É apresentando-se ao povo, em vez de fugir como tem feito até agora.
O melhor estava por vir. Temer agradece por mais essa “propaganda”. Pro-pa-gan-da. O Roda Viva foi chamado de propaganda.
Não poderia haver descrição melhor do que esta, mas daí a admitir é uma longa jornada. Temer não parece ter noção do que seja jornalismo e do que seja propaganda, e com certeza os jornalistas presentes não o ajudaram entender a diferença.
Temer ri, sem se dar conta do disparate — e do insulto aos entrevistadores. Correa segue-o na risada solta e tola, também alheio, aparentemente, à força destrutiva da palavra “propaganda”.
O fecho da cena é um primor. Alguém não identificado, ao lado de Temer, dá uma gargalhada gutural, que deve ter sido ouvida por toda Brasília.
É a célebre risada ao adulador. Ele gargalha como se Temer fosse Mr Bean num grande momento de humor. Você reconhece este tipo de reação em vários ambientes. No mundo corporativo, é um clássico. As pessoas riem de qualquer coisa que o presidente diga — mesmo quando não se trata de piada. Na dúvida, riem.
É um mundo à parte aquele. O presidente da Cultura, Marcos Mendonça, elogia a entrevista. “Toda a mídia” estava ali representada.
Toda?
E a mídia de esquerda, com seus milhões de leitores?
Mas até entendo. Você não pode esperar que a combativa mídia de esquerda compareça a um programa para fazer propaganda de Temer.
Um internauta definiu tudo num comentário ao final do vídeo. “A que ponto chegou o nosso jornalismo …”
Pois é.
Na “propaganda” que foi ao ar nesta segunda-feira (14) no “Roda Viva”, da TV Cultura, o Judas Michel Temer disse um bocado de platitudes. A amigável conversa reforçou a sensação de que os entrevistadores formaram uma bancada de puxa-sacos e de que o programa, que já teve um passado mais respeitável, é hoje uma patética “Roda Morta”. O chapa-branquismo foi tão descarado que o próprio usurpador agradeceu pela “propaganda”. Mas, apesar do vexame para o jornalismo nativo, a entrevista serviu ao menos de alerta para os assalariados que aguentaram a chatice. Em determinado momento, o usurpador empolado confirmou que “a reforma da Previdência já está formatada”!
O golpista garantiu que a proposta será enviada ao Congresso Nacional ainda neste ano, logo após a votação da PEC da Morte – que congela por 20 anos os gastos públicos na saúde, educação e em outras áreas sociais essenciais à população. Ele também informou que a proposta será radical, “para perdurar para sempre”, e disse que já prepara “um esclarecimento público por meio da televisão”. O Judas até confessou que será “difícil apoiar [a reforma], mas pelo menos você vai asfaltando o terreno”. Em síntese: a porrada será violenta, como exige a elite empresarial que orquestrou e financiou o “golpe dos corruptos”.
Ou seja: prepare o seu lombo! No caso dos que já estão aposentados, o boato é de que o governo cobrará uma contribuição extraordinária. Já para os que sonham com os dias de descanso, já é certo que o covil golpista proporá a ampliação da idade mínima – ainda não se sabe se para 65 ou 70 anos – e o aumento da contribuição previdenciária. Na entrevista, o Judas confirmou que a reforma vitimará os trabalhadores do setor público e privado, sem distinção. Parece que apenas os militares ficarão de fora da facada – afinal, não é bom provocar os quartéis. Quem ainda duvidava da maldade, o “Roda Morta” serviu para alguma coisa.
Em tempo: Sobre o vexame da entrevista, reproduzo o artigo de Paulo Nogueira, do imperdível blog Diário do Centro do Mundo:
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O âncora Willian Correa afundou o Roda Viva sem se dar conta
Por Paulo Nogueira – 15/11/2016
Involuntariamente, o jornalista Willian Correa, âncora do Jornal da Cultura, produziu um dos vídeos mais reveladores sobre o jornalismo brasileiro destes tempos. (Kiko Nogueira falou disso aqui.)
Ao longo de sete minutos, ele retratou a festa brega que se seguiu ao Roda Viva com Temer, gravado no Alvorada e que foi ao ar ontem.
Estavam ali Temer, é claro, autoridades da Cultura e as estrelas da noite — os jornalistas que compuseram a bancada, de Eliane Cantanhede a Sérgio Dávila, e por aí vai. Dávila diz uma frase de grande originalidade: o melhor detergente para a sociedade é a transparência. Não entendi a relação entre transparência e Roda Viva, mas deve ter sido um problema meu.
Eliane em seguida se aproxima da câmara e conta, em tom de segredo, que Temer está escrevendo um romance. “E ele é bom de romance”, sussurra. Eliane deve estar esperando ansiosamente seu exemplar gratuito do livro em construção.
Correa foi extremamente efusivo com os jornalistas — mas ninguém foi tão louvado por ele como ele próprio. Sempre que falou na força da bancada, ele fez questão de se referir a si próprio entre os titãs. “Grandes figuras perguntando, uma grande figura respondendo”: cita alguns e, sem nenhuma cerimônia, se coloca entre as “grandes figuras perguntando”.
O vídeo vale pelos detalhes. Merece ser visto uma, duas, várias vezes para que você não os perca.
O melhor deles foi um em que Correa pega pelo braço Temer. E diz que queria mostrar que Temer é gente como a gente. Deus, ele parecia estar falando de Churchill, ou de Gaulle, ou de Getúlio Vargas, e não de um presidente extremamente impopular.
A melhor maneira de Temer mostrar que é gente como é gente não é pelas mãos de Correa. É apresentando-se ao povo, em vez de fugir como tem feito até agora.
O melhor estava por vir. Temer agradece por mais essa “propaganda”. Pro-pa-gan-da. O Roda Viva foi chamado de propaganda.
Não poderia haver descrição melhor do que esta, mas daí a admitir é uma longa jornada. Temer não parece ter noção do que seja jornalismo e do que seja propaganda, e com certeza os jornalistas presentes não o ajudaram entender a diferença.
Temer ri, sem se dar conta do disparate — e do insulto aos entrevistadores. Correa segue-o na risada solta e tola, também alheio, aparentemente, à força destrutiva da palavra “propaganda”.
O fecho da cena é um primor. Alguém não identificado, ao lado de Temer, dá uma gargalhada gutural, que deve ter sido ouvida por toda Brasília.
É a célebre risada ao adulador. Ele gargalha como se Temer fosse Mr Bean num grande momento de humor. Você reconhece este tipo de reação em vários ambientes. No mundo corporativo, é um clássico. As pessoas riem de qualquer coisa que o presidente diga — mesmo quando não se trata de piada. Na dúvida, riem.
É um mundo à parte aquele. O presidente da Cultura, Marcos Mendonça, elogia a entrevista. “Toda a mídia” estava ali representada.
Toda?
E a mídia de esquerda, com seus milhões de leitores?
Mas até entendo. Você não pode esperar que a combativa mídia de esquerda compareça a um programa para fazer propaganda de Temer.
Um internauta definiu tudo num comentário ao final do vídeo. “A que ponto chegou o nosso jornalismo …”
Pois é.
Jornalismo escroto. Um programa de mau gosto. Ao final a pérola "obrigado por essa propaganda".
ResponderExcluirDeve ser problema de Al. Alzeihmer. Essa nem.os coxinhas aguentaram.