Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Se não levássemos em conta os retrocessos institucionais que o golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff já acarreta, não seria de todo mau os brasileiros estarem tendo a oportunidade de experimentar o que é ser governado pela direita, sobretudo por uma direita tosca como a que congrega PSDB e PMDB.
O golpe se abateu sobre o Brasil em um momento em que muitos, à esquerda, já não valorizavam as conquistas sociais da era petista, atribuíam a si mesmos a melhora de vida que tiveram só a partir de 2003 e, loucura das loucuras, afirmavam que PT e PSDB seriam “a mesma coisa”.
O golpe, como era previsto, além de não melhorar a economia – já que a crise política continua, apesar de, com Temer, o Congresso ter parado de sabotar o governo federal – ainda trouxe uma avalanche de projetos de medidas antipopulares que prometem piorar a vida do brasileiro – hoje e pelas próximas gerações.
Até antes das eleições, muitos não acreditavam em uma reforma draconiana da Previdência, em terceirização descontrolada do mercado de trabalho e, pior do que tudo, em uma reforma trabalhista que permitisse aos empresários contratar funcionários sem pagar direitos trabalhistas como férias, 13º salário, fundo de garantia etc.
Como se não bastasse, o golpe ainda gerou uma proposta de mudança da Constituição de um teor destrutivo tão grande que fez com que a Organização das Nações Unidas se manifestasse.
Na semana que finda, o relator especial da ONU sobre a extrema pobreza e os direitos humanos, Philip Alston, advertiu que os planos do governo do Brasil de limitar durante 20 anos os gastos sociais “são totalmente incompatíveis” com as obrigações do país em relação aos direitos humanos.
Como se sabe, o Senado deve votar em 13 de dezembro uma emenda à Constituição, conhecida como PEC 55, que limitaria durante 20 anos o crescimento da despesa federal com relação à taxa de inflação do ano anterior.
“O principal e inevitável efeito desta proposta de emenda à Constituição (…) prejudicará os pobres durante décadas”, afirmou Alston em comunicado.
“Se for adotada, esta emenda bloqueará despesas em níveis inadequados e rapidamente decrescentes em saúde, educação e seguridade social e colocará em risco uma geração inteira de receber uma proteção social abaixo dos padrões atuais”, advertiu.
Na opinião do relator especial, “é completamente inadequado congelar só a despesa social e atar os mãos de todos os futuros governos durante outras duas décadas”.
Nesse sentido, o relator da ONU sustentou que, se a emenda for aprovada, o Brasil entrará em um “retrocesso social”.
Não foi o PT que disse isso, foi a ONU, através da pessoa indicada pela organização para fiscalizar as políticas públicas relativas à pobreza e aos direitos humanos. A direita brasileira, claro, dirá que a ONU é “comunista”, apesar de ser controlada pelas maiores potencias capitalistas do planeta.
O mundo está boquiaberto com o que está acontecendo no Brasil, país que, com anuência de grande parcela do seu povo, tirou um governo voltado para a dramática questão social do país para colocar, no lugar, fanáticos de ultradireita que se mostram dispostos a promover um genocídio social.
Em resumo, o que ocorreu no Brasil é que tiraram a parte boa do governo Dilma (ou seja, ela própria e o PT) e deixaram a parte ruim, que logo se aliou ao PSDB, outra excrescência ultraconservadora conhecida pela insensibilidade social.
É por essas e por outras que a comunidade internacional já vê o processo político no Brasil como uma ameaça. Um sólido indício desse fenômeno foi justamente um órgão de imprensa internacional famoso pelo seu conservadorismo decidir premiar duas mulheres derrotadas pela ultradireita em seus respectivos países.
A escolha de Dilma Rousseff e Hillary Clinton como “mulheres do ano” pelo jornal britânico Financial Times sinaliza preocupação da comunidade internacional com os governos que estão ascendendo em dois dos maiores países do mundo, Brasil e Estados Unidos.
A ascensão de Donald Trump nos EUA e do consórcio tucano-peemedebista no Brasil deve acirrar problemas sociais nas Américas e, muito provavelmente, desencadear novas aventuras militares dos norte-americanos.
O mundo vê com preocupação a ascensão fascista nas Américas.
É nesse contexto que o drama brasileiro chega a uma nova etapa, a etapa em que começa a cair a ficha de boa parte dos brasileiros que aderiram ao golpe ou que ao menos condescenderam com ele.
Um bom indício disso é a súbita mudança de atitude da grande imprensa conservadora. Prevendo o que vem por aí, Globos, Folhas, Vejas e Estadões já se preparam para descartar Temer, o PMDB e até o PSDB, como forma de “salvar a cara” diante da comunidade internacional, para a qual já não há mais dúvida de que o Brasil sofreu um golpe de Estado.
Nas últimas semanas, ocorreu o impensável. Tanto o Jornal Nacional quanto a revista Veja atacaram os políticos mais importantes do PSDB.
Aliás, quando a Folha de São Paulo, em 28 de outubro, publicou manchete de primeira página acusando Serra de corrupção, o Jornal Nacional escondeu. Na noite da última sexta-feira (9/12), o telejornal deu a notícia sobre Serra que ocultou em outubro e ainda a denúncia do mesmo jornal, no mesmo dia, contra Alckmin.
O que significa isso? Por que, do nada, o JN e a Veja, que jamais noticiaram nada contra Serra e Alckmin, mudaram tão radicalmente de atitude?
Alguns dirão que a má fama que a grande mídia brasileira está construindo mundo afora, após o golpe, a está obrigando a mudar de atitude. Porém, convenhamos: quem, nesse mesmo mundo afora, não sabe que Globo, Folha, Estadão etc. apoiaram a ditadura militar?
Ora, a imagem internacional da imprensa golpista brasileira nunca foi boa. Por que ela haveria de se preocupar, agora, com isso?
Nas sondagens que o Blog vem fazendo, o consenso é o de que Temer só será mantido no poder até tomar as medidas impopulares que a direita golpista, que congrega megaempresários, grupos de mídia e políticos querem – reformas da Previdência, Trabalhista e do teto de gastos (sociais) do governo.
Feito o serviço sujo, ele não teria mesmo mais como governar. Haverá uma convulsão social que, no plano dos golpistas, só será contida derrubando Temer e colocando um “nome de consenso” no lugar.
O consórcio golpista tem três nomes na manga, na ordem de preferência em que são apresentados:
1 – Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente e xodó da mídia desde sempre
2 – Cármen Lúcia, presidente do STF e quarta na linha sucessória
3 – Nelson Jobim, que foi ministro de FHC e de Lula e ministro do STF
Uma observação: Carmén Lúcia ser a 4ª na linha sucessória não tem a menor importância nesse caso, porque se Temer cair após 31 de dezembro próximo a lei impõe que o presidente substituto seja escolhido via eleição indireta, pelo Congresso Nacional.
Aí, então, vem a bomba: poucos analistas bem informados acreditam (1) que Temer chegue a 2018 e (2) que haja eleição presidencial em 2018.
Nos últimos dias, este blogueiro conversou com grande parte dos blogueiros e jornalistas de esquerda mais influentes e uma infinidade de outros analistas políticos. Praticamente ninguém acredita que, com a desmoralização da direita que vem por aí, esta vai se arriscar a disputar a eleição daqui a quase dois anos.
As reformas da Previdência e trabalhista e o teto de gastos do governo farão cair a ficha dos brasileiros. Até na classe média alta haverá uma grande parcela de frustrados pelo golpe. Sim, os paneleiros não vão gostar do que vem por aí.
2018, portanto, encerra duas possibilidades preocupantes para a direita golpista-midiática.
A principal preocupação da direita é a eleição de um político de esquerda, porque um governo de esquerda, após tudo que ocorreu no Brasil, não iria ser “paz e amor” como os governos Lula e Dilma. Iria para as cabeças já desde o início, para cima dos golpistas.
Uma preocupação menor, mas ainda assim uma preocupação, seria a eleição de um psicopata como Jair Bolsonaro, que poderia jogar um Brasil em uma rota imprevisível e até em uma nova ditadura militar.
Aliás, o teto de gastos do governo e as reformas trabalhista e da Previdência também podem fazer os militares saírem da toca. É grande a possibilidade de essas medidas, aliadas à queda livre da economia – que não vai parar enquanto prosseguir a crise política –, acarretarem uma convulsão social de proporções inéditas e assustadoras.
Aí os militares interviriam. Sem a menor sombra de dúvida.
O mais interessante em tudo isso é que praticamente ninguém ganha nesse jogo de soma zero. O Brasil vai se tornando uma incógnita tão obscura que, nessa toada, uma fuga de capitais é até lógica.
Aonde tudo isso vai parar? A depender do ânimo de grande parte da militância golpista, não vai parar, vai piorar. Já os protagonistas do golpe, não se sabe o que pensam.
A postura da mídia de parar de proteger os tucanos poderia indicar desejo de se afastar do golpe e voltar para seu papel institucional, mas chega a ser ingênuo supor isso. O mais provável é que a direita-midiática ainda tenha planos para transformar o Brasil em uma grande Senzala, com uma Casa Grande habitada por muito poucos.
Oremos – ou torçamos.
Se não levássemos em conta os retrocessos institucionais que o golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff já acarreta, não seria de todo mau os brasileiros estarem tendo a oportunidade de experimentar o que é ser governado pela direita, sobretudo por uma direita tosca como a que congrega PSDB e PMDB.
O golpe se abateu sobre o Brasil em um momento em que muitos, à esquerda, já não valorizavam as conquistas sociais da era petista, atribuíam a si mesmos a melhora de vida que tiveram só a partir de 2003 e, loucura das loucuras, afirmavam que PT e PSDB seriam “a mesma coisa”.
O golpe, como era previsto, além de não melhorar a economia – já que a crise política continua, apesar de, com Temer, o Congresso ter parado de sabotar o governo federal – ainda trouxe uma avalanche de projetos de medidas antipopulares que prometem piorar a vida do brasileiro – hoje e pelas próximas gerações.
Até antes das eleições, muitos não acreditavam em uma reforma draconiana da Previdência, em terceirização descontrolada do mercado de trabalho e, pior do que tudo, em uma reforma trabalhista que permitisse aos empresários contratar funcionários sem pagar direitos trabalhistas como férias, 13º salário, fundo de garantia etc.
Como se não bastasse, o golpe ainda gerou uma proposta de mudança da Constituição de um teor destrutivo tão grande que fez com que a Organização das Nações Unidas se manifestasse.
Na semana que finda, o relator especial da ONU sobre a extrema pobreza e os direitos humanos, Philip Alston, advertiu que os planos do governo do Brasil de limitar durante 20 anos os gastos sociais “são totalmente incompatíveis” com as obrigações do país em relação aos direitos humanos.
Como se sabe, o Senado deve votar em 13 de dezembro uma emenda à Constituição, conhecida como PEC 55, que limitaria durante 20 anos o crescimento da despesa federal com relação à taxa de inflação do ano anterior.
“O principal e inevitável efeito desta proposta de emenda à Constituição (…) prejudicará os pobres durante décadas”, afirmou Alston em comunicado.
“Se for adotada, esta emenda bloqueará despesas em níveis inadequados e rapidamente decrescentes em saúde, educação e seguridade social e colocará em risco uma geração inteira de receber uma proteção social abaixo dos padrões atuais”, advertiu.
Na opinião do relator especial, “é completamente inadequado congelar só a despesa social e atar os mãos de todos os futuros governos durante outras duas décadas”.
Nesse sentido, o relator da ONU sustentou que, se a emenda for aprovada, o Brasil entrará em um “retrocesso social”.
Não foi o PT que disse isso, foi a ONU, através da pessoa indicada pela organização para fiscalizar as políticas públicas relativas à pobreza e aos direitos humanos. A direita brasileira, claro, dirá que a ONU é “comunista”, apesar de ser controlada pelas maiores potencias capitalistas do planeta.
O mundo está boquiaberto com o que está acontecendo no Brasil, país que, com anuência de grande parcela do seu povo, tirou um governo voltado para a dramática questão social do país para colocar, no lugar, fanáticos de ultradireita que se mostram dispostos a promover um genocídio social.
Em resumo, o que ocorreu no Brasil é que tiraram a parte boa do governo Dilma (ou seja, ela própria e o PT) e deixaram a parte ruim, que logo se aliou ao PSDB, outra excrescência ultraconservadora conhecida pela insensibilidade social.
É por essas e por outras que a comunidade internacional já vê o processo político no Brasil como uma ameaça. Um sólido indício desse fenômeno foi justamente um órgão de imprensa internacional famoso pelo seu conservadorismo decidir premiar duas mulheres derrotadas pela ultradireita em seus respectivos países.
A escolha de Dilma Rousseff e Hillary Clinton como “mulheres do ano” pelo jornal britânico Financial Times sinaliza preocupação da comunidade internacional com os governos que estão ascendendo em dois dos maiores países do mundo, Brasil e Estados Unidos.
A ascensão de Donald Trump nos EUA e do consórcio tucano-peemedebista no Brasil deve acirrar problemas sociais nas Américas e, muito provavelmente, desencadear novas aventuras militares dos norte-americanos.
O mundo vê com preocupação a ascensão fascista nas Américas.
É nesse contexto que o drama brasileiro chega a uma nova etapa, a etapa em que começa a cair a ficha de boa parte dos brasileiros que aderiram ao golpe ou que ao menos condescenderam com ele.
Um bom indício disso é a súbita mudança de atitude da grande imprensa conservadora. Prevendo o que vem por aí, Globos, Folhas, Vejas e Estadões já se preparam para descartar Temer, o PMDB e até o PSDB, como forma de “salvar a cara” diante da comunidade internacional, para a qual já não há mais dúvida de que o Brasil sofreu um golpe de Estado.
Nas últimas semanas, ocorreu o impensável. Tanto o Jornal Nacional quanto a revista Veja atacaram os políticos mais importantes do PSDB.
Provavelmente foi a primeira vez no século XXI que o Jornal Nacional e a Veja divulgaram acusações contra Geraldo Alckmin e José Serra.
Aliás, quando a Folha de São Paulo, em 28 de outubro, publicou manchete de primeira página acusando Serra de corrupção, o Jornal Nacional escondeu. Na noite da última sexta-feira (9/12), o telejornal deu a notícia sobre Serra que ocultou em outubro e ainda a denúncia do mesmo jornal, no mesmo dia, contra Alckmin.
O que significa isso? Por que, do nada, o JN e a Veja, que jamais noticiaram nada contra Serra e Alckmin, mudaram tão radicalmente de atitude?
Alguns dirão que a má fama que a grande mídia brasileira está construindo mundo afora, após o golpe, a está obrigando a mudar de atitude. Porém, convenhamos: quem, nesse mesmo mundo afora, não sabe que Globo, Folha, Estadão etc. apoiaram a ditadura militar?
Ora, a imagem internacional da imprensa golpista brasileira nunca foi boa. Por que ela haveria de se preocupar, agora, com isso?
Nas sondagens que o Blog vem fazendo, o consenso é o de que Temer só será mantido no poder até tomar as medidas impopulares que a direita golpista, que congrega megaempresários, grupos de mídia e políticos querem – reformas da Previdência, Trabalhista e do teto de gastos (sociais) do governo.
Feito o serviço sujo, ele não teria mesmo mais como governar. Haverá uma convulsão social que, no plano dos golpistas, só será contida derrubando Temer e colocando um “nome de consenso” no lugar.
O consórcio golpista tem três nomes na manga, na ordem de preferência em que são apresentados:
1 – Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente e xodó da mídia desde sempre
2 – Cármen Lúcia, presidente do STF e quarta na linha sucessória
3 – Nelson Jobim, que foi ministro de FHC e de Lula e ministro do STF
Uma observação: Carmén Lúcia ser a 4ª na linha sucessória não tem a menor importância nesse caso, porque se Temer cair após 31 de dezembro próximo a lei impõe que o presidente substituto seja escolhido via eleição indireta, pelo Congresso Nacional.
Aí, então, vem a bomba: poucos analistas bem informados acreditam (1) que Temer chegue a 2018 e (2) que haja eleição presidencial em 2018.
Nos últimos dias, este blogueiro conversou com grande parte dos blogueiros e jornalistas de esquerda mais influentes e uma infinidade de outros analistas políticos. Praticamente ninguém acredita que, com a desmoralização da direita que vem por aí, esta vai se arriscar a disputar a eleição daqui a quase dois anos.
As reformas da Previdência e trabalhista e o teto de gastos do governo farão cair a ficha dos brasileiros. Até na classe média alta haverá uma grande parcela de frustrados pelo golpe. Sim, os paneleiros não vão gostar do que vem por aí.
2018, portanto, encerra duas possibilidades preocupantes para a direita golpista-midiática.
A principal preocupação da direita é a eleição de um político de esquerda, porque um governo de esquerda, após tudo que ocorreu no Brasil, não iria ser “paz e amor” como os governos Lula e Dilma. Iria para as cabeças já desde o início, para cima dos golpistas.
Uma preocupação menor, mas ainda assim uma preocupação, seria a eleição de um psicopata como Jair Bolsonaro, que poderia jogar um Brasil em uma rota imprevisível e até em uma nova ditadura militar.
Aliás, o teto de gastos do governo e as reformas trabalhista e da Previdência também podem fazer os militares saírem da toca. É grande a possibilidade de essas medidas, aliadas à queda livre da economia – que não vai parar enquanto prosseguir a crise política –, acarretarem uma convulsão social de proporções inéditas e assustadoras.
Aí os militares interviriam. Sem a menor sombra de dúvida.
O mais interessante em tudo isso é que praticamente ninguém ganha nesse jogo de soma zero. O Brasil vai se tornando uma incógnita tão obscura que, nessa toada, uma fuga de capitais é até lógica.
Aonde tudo isso vai parar? A depender do ânimo de grande parte da militância golpista, não vai parar, vai piorar. Já os protagonistas do golpe, não se sabe o que pensam.
A postura da mídia de parar de proteger os tucanos poderia indicar desejo de se afastar do golpe e voltar para seu papel institucional, mas chega a ser ingênuo supor isso. O mais provável é que a direita-midiática ainda tenha planos para transformar o Brasil em uma grande Senzala, com uma Casa Grande habitada por muito poucos.
Oremos – ou torçamos.
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